quinta-feira, fevereiro 05, 2009

"A vida privada de Salazar"

Salazar - o "santo", o "casto"

A SIC, no próximo domingo e segunda-feira, vai pôr a nu a vida secreta de Salazar. Amorosa, entenda-se! Refira-se, o oposto absoluto do pudor, isolamento e austeridade da vida pública, num filme de Jorge Queiroga, mini-série televisiva com um elenco de actores como, por exemplo, Diogo Morgado (Salazar), Soraia Chaves, Cláudia Vieira e Ana Padrão.
Não é pecado trazer a público a intimidade do ditador, que governou o país com mão de ferro durante 40 anos, num canal generalista de televisão. Bem pelo contrário, é um acto de esclarecimento público. Salazar não é uma pessoa qualquer. A ideia que o regime passava para o imaginário dos portugueses era a de um Salazar celibatário, de entrega total a Deus e à Pátria, a de um monge (patético), virgem, casto. Qual sacerdote a cuidar do seu rebanho!
Na altura, Portugal era um Estado religioso (católico); tamanho paternalismo assentava muito bem na então medievalidade do país, principalmente junto das populações do interior, as menos escolarizadas. As forças sociais e ideológicas em que assentava o Estado Novo – como, por exemplo, a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa – prestavam-se a esse "maravilhoso" trabalho de base. É claro que a castidade (falsa) de Salazar não era afirmada em voz alta, mas os apoiantes mais voluntariosos e ingénuos do regime faziam uso e bandeira da "pureza" do ditador, e até diziam que o homem era santo. A moral e os bons costumes instituídios! Enfim, a hipocrisia levada ao extremo.
Instituir uma religião ou uma ideologia política como algo total na vida das pessoas de um país é procurar o embuste e o ridículo. O paternalismo político é o alcance directo dos ditadores.
De resto, mantenham-se castos e celibatários os que escolheram esse caminho. Mas em liberdade total! Merecem o respeito de todos os outros, os que não são.
Eis um vídeo alusivo: