segunda-feira, fevereiro 02, 2009

P.e Mário de Oliveira condena "negócio altamente rentável" das IPPSs dependentes do clero católico

P.e Mário de Oliveira

São mais de 2.500 as IPSSs /Instituições Particulares de Solidariedade Social que integram a CNIS /Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade. Este fim de semana estiveram reunidas em Congresso, em Fátima, embora a maior parte não se tivesse feito representar, pelo menos, não tenha estado presente para votar as decisões assumidas. Os votantes não chegaram a 600. Dois padres católicos disputaram a presidência da Confederação. Venceu a lista presidida pelo Pe. Lino Maia, pároco de Aldoar, na cidade do Porto, que assim junta mais um mandato aos sucessivos mandatos anteriores. O Pe. Carlos Barbosa, seu opositor, terá de esperar pelo menos mais três anos pela sua oportunidade. O facto revela que, até nestas áreas da suposta Solidariedade Social, há luta pelo Poder e que as chamadas IPSSs do país são esmagadoramente controladas pelo clero católico. Revela igualmente que não são tanto assim como se diz e elas próprias nos querem fazer crer, instituições sem fins lucrativos. Há lucros e muitos. Nem todos de ordem material, mas também. São um negócio altamente rentável, ao mesmo tempo que múltiplos tabuleiros de tráfico de influências que ninguém, nem mesmo a maior parte das pessoas leigas que lá trabalha, imagina. A capa /o manto da "caridade" e da "solidariedade" serve para esconder muita coisa inominável, até lavagem de dinheiro sujo. Não me cabe provar nada, nem investigar em concreto. Cabe-me deixar o alerta, para que quem de direito e de dever perca a ingenuidade e a inocência a passe a andar vigilante. Quando as coisas têm as marcas de Jesus, o de Nazaré, são sempre, fecunda e intrinsecamente, libertadoras e promotoras de autonomias e de maioridades humanas. Quando, pelo contrário, têm as marcas eclesiásticas, são fonte de dependência e de negócios sujos, de infantilismos abomináveis. Deus tem as costas largas e serve para esconder muito de inominável. Se dúvidas houvesse, este Congresso, acabado de realizar em Fátima, aí estaria para as tirar. Dois padres católicos disputam a presidência da Confederação. Nenhuma leiga, nenhum leigo. A Sociedade civil nem se atreveu a apresentar uma lista sua, sem qualquer clérigo católico à cabeça. Confirma-se, assim, que, em 2009, século XXI, as IPSSs continuam ainda a ser, em grande parte, um feudo da Igreja católica, controlado pela respectiva hierarquia. O que não é de modo algum saudável. Cria dependências, mais do que muitas e de todo o tipo, já que a instituição particular de solidariedade social, no âmbito da paróquia ou da diocese católicas, é assim como um prolongamento do templo e do altar paroquiais, em cujos Lares e Centros de dia, por exemplo, podem faltar actividades de animação cultural e até de animação corporal para as pessoas lá internadas ou que os frequentam de segunda a sexta feiras, mas o que não pode faltar é a reza do terço e da missa. Uma iniciativa que, na prática, perfaz uma desumanidade que ninguém denuncia, porque nem sequer chega a achar que o é. Ora, a reza do terço e da missa não só não ajuda nada a manter a qualidade de vida das pessoas de idade, como contribue para as anestesiar ainda mais e acaba por levá-las a mergulhar num contínuo e progressivo estado de tristeza e de depressão, que mais não é do que uma espécie de eutanásia camuflada de religiosidade que apressa a chegada da morte e do funeral. E ninguém protesta, nem os respectivos familiares que as colocaram lá. Chega, até, a dar a sensação de que os familiares o que mais desejam é ver-se definitivamente livres das pessoas que colocaram lá, para mais depressa se poderem apoderar da herança que elas, porventura, tenham para deixar. Por sua vez, o Estado que financia as IPSSs - e não é tão pouco assim - também não se mostra seriamente empenhado na qualidade de vida das pessoas que nelas vivem, porque, se elas morrerem antes de tempo, fruto de um certo abandono do Essencial, são menos despesas no final do mês e do ano. A chamada "civilização ocidental" tem destas crueldades e destes sadismos. Cria serviços e mais serviços, cria instituições e mais instituições de bem-fazer, mas não dá um passo a sério na promoção entre as populações da Cultura Maiêutica, Libertadora e promotora de Liberdades /Autonomias /Sujeitos /Protagonistas. Com o bem-fazer "mata" as pessoas, fomenta a apatia e a paralisia, desmobiliza quem mais haveria que ser mobilizado. Passa, deepois, por benfeitor, mas é assassino. Sei do que falo. E por isso denuncio. Quem tiver ouvidos para ouvir, que oiça, olhos para ver, que veja. Há por aí cumplicidades em cadeia, nestas áreas das IPSSs, de modo que as pessoas nunca cheguem a ser sujeitos, apenas objectos de caridadezinha, de assistencialismo, de bem-fazer. E, hoje, estas cumplicidades é o que estão a dar. A Sociedade Civil, em vez de se indignar, é, inclusive, o que mais reclama do Executivo do país, como se essa fosse a solução para os magnos problemas sociais, quando tudo não passa de meros paliativos, por isso, fonte de mais e mais problemas. A teia de cumplicidades está aí hoje bem à vista, mas nós preferimos não ver. Ou acham que foi mero acaso, ou mera coincidência que o presidente da República, acompanhado da sua mulher, tenha ido presidir à sessão de abertura do Congresso da CNIS e fazer o discurso que fez naquela circunstância contra a nova Lei do Divórcio que ele próprio promulgou em Diário da República? O Cavaco da nossa Mediocridade sabia que tinha pela frente uma plateia que ovacionaria as suas palavras, porque, se dependesse dessa plateia instrumentalizada pelo clero católico, ainda hoje estaríamos na Idade Média e não haveria o pouco de Sociedade Civil que já há. Haveria apenas o Reino da Cristandade. Fossem outras as pessoas, que não as das IPSSs e da sua CNIS, e o Cavaco da nossa Mediocridade, ou nem passava por lá, ou dissertaria sobre outros assuntos, que não esse da nova Lei do Divórcio por ele promulgada. Vejam o desplante da Mediocridade presidencial e a sua Hipocrisia. Fez as coisas, publicou a Lei, e agora tenta lavar as mãos como Pilatos!... Entretanto, quem está à frente dos destinos da CNIS sabe que as suas mais de 2.500 IPSSs espalhadas pelo país, se precisam de estar de bem com o Cavaco da nossa Mediocridade, também precisam de estar de bem com o Governo de Sócrates da nossa Vergonha. E, por isso, para a respectiva sessão de encerramento, convidou o ministro do Trabalho e da Segurança Social. Vieira da Silva não se fez rogado e lá se deslocou a Fátima e ao Centro de Pastoral Paulo VI, onde decorreu o Congresso. Levou com ele as duas mãos cheias, uma de Nada, e a outra de Coisa Nenhuma. Também ele sabe bem que as IPSSs e a sua Confederação são terreno fértil para sessões assim, vazias do Essencial, porque, nesses ambientes de bem-fazer, de Religiosidade, de Sacristia e de Morte Lenta, não se fala nem se pode falar de Justiça e de Dignidade Humana. E até as Reivindicações que, porventura, se façam vão todas na linha da Caridadezinha, porque essa é a única linguagem de quem tem as marcas eclesiásticas, das missas e dos terços, não as Marcas de Jesus, o Crucificado que Ressuscitou, porque nunca foi pela Caridadezinha, muito menos pela teia de Cumplicidades, menos ainda pela via da lavagem de dinheiro sujo, mas sempre e só pelas Práticas Políticas Maiêuticas e pelos Duelos Teológicos contra os que estão à frente das instituições oficiais, só para roubar, matar e destruir, ainda que o façam sob o manto da Caridadezinha e do Bem-fazer, da reza de terços e de missas.

Fonte: DIÁRIO ABERTO