quarta-feira, julho 18, 2007

Editorial: Ser e fazer Oposição em Felgueiras


O Diário de Felgueiras sente-se motivado para fazer um breve comentário sobre o estudo de opinião efectuado pela GBN, que, como já dissemos, retira a maioria política ao movimento “Sempre Presente” (SP) e coloca as três principais formações – SP, PS e PSD – num mesmo patamar, ou seja, num empate técnico – entre os 28 e 29% cada uma –, com margem de possível erro na ordem dos 4,4%, o que, face a este cenário, dificilmente poderá dizer-se qual a formação política que ficaria a governar a Câmara se se realizassem hoje eleições em Felgueiras. Um dado que não é novidade para ninguém é o de que 70% dos votos do SP se transfeririam para o PS caso Fátima Felgueiras abandonasse a política.

Reconheça-se, com toda a imparcialidade que nos é exigida, que os resultados da dita sondagem são muito positivos para o PS e vêm premiar a política de distanciamento da actual Concelhia em relação à maioria SP, não obstante estarmos a meio do mandato autárquico e as intenções de voto poderem alterar-se daqui a dois anos, altura das próximas eleições.

De facto, como dissemos há um ano, quando Fátima Felgueiras venceu as autárquicas de 2005 pensava-se que o PS local iria desaparecer, dada a promiscuidade política reinante entre os militantes socialistas e os apoiantes do SP. Veja-se, por exemplo, o facto de Fátima Felgueiras, um mês após as eleições, ter sido convidada para um convívio da JS e esta ter colocado no seu sítio da Internet uma foto a documentar o encontro. A eleição de Eduardo Bragança para a liderança da estrutura local e a mudança quase radical na composição da respectiva Concelhia levaram a que o partido tomasse um rumo concreto, o caminho que lhe é devido e confiado pelos eleitores: ser e fazer Oposição até à resistência política possível, face a um certo absolutismo triunfante do SP, do qual a sua figura tutelar chegara do Brasil, olhara e vencera as eleições, e, como tal, pensava, a referida figura mediática, que iria ser tudo favas contadas quanto à dinâmica da sociedade civil de Felgueiras.

De facto, de “partido satélite” até à eleição de Eduardo Bragança para a Concelhia, em Março de 2006, o PS tornou-se num partido de Oposição, ao invés do PSD, que, a nível dos vereadores Caldas Afonso e Luís Lima, está a minar todas as possibilidades de alternativa política em Felgueiras. A inclusão de Caldas nas administrações de empresas municipais ao lado de Fátima Felgueiras e Horácio Reis é um “escândalo político” dentro do PSD local, quando Marques Mendes toma (e muito bem!) uma política de distanciamento em relação a Executivos municipais cujos membros se encontram envolvidos em situações como a do âmbito do processo do “saco azul”. Estranha-se que, até hoje, o PSD a nível da Comissão Política local e da Distrital ainda não tenham tomado uma posição célere e frontal sobre a matéria. Com toda a imparcialidade política que nos é exigida, não se pode negar que a inclusão de Caldas Afonso nas administrações municipais é bem ilustrativa das sucessivas promiscuidades dos vereadores laranja com o SP.

Marques Mendes esteve bem em Oeiras, em Gondomar e em Lisboa. O líder nacional do PSD tem demonstrado a coragem e a seriedade política de preferir deixar cair o poder do seu partido nesses concelhos a, um dia, virem a acusá-lo de falta de transparência. É um fardo pesado que carrega às costas, que poderá ter custos políticos internos, a nível do próprio PSD. Se António Guterres e Jorge Coelho, do PS, tivessem tido igual atitude em 2001 em relação a Felgueiras, os socialistas, mais tarde, não teriam passado pelos problemas que tiveram durante a prolongada crise política felgueirense, principalmente os tristes acontecimentos de 16 de Maio de 2003, em que Francisco Assis, então líder distrital do PS/Porto, foi agredido física e verbalmente pelas ruas de Felgueiras.

Sem pretendermos retirar os méritos e qualidades a António Costa, que venceu as eleições para a Câmara de Lisboa, José Sócrates devia ter evitado festejar a vitória do PS, pois as eleições resultaram da filosofia de Marques Mendes em exigir transparência política aos autarcas-arguidos do PSD, atitude que o PS nacional jamais tomou e, tal como diz Mendes, não veio prestar o apoio à candidatura de José Campos e, até hoje, como secretário-geral do PS, ainda não teve uma palavra crítica em relação à situação política de Felgueiras - que já leva quase uma década de duração -, ao movimento que gere a autarquia e à figura mediática que o tutela.

Concluindo, na política deste estilo ocidental - a anos-luz do pleno gozo da Democracia - nem sempre a verdade e as boas intenções são tidas em conta. Sobre o “caso Felgueiras” temos um PS nacional benevolente e um PS local de firme oposição; um PSD nacional muito crítico e um PSD local algo conivente.