terça-feira, outubro 03, 2006

Fórum - entrevista Carlos Zeferino (espaço sempre em actualização)

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Já disse aqui, neste blogue, que, apesar de ter votado em José Campos nas últimas eleições autárquicas, eu e a minha família somos do PSD, da linha de Sá Carneiro – figura que, na sua essência, levou o partido ao encontro da social-democracia e do modelo social europeu.

No entanto, depois de ler a entrevista do Sr. Carlos Zeferino, histórico militante socialista, gostaria de me imiscuir num assunto que diz mais respeito ao PS do que à sociedade em geral, mas, dado que reflecte atitudes que envolvem directa ou indirectamente a condução dos destinos governativos do concelho de Felgueiras, tomo a liberdade de enumerar algumas das mais diversas contradições do entrevistado.

Antes de mais, quero dar os parabéns ao Diário de Felgueiras da forma como conduziu a entrevista, nua e crua, sem subterfúgios ou diplomacias balofas, e que acabou por apanhar o entrevistado em contra-mão, num discurso curvilíneo, em que o Sr. Zeferino acabou por cair.

Passo a enumerar e a comentar as minhas discordâncias em relação à entrevista:

O entrevistado não convence os felgueirenses na resposta à 3.ª pergunta, que foi lapidar e central quanto à problemática existente: quer se manter militante socialista e não quer estar afecto à bancada do Grupo Parlamentar do PS? O Sr. Zeferino tem direito de apoiar as posições políticas da Dr.ª Fátima Felgueiras mas em sede própria, sendo a sede do PS o local onde tem que defender as suas ideias, em primeira instância, e na Assembleia de Freguesia e na Assembleia Municipal, posteriormente. Nem que ficasse em minoria ou sozinho no PS a defender as suas opiniões e posições, contra tudo e contra todos.

O Sr. Presidente da Junta de Lagares fez mal ao dizer que se antecipou à Concelhia sobre esta contenda. Fica a ideia, mesmo que não seja verdade, que já tinha pensado criar um caso no PS, só para desgastar a Concelhia, que, como se sabe, alega que o militante está com o PS e com o movimento “Sempre Presente”, ao mesmo tempo. De facto, não estar com o partido nos momentos maiores de discórdia entre ambas as bancadas é estar contra a auto-determinação do PS e ceder ao "Sempre Presente".

O Sr. Zeferino também fez mal dizer que tinha que ser ele a fazer o que fez. Dá impressão que não está sozinho nesta polémica, o que não deixa, com isso, de dar argumentos à Comissão Política, que o acusa de ter uma estratégia concertada com o movimento “Sempre Presente”.

O entrevistado não respondeu devidamente à pergunta de que, se hoje houvesse eleições, em quem votaria: em Fátima Felgueiras ou em José Campos? Tendo o Sr. Carlos Zeferino feito parte da lista à Câmara Municipal, só se pode concluir uma coisa: nunca acreditou no projecto político de José Campos. Até fico com a ideia de que não votou na candidatura do PS, da qual fez parte. Acho que a não resposta à pergunta deixa no ar a suspeita de cumplicidade com o movimento “Sempre Presente”, até porque, mais adiante na entrevista, o Sr. Zeferino reafirma a grande admiração que tem por Fátima Felgueiras, com a já célebre frase dos cem em cem anos. Neste momento em que a Dr.ª Fátima Felgueiras não está no PS repetir essa frase deixa os camaradas do partido do Sr. Zeferino numa posição de natural desconfiança e até desconfortável perante a opinião pública. O Sr. Zeferino não está proibido de manter grandes amizades com quer que seja, mas, em casos como este, deveria ter mais ponderação. Fátima Felgueiras já não é do PS e a História raramente se repete, ou seja, já não é nem será como antes.

Aqui fica o meu contributo. Nada me move contra o Sr. Carlos Zeferino, muito menos ainda por não ser do PS. Contudo, penso que na política terá de haver estética nos actos e comportamentos, sob pena de estarmos hipotecar o futuro do concelho.

Isabel (simpatizante do PSD) - Borba de Godim
O senhor Carlos Zeferino é um bom homem, de extrema qualidade humana e humilde. Tenho por ele uma valorizada admiração pessoal. Por isso, não acredito que tenha combinado com alguém fazer estalar esta polémica com vista a prejudicar o PS, pelo qual trabalhou durante décadas, ao lado do Dr. Machado de Matos, do Sr. Júlio Faria e da Dr.ª Fátima Felgueiras.

A Concelhia do PS tem toda a legitimidade – e compreende-se – para ver “separadas as águas” entre o PS e o movimento SP. Contudo, o senhor Carlos Zeferino, temos que reconhecer, jamais iria contrariar as vontades políticas da Dr.ª Fátima Felgueiras, com a qual, durante largos anos, foi granjeando recíproca amizade, admiração e atitude de compromisso. Há pessoas que têm capacidade para desfazerem laços de afectividade política, conforme o desenvolvimento dos acontecimentos, mas pessoas como o senhor Zeferino - ele não me vai tomar a mal - não conseguem fazer distinção entre relações pessoais e relações políticas. O senhor Zeferino, por seu lado, pensa que, ao não fazer a vontade à Dr.ª Fátima, estaria a a travar inimizade política com a senhora. A referência que o jornalista faz ao apelo de D. José Policarpo foi mais que oportuna.

Esta polémica, sendo dramática para qualquer socialista, tinha de acontecer, a partir do momento em que o PS perdeu as eleições. Ficar do lado dos vencidos foi sempre muito incómodo.
Neste meu apontamento não quero agradar a dois senhores, mas gostaria que o senhor Zeferino e a Concelhia tivesse ambos razão. Compreendo a postura dos dirigentes da Concelhia, que pugnam pela auto-determinação do PS/Felgueiras, mas também compreendo a dor do senhor Zeferino, que deve sofrer com este impasse.

O meu conselho é o seguinte: debatei as vossas diferenças, mas não entreis em zangas pessoais uns com os outros. Quem sabe se a História de Felgueiras, um dia, se encarregará de, só por si, de vos juntar novamente!



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