Há duas realidades essenciais ligadas a estes 12 meses de Movimento Sempre Presente à frente dos destinos do nosso concelho. Em primeiro lugar, e já o referi algumas vezes, Felgueiras padece de um défice de cultura democrática e de pluralismo. Confesso que me causa perplexidade e confusão que determinados elementos ligados ao Movimento Sempre Presente entendam que as críticas apontadas são direccionadas para alguém em particular, e que as mesmas pretendam denegrir a honorabilidade e a urbanidade dos mesmos. Puro engano quem assim pensa. As críticas que aqui narramos são direccionadas apenas e só contra as políticas e as orientações estratégias seguidas por este movimento e não contra pessoas. E quem pensar o contrário estará a cometer um erro e mostra falta de cultura democrática. Mas o comportamento de alguns elementos que hoje representam cargos com algum destaque em Felgueiras merece críticas e são motivo de reflexão. Incompreensível que hoje ignorem amigos que no passado foram companheiros de luta, partilharam projectos, propostas, ideias e convívios. Com o comportamento agora evidenciado apenas revelam que o poder para eles está acima de tudo, que as relações de amizade que antes enfatizavam, não passavam de embustes. Pois bem quem tem este tipo de comportamento, não merece estar na política e faz da amizade um instrumento de aproveitamento pessoal e de oportunismo. Quem não aceita a critica, quem vê na crítica política ofensas pessoais, quem evidencia comportamentos que antes criticava, não pode exercer o poder de forma digna e desprovida de complexos. Não há pluralismo num poder que enfermas destes enquistamentos. Este poder está autista.
Segundo, as orientações políticas seguidas estão a transformar Felgueiras num concelho ignorado, parado, ultrapassado, pobre, sem projecção, onde os interesses se sobrepõem ao bem-estar da população. “Onde param as dezassete promessas feitas durante a campanha eleitoral?!” A pergunta, em tom de exclamação, pode ser feita em relação a inúmeras coisas que, em Felgueiras, tardam em mudar, tolhida a vontade por coisas estúpidas como o hábito, ou a combater, como o medo. Mas a principal barreira à mudança é em muitos casos aquilo que, entre nós, designamos por “interesses”. Um continente de relações obscuras, de vontades corporativas, que, misturadas com o medo e com o hábito, se sobrepõem ao único “interesse” que deveria prevalecer, o “interesse colectivo”. É isto que dá sentido há democracia, que em seu nome existem benefícios colectivos que é necessário defender, para além das lógicas individuais ou de grupo.
Doze meses de escuridão, doze meses de falência da democracia. A única preocupação consiste em empurrar os felgueirenses para os concelhos vizinhos. Como dizia um elemento do Movimento Sempre Presente, “quem não quiser pagar as taxas na piscina municipal que vá para Fafe”. Por outro lado procura-se o consenso a qualquer preço. O consenso não faz mal a ninguém, mas a diferença existe para ser preservada e é útil que se separem as águas. Caminhamos para o partido único e o cartão único. Com gente a pensar desta maneira, qualquer dia temos um concelho desertificado e desumanizado.
Nota do editor:
Este texto e foto, de Inácio Lemos, foram inseridos na última edição do "Expresso de Felgueiras", na secção dos artigos de opinião. Depois de o lermos na edição em papel, solicitámos ao autor do mesmo se nos cedia o artigo, a fim de o publicarmos neste blogue nesse mesmo dia, pedido que mereceu o consentimento do próprio.
No entanto, dado que Carlos Zeferino na sexta-feira, à noite, nos informou que iria mandar uma contra-resposta a Inácio Lemos ainda a propósito da grande entrevista que aquele tinha dado ao DF, entendemos fazer um compasso de espera e meter só agora o artigo de opinião, para que não fosse entendido de que se trata de uma nova resposta de Inácio Lemos a Carlos Zeferino, ou seja, para que este artigo não fosse "misturado" com a polémica.
Assim, pedimos a Inácio Lemos e aos nossos estimados leitores a maior compreensão sobre o critério por nós adoptado.