Poder-se-á alegar que tal episódio não é um facto político, mas o certo é que não deixa de ser revelador de que Fátima Felgueiras jamais confia em Horácio Reis. Apesar de este ter figurado em terceiro lugar na lista do movimento “Sempre Presente” à Câmara Municipal nas últimas autárquicas, ninguém pode negar que Horácio foi o grande impulsionador e obreiro para que tal movimento fosse criado, desde a primeira hora. Antes e durante a campanha eleitoral, desdobrou-se na propaganda política, mormente nos bastidores, que é o terreno onde se sente melhor, como peixe na água. Usando uma figura de estilo, podemos dizer que Horácio foi quem foi buscar Fátima Felgueiras ao Brasil. Ganhas as eleições, é ele que se tem revelado como o mais incansável elemento da maioria, para sucesso das iniciativas, das quais Fátima Felgueiras é quem retira todos os louros.
Enquanto Fátima Felgueiras é uma figura política de palco, Horácio é uma figura dos bastidores, mas o certo – isso é inegável – que o n.º 3 do Executivo aspira, um dia, ascender à presidência da autarquia. Não tendo vingado como candidato do PS, depois de toda a novela gerada em torno do núcleo do partido na Lixa (que tentou implementar para servir de trampolim com esse objectivo, mas que nunca foi legalizado pela Distrital), Horácio não queria sujeitar-se a ser um eventual n.º 2 ou n.º 3 de José Campos, também por uma questão de orgulho, e lançou-se na criação do movimento independente no sentido de chegar à autarquia, para, um dia, chegar a presidente, mesmo sabendo que, para isso, terá que vencer, um a um, todos obstáculos de tamanha maratona.
Mário Soares costuma dizer que a política em Democracia é feita de contrastes. E a prova disso é que Fátima Felgueiras beneficiou da existência desses contrastes, no caso, das contingências verificadas no seio do PS local e nacional entre Maio de 2003 e Outubro de 2005. Caso contrário, hoje a presidência da Câmara estaria nas mãos de José Campos (PS) ou de Caldas Afonso (PSD).
Fátima Felgueiras sabe muito bem da ambição de Horácio Reis, que não vai querer ser toda a vida um político de bastidores. E é por isso que o teme, não lhe dando o mínimo de confiança política. E foi por isso também que o não escolheu para n.º 2 da lista. Mesmo numa eventual retirada da cena política, mercê dos problemas judiciais que sobre si impendem, Fátima Felgueiras jamais irá trabalhar para que o seu actual n.º 3 a suceda. A actual presidente da Câmara não gosta de políticos de ruptura e, muito menos, de quem se movimenta bem nos bastidores, como Horácio, mas de políticos de continuidade e de feitio reservado. É certo que, para o ir tendo ao seu lado sem problemas imediatos, acena-lhe, dando-lhe a perceber, que não se irá recandidatar ao cargo em 2009. O líder da Oposição, Caldas Afonso (PSD), caiu no engodo, ao ponto de ter dito isso, recentemente, em entrevista ao “Expresso de Felgueiras”, mas Horácio, com mais argúcia, não acredita nessa farsa palaciana! Daí que é de prever que a meio do mandato as fricções políticas entre Fátima Felgueiras e Horácio Reis comecem a surgir, porque, como é óbvio, não podem haver duas pessoas a encabeçar a mesma lista eleitoral.