quinta-feira, julho 13, 2006

Gazetilha

Magazine - Gazetilha
Por Marco Geodésico e Soror Saudade
(leitores devidamente identificados)


I

Daqui – de Santa Quitéria –,

Vejo tudo p’ra cidade:

Vejo o Bem, vejo a Miséria,

A Honradez e a Vaidade.

II

Vejo homens de respeito,

Mulheres bem comportadas,

Mas não fico satisfeito

Com certas caras lavadas.

III

Por acaso vejo tudo,

Sem eu ter que estar atento:

Não preciso de canudo

Para meu divertimento.

IV

Vejo, aqui – cidade ao perto,

Toda ela engalanada:

Vejo o tolo, vejo o esperto;

Gente pobre e abastada.

V

Vejo o gordo, vejo o magro;

O baixinho e o gigante;

Vejo a mágoa que, aqui, trago,

Que por vós não há quem cante.

VI

Vejo o cortejo das flores

Atrás dum vestido branco:

Vejo o povo a dar louvores –

Já nem sei quem é o santo!

VII

Vejo acenos com as mãos,

Por alguns aplaudidos;

Alguns beijos – saudações –,

Nem sempre correspondidos.

VIII

Vejo eu muitos soldados –

Pelotão de “caceteiros” –,

Porque foram avisados

Da revolta dos tasqueiros.

IX

Vejo a chegada das flores

E as câmaras de filmagem;

Vejo o porte dos actores

No Calvário da romagem.

X

E, na igreja, estou a ver

Uma profana figura:

Alguém a exigir p’ra ler

Toda a Sagrada escritura.

XI

Vejo eu, na procissão,

Os confrades pró andor

E os guardas em prevenção,

Porque ‘inda corre o rumor.

XII

Finda a festa, pois então,

Pergunto em meu lirismo:

- É esta a Religião

Que condena o paganismo?!...