Daqui – de Santa Quitéria –,
Vejo tudo p’ra cidade:
Vejo o Bem, vejo a Miséria,
A Honradez e a Vaidade.
II
Vejo homens de respeito,
Mulheres bem comportadas,
Mas não fico satisfeito
Com certas caras lavadas.
III
Por acaso vejo tudo,
Sem eu ter que estar atento:
Não preciso de canudo
Para meu divertimento.
IV
Vejo, aqui – cidade ao perto,
Toda ela engalanada:
Vejo o tolo, vejo o esperto;
Gente pobre e abastada.
V
Vejo o gordo, vejo o magro;
O baixinho e o gigante;
Vejo a mágoa que, aqui, trago,
Que por vós não há quem cante.
VI
Vejo o cortejo das flores
Atrás dum vestido branco:
Vejo o povo a dar louvores –
Já nem sei quem é o santo!
VII
Vejo acenos com as mãos,
Por alguns aplaudidos;
Alguns beijos – saudações –,
Nem sempre correspondidos.
VIII
Vejo eu muitos soldados –
Pelotão de “caceteiros” –,
Porque foram avisados
Da revolta dos tasqueiros.
IX
Vejo a chegada das flores
E as câmaras de filmagem;
Vejo o porte dos actores
No Calvário da romagem.
X
E, na igreja, estou a ver
Uma profana figura:
Alguém a exigir p’ra ler
Toda a Sagrada escritura.
XI
Vejo eu, na procissão,
Os confrades pró andor
E os guardas em prevenção,
Porque ‘inda corre o rumor.
XII
Finda a festa, pois então,
Pergunto em meu lirismo:
- É esta a Religião
Que condena o paganismo?!...