Faz amanhã (dia 25 de Março) três anos que morreu Barros Moura.
Com o seu prematuro desaparecimento, o país ficou mais pobre. Mais pobre, porque a Democracia por que tanto lutou ainda não está consolidada, decorridos 32 anos após o 25 de Abril, razão pela qual o País ainda precisava dele.
Barros Moura, sendo um homem interventivo, lutador, era, no entanto, muito discreto – passava muito despercebido nas acções políticas em que, tão generosamente, se envolvia, na sua (e de todos os seus companheiros) luta pela Liberdade e Democracia, mesmo quando era ele o principal impulsionador e protagonista.
Desde muito cedo compreendeu o valor das ideias, da entrega às causas, do risco que corria. Durante a década de 60, enquanto estudante, tomou parte nas lutas académicas, sendo eleito para a Direcção da Associação Académica de Coimbra, contrariando o favoritismo dos candidatos fortemente patrocinados pelo regime. Aí esteve no centro da polémica, quando não obedeceu a uma ordem do Reitor sobre o modo de constituição da Direcção. Não cedendo a pressões, acabou por ser imediatamente suspenso e expulso, por dois anos, de todas as universidades portuguesas. Em 1969, foi considerado um dos grandes estrategas da contestação ao poder académico da Ditadura.
Mais tarde, prestou serviço militar na Guiné, onde foi destacado para o “mato”, quando não havia memória de um oficial miliciano, licenciado em Direito, ser destacado para o mato.
Teve um papel importante no movimento sindical e na política em geral, antes e depois do 25 de Abril. Primeiro, como militante do PCP, que veio a expulsá-lo, muitos anos mais tarde, em 1991, por discordar da linha seguida pela Direcção do partido; depois, filiando-se no PS. Por estes dois partidos, foi eleito deputado da Assembleia da República e do Parlamento Europeu.
A presidência da Assembleia Municipal de Felgueiras foi o seu último combate político, antes de ser surpreendido por uma doença traiçoeira. Encarou-a de frente, tal como em todos os combates anteriormente travados, apanhando todos de surpresa, por nunca ter dado a entender que padecia de uma doença grave.
Homem íntegro, corajoso, honesto e inteligente (em Coimbra, os colegas estudantes alcunharam-no de IBM – Inteligente Barros Moura), respeitava tudo e todos, não fazendo distinção de categorias.
Com a sua morte, Felgueiras e o País perderam uma figura notável da história política portuguesa. O seu nome e o seu prestígio, pautado por uma grande coerência de princípios, valorizaram muito a imagem da nossa Terra. Temo que o felgueirense comum venha a perder a memória da verdadeira dimensão deste homem e temo ainda que os felgueirenses mais informados só o venham a reconhecer muito mais tarde. A pedagogia cívica que Barros Moura nos legou merecia ser sublimada por todos nós, felgueirenses.
Há dias, em Guimarães, numa homenagem a outro grande vulto da luta pela Liberdade – que é o nosso grandioso Zeca Afonso –, no meu íntimo, também recordei, e com emoção, o meu amigo Barros Moura, que tive o privilégio de conhecer, infelizmente, por pouco tempo. Como dizia, nesse dia, pude ver, mais uma vez, como foram grandes algumas figuras da luta pelos valores de Abril.
Com homens desta estirpe, mais admirados lá fora do que cá dentro, Portugal tornou-se um país livre, apesar de persistirem alguns atropelos aos valores e à dignidade da pessoa humana, consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Pude ver como ainda vale a pena acreditar nas utopias, numa “cidade sem muros nem ameias”, mesmo que ainda grasse a incompetência, o clientelismo e o caciquismo.
Com o seu exemplo, Barros Moura faz-me acreditar. Sim! Acreditar num Portugal verdadeiramente democrático, que ponha fim ao analfabetismo da sua população, onde a Justiça funcione com isenção – cega como se deseja –; onde a corrupção não assombre os valores da Democracia, fazendo lembrar outros tempos; onde os velhos e os doentes não sejam ignorados e votados ao abandono; onde a mediocridade deixe de ser uma característica principal de algumas figuras ilustres; onde muitos espertalhões, que apenas se preocupam em olhar pela sua vidinha, não façam carreira; onde o simples expressar das ideias não esteja sujeita a censuras – a outras censuras, através de “disfarces legais” que o actual estado da Democracia, às vezes, com “manhosa inocência”, ainda permite e as oficializa.
Tal como dizia há um ano, apesar de tudo, valeu a pena tanto empenhamento, tanto esforço e tanta dedicação às causas, para que jovens como eu – que, em 1974, tinha apenas 11 anos de idade – pudéssemos ver abrirem-se as portas da Democracia.
Por tudo isso, obrigado Dr. Barros Moura!
Com o seu prematuro desaparecimento, o país ficou mais pobre. Mais pobre, porque a Democracia por que tanto lutou ainda não está consolidada, decorridos 32 anos após o 25 de Abril, razão pela qual o País ainda precisava dele.
Barros Moura, sendo um homem interventivo, lutador, era, no entanto, muito discreto – passava muito despercebido nas acções políticas em que, tão generosamente, se envolvia, na sua (e de todos os seus companheiros) luta pela Liberdade e Democracia, mesmo quando era ele o principal impulsionador e protagonista.
Desde muito cedo compreendeu o valor das ideias, da entrega às causas, do risco que corria. Durante a década de 60, enquanto estudante, tomou parte nas lutas académicas, sendo eleito para a Direcção da Associação Académica de Coimbra, contrariando o favoritismo dos candidatos fortemente patrocinados pelo regime. Aí esteve no centro da polémica, quando não obedeceu a uma ordem do Reitor sobre o modo de constituição da Direcção. Não cedendo a pressões, acabou por ser imediatamente suspenso e expulso, por dois anos, de todas as universidades portuguesas. Em 1969, foi considerado um dos grandes estrategas da contestação ao poder académico da Ditadura.
Mais tarde, prestou serviço militar na Guiné, onde foi destacado para o “mato”, quando não havia memória de um oficial miliciano, licenciado em Direito, ser destacado para o mato.
Teve um papel importante no movimento sindical e na política em geral, antes e depois do 25 de Abril. Primeiro, como militante do PCP, que veio a expulsá-lo, muitos anos mais tarde, em 1991, por discordar da linha seguida pela Direcção do partido; depois, filiando-se no PS. Por estes dois partidos, foi eleito deputado da Assembleia da República e do Parlamento Europeu.
A presidência da Assembleia Municipal de Felgueiras foi o seu último combate político, antes de ser surpreendido por uma doença traiçoeira. Encarou-a de frente, tal como em todos os combates anteriormente travados, apanhando todos de surpresa, por nunca ter dado a entender que padecia de uma doença grave.
Homem íntegro, corajoso, honesto e inteligente (em Coimbra, os colegas estudantes alcunharam-no de IBM – Inteligente Barros Moura), respeitava tudo e todos, não fazendo distinção de categorias.
Com a sua morte, Felgueiras e o País perderam uma figura notável da história política portuguesa. O seu nome e o seu prestígio, pautado por uma grande coerência de princípios, valorizaram muito a imagem da nossa Terra. Temo que o felgueirense comum venha a perder a memória da verdadeira dimensão deste homem e temo ainda que os felgueirenses mais informados só o venham a reconhecer muito mais tarde. A pedagogia cívica que Barros Moura nos legou merecia ser sublimada por todos nós, felgueirenses.
Há dias, em Guimarães, numa homenagem a outro grande vulto da luta pela Liberdade – que é o nosso grandioso Zeca Afonso –, no meu íntimo, também recordei, e com emoção, o meu amigo Barros Moura, que tive o privilégio de conhecer, infelizmente, por pouco tempo. Como dizia, nesse dia, pude ver, mais uma vez, como foram grandes algumas figuras da luta pelos valores de Abril.
Com homens desta estirpe, mais admirados lá fora do que cá dentro, Portugal tornou-se um país livre, apesar de persistirem alguns atropelos aos valores e à dignidade da pessoa humana, consagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Pude ver como ainda vale a pena acreditar nas utopias, numa “cidade sem muros nem ameias”, mesmo que ainda grasse a incompetência, o clientelismo e o caciquismo.
Com o seu exemplo, Barros Moura faz-me acreditar. Sim! Acreditar num Portugal verdadeiramente democrático, que ponha fim ao analfabetismo da sua população, onde a Justiça funcione com isenção – cega como se deseja –; onde a corrupção não assombre os valores da Democracia, fazendo lembrar outros tempos; onde os velhos e os doentes não sejam ignorados e votados ao abandono; onde a mediocridade deixe de ser uma característica principal de algumas figuras ilustres; onde muitos espertalhões, que apenas se preocupam em olhar pela sua vidinha, não façam carreira; onde o simples expressar das ideias não esteja sujeita a censuras – a outras censuras, através de “disfarces legais” que o actual estado da Democracia, às vezes, com “manhosa inocência”, ainda permite e as oficializa.
Tal como dizia há um ano, apesar de tudo, valeu a pena tanto empenhamento, tanto esforço e tanta dedicação às causas, para que jovens como eu – que, em 1974, tinha apenas 11 anos de idade – pudéssemos ver abrirem-se as portas da Democracia.
Por tudo isso, obrigado Dr. Barros Moura!
Gonçalo Magalhães