Anabela Melão
Jurista
Páscoa: do
hebreu "peschad", do grego "paskha" e do latim
"pache": a "passagem" do tempo de trevas para o tempo de
luzes. O equinócio de primavera (vernal) remete para a Idade Média e para as
tradições dos antigos povos pagãos europeus que, nesta época do ano,
homenageavam Ostera (Easter – Páscoa), que, na mitologia grega, é personificada
por Persephone e na mitologia romana, por Ceres. A data cristã foi fixada
durante o Concílio de Nicéa, em 325 d.C., como sendo o primeiro Domingo após a
primeira Lua Cheia que ocorre após o equinócio de primavera (ou vernal),
segundo a fórmula do "Cálculo Eclesiático".
Páscoa, em hebraico,
significa "libertação". Iniciada com o êxodo, recorda a libertação do
povo hebreu da escravidão do Egito, liderada por Moisés, cuja vida é marcada
pela força de renovação e da libertação da água (libertação que é em si o
propósito do sacrifício do Filho de Deus). Ele o “nascido da água”, deixado
pela mãe, Joquebede (Javê é a sua glória), que, obedecendo ao decreto do faraó, o colocou
nos juncos à beira do rio Nilo (Êxodo 3:6),
e o que liberta o seu povo, estendendo a sua mão sobre o Mar
Vermelho, e abrindo, com o poder divino que lhe foi dado, as águas (Êxodo 14).
Para os cristãos, a Páscoa Cristã é a marca da escolha de Deus que intentou
libertar o seu povo dos "pecados", oferecendo em sacrifício o seu
maior bem, o filho Jesus Cristo, tornando-o novo cordeiro pascal. "Cristo
é a nossa Páscoa (libertação), pois Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado
do mundo" - (João, 1:29).
Vamos esquecendo
a importância dos símbolos e a mística da linguagem quanto mais profanamos a
réstia do sagrado que há em cada um de nós. E a agressividade do quotidiano
coage-nos a preterir a força da interioridade espiritual que, afinal, é a única
capaz de nos “libertar” do que nos rodeia de mais efémero e medíocre. Somos nós
que criamos e fechamos as nossas próprias guilhotinas incapazes de perceber que
a liberdade está apta a nascer e a sedimentar-se em cada um na proporção em que
a alimentamos e acarinhamos.
Lembremos O Encoberto do “nosso” Pessoa: “Que símbolo fecundo Vem na aurora
ansiosa? Na Cruz Morta do Mundo A Vida, que é a Rosa. Que símbolo divino Traz o
dia já visto? Na Cruz, que é o Destino, A Rosa, que é o Cristo. Que símbolo
final Mostra o sol já disperto? Na Cruz morta e fatal A Rosa do Encoberto.”
A todos uma Santa Páscoa!