sexta-feira, março 29, 2013

Páscoa


Anabela Melão
Jurista

Páscoa: do hebreu "peschad", do grego "paskha" e do latim "pache": a "passagem" do tempo de trevas para o tempo de luzes. O equinócio de primavera (vernal) remete para a Idade Média e para as tradições dos antigos povos pagãos europeus que, nesta época do ano, homenageavam Ostera (Easter – Páscoa), que, na mitologia grega, é personificada por Persephone e na mitologia romana, por Ceres. A data cristã foi fixada durante o Concílio de Nicéa, em 325 d.C., como sendo o primeiro Domingo após a primeira Lua Cheia que ocorre após o equinócio de primavera (ou vernal), segundo a fórmula do "Cálculo Eclesiático".
Páscoa, em hebraico, significa "libertação". Iniciada com o êxodo, recorda a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito, liderada por Moisés, cuja vida é marcada pela força de renovação e da libertação da água (libertação que é em si o propósito do sacrifício do Filho de Deus). Ele o “nascido da água”, deixado pela mãe, Joquebede (Javê é a sua glória), que, obedecendo ao decreto do faraó, o colocou nos juncos à beira do rio Nilo (Êxodo 3:6), e o que liberta o seu povo, estendendo a sua mão sobre o Mar Vermelho, e abrindo, com o poder divino que lhe foi dado, as águas (Êxodo 14).
Para os cristãos, a Páscoa Cristã é a marca da escolha de Deus que intentou libertar o seu povo dos "pecados", oferecendo em sacrifício o seu maior bem, o filho Jesus Cristo, tornando-o novo cordeiro pascal. "Cristo é a nossa Páscoa (libertação), pois Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" - (João, 1:29).
Vamos esquecendo a importância dos símbolos e a mística da linguagem quanto mais profanamos a réstia do sagrado que há em cada um de nós. E a agressividade do quotidiano coage-nos a preterir a força da interioridade espiritual que, afinal, é a única capaz de nos “libertar” do que nos rodeia de mais efémero e medíocre. Somos nós que criamos e fechamos as nossas próprias guilhotinas incapazes de perceber que a liberdade está apta a nascer e a sedimentar-se em cada um na proporção em que a alimentamos e acarinhamos.
Lembremos O Encoberto do “nosso” Pessoa: “Que símbolo fecundo Vem na aurora ansiosa? Na Cruz Morta do Mundo A Vida, que é a Rosa. Que símbolo divino Traz o dia já visto? Na Cruz, que é o Destino, A Rosa, que é o Cristo. Que símbolo final Mostra o sol já disperto? Na Cruz morta e fatal A Rosa do Encoberto.”
A todos uma Santa Páscoa!