sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Maria Inês Almeida: "A sua obra criou raízes no nosso colectivo e na nossa cultura"


Maria Inês Almeida
(Escritora e jornalista)


O que mais aprecio na  figura de José Afonso é a obra artística, que o seu talento tornou intemporal e universal, ou seja, ultrapassando as fronteiras do seu tempo e do seu espaço para se manter sempre actual, em qualquer época ou lugar. E falo tanto da sua produção poética (nem sempre devidamente valorizada) como da sua música (já que cada canção tinha personalidade melódica própria, e parte significativa delas permanecem nos nossos ouvidos). Acho curioso que os portugueses conservem na sua linguagem comum muitas expressões retiradas de canções de Zeca Afonso, como "eles comem tudo e não deixam nada", "venham mais cinco", "traz outro amigo também", "o povo é quem mais ordena" ou "o que faz falta é animar a malta". Isto mostra como a sua obra criou raízes no nosso colectivo e na nossa cultura, o que só um grande artista consegue. Além disso, há todo um conjunto de valores que ele transmitiu nas suas canções e com os quais é fácil identificarmo-nos: solidariedade, fraternidade, igualdade, generosidade, justiça. Este humanismo ajuda-me a reforçar a admiração por ele.