sábado, fevereiro 25, 2012

Joana Afonso: genialiadde e intemporalidade de Zeca


 Joana Afonso
Estudante universitária e 
membro activo do núcleo da AJA Norte (Porto)

Quando José Afonso foi levado pela doença, eu ainda não era nascida. Contudo, a sua voz sempre ecoou na minha casa de infância, pela mão dos meus pais, que foram, durante os anos de precariedade do avô cavernoso e o período turbulento que se seguiu, mobilizados e reconfortados pelas suas canções. A verdadeira tomada de consciência da mensagem das músicas só a comecei a ter com a entrada na faculdade e consequente mudança para a cidade do Porto, momento em que a realidade foi-se gradualmente sobrepondo aos anos de inocência permeados pela pequena cidade que me tinha visto crescer. A admiração pelo homem e pelo legado de intervenção cívica por de trás das letras e das melodias foi crescendo com a minha percepção relativamente à genialidade e intemporalidade da sua obra.
A importância de fazer frente às adversidades que nos vêm virar as quilhas e os desafios de inquietação que José Afonso foi lançando às novas gerações fazem, para mim, mais sentido do que nunca. Hoje, com 23 anos, vejo que a evocação dos 25 anos sobre o momento final em que José Afonso pegou na trouxa e zarpou é feita num clima de descrença e de tímido desassossego. A consciência crescente da agudização das desigualdades sociais no nosso país não pode ser vista de um modo passivo, especialmente pela gente da minha geração. Hoje, como ontem, o lirismo e o exemplo cívico deste homem devem funcionar como alavanca para as movimentações de oposição ao marasmo social a que nos votaram. É urgente trazer para as camadas mais jovens e mais populares a mensagem de protesto e de mudança para um mundo melhor e uma realidade mais justa, pela qual José Afonso dedicou a sua existência. É urgente um grito de guerra de toda uma geração que perceba que existe a possibilidade de uma vida melhor.