quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Cristina Carvalho: "atitude de vida que não se esquece, de dádiva permanente e alerta constante"



Para ZECA AFONSO


Cristina Carvalho
(escritora)

No dia 23 de Fevereiro passam 25 anos sobre a morte de Zeca Afonso. Símbolo da resistência ao regime que escureceu o país e o povo, Zeca foi e sempre será recordado como um grande poeta, como o reconstrutor da palavra pública ensaiada em canções que nos iam transmitindo uma crítica intensa sublinhada por maravilhosos acordes que todos nós, os desta geração, sabemos cantar de memória.
Toda a vida de Zeca se passou num desenhar fiel e constante de um perfil coletivo que tardava em vingar, num foco de luz iluminando a dimensão política possível. E sempre pelos poemas e pelas canções, nos inúmeros álbuns que gravou, o país e a Europa foram tomando consciência da inutilidade e da incompreensão daquele regime opressor e inútil.
Quem poderá algum dia esquecer “Os Vampiros” ou “O Menino do Bairro Negro” com letras inspiradas na miséria nacional que, desde o norte ao sul, apontavam a pobreza e indigência social e cultural? Quem poderá algum dia esquecer “Grândola Vila Morena” entoada até à exaustão, tal como se agitou a bandeira de liberdade e que foi a senha do MFA no dia 25 de Abril de 1974? Atitude de vida que não se esquece, de dádiva permanente e alerta constante, vida de dura luta em todas as direções, esse percurso de Zeca Afonso que tão cedo nos deixou.
Acredito que não deve haver ninguém que não conheça a sua poética, as suas canções, a fibra de resistência e a força que o marcou e que nos transmitiu para sempre.
Zeca Afonso nunca será esquecido.

Cristina Carvalho
22 de Fevereiro 2012