terça-feira, fevereiro 02, 2010

Morreu o nosso amigo Fernando Melo, autor do livro "Vândalos da Santidade"

A morte apanhou-o de surpresa bem como a todos os amigos - como nós - que o estimavam. Apesar dos seus 82 anos de idade, mantinha um vigor físico e intelectual - uma saúde que parecia de ferro! – que não fazia prever que tão cedo desaparecesse do nosso meio e, muito menos, de forma tão abrupta, resultante de um ataque vascular fulminante.
Falamos, obviamente, do felgueirense Fernando Melo, que, ontem, faleceu em circunstâncias tão repentinas, já depois das 8 horas – uma hora após ter-se levantado para, como sempre, ouvir as notícias na rádio e, depois, muito carinhosamente, cuidar da esposa, que se encontra há muitos anos fragilizada pela doença.
Fernando Melo detinha um elevado grau cultural, não só em virtude de ter estudado num Colégio de Jesuítas mas por ter sido, durante toda a sua vida, um autodidacta, apaixonado pelos livros e pelo Saber. Era aposentado da Caixa Geral de Depósitos, onde desempenhou, destacado em Lisboa mas correndo muitos pontos do país, as funções de inspector daquela instituição.
Distanciado dos partidos, Fernando Melo, filho de um monárquico convicto e de família conservadora, situava-se ideologicamente na área entre o antigo CDS e o actual PSD; em 1975, no PREC, tomou posição contra as forças da Esquerda revolucionária, valendo-lhe grandes discussões e combate político contra a tomada da Caixa Geral de Depósitos por grupos revolucionários. Aposentado e regressado a Felgueiras há mais de 25 anos, dedicou muito do seu tempo à Confraria de Santa Quitéria, tendo orientado muita da actividade desta instituição religiosa. Por exemplo, foi um dos impulsionadores e realizadores das obras no espaço religioso do monte até meados dos anos 90.
Surpreendentemente, aquele que fora um fervoroso católico, por volta de 1993, publica um volumoso livro de poemas, intitulado “Vândalos da Santidade”, obra que, não tendo sido objecto de lançamento oficial, foi editada pelo próprio autor, a suas expensas, e que circulou de mão em mão entre amigos e conhecidos, jornalistas, artistas e escritores.
“Vândalos da Santidade” é um livro em que o autor – na altura, já com mais de 60 anos – rompe abruptamente com a Igreja Católica e com a sua crença em Deus, num gesto de vincado anticlericalismo e ateísmo, mantendo, no entanto, a sua cultura política de sempre - de Direita. Nesse livro, expressou o desejo de ter um funeral civil - que foi cumprido - e que se realizou hoje, terça-feira, pelas 16 horas, da sua residência, Rua da Cegonheira, em Margaride, para o cemitério da freguesia de Várzea.
Para nós, Fernando Melo, com quem não partilhávamos os mesmos pontos de vista a nível ideológico e no campo da metafísica, era um bom amigo, pessoa de honrada palavra, solidário, de fortes convicções mas elegantemente conversador e tolerante em relação às diferenças. Era daqueles homens que preferia “quebrar que torcer”.
À família do nosso Amigo Fernando Melo expressamos as nossas sentidas condolências.