domingo, agosto 16, 2009

Quando a morte vem por engano

Isabel Alves Costa morreu, ontem,
aos 63 anos, de doença súbita


Isabel Alves Costa, referência cultural da cidade do Porto, faleceu, ontem, aos 63 anos, de doença súbita, em Monção, onde se encontrava a gozar férias.
Durante treze anos, até 2006, foi a directora artística do Teatro Rivoli, funções que solidificaram a sua reputação enquanto promotora cultural da cidade. Mesmo assim, há três anos, a Câmara decidiu entregar a gestão daquele espaço cultural a uma empresa privada. Como todos se lembram, a polémica instalou-se e os artistas barricaram-se durante dias nas instalações em veemente protesto. Filipe La Féria, com uma visão "festivaleira" e economicista da cultura, passou a ser "rei e senhor" daquele espaço.
Em 1962, Isabel Alves Costa, na altura com apenas 17 anos, envolveu-se nas lutas estudantis contra o Estado Novo. Por isso e por outras contestações, veio a conhecer o exílio, em França, até ao 25 de Abril de 1974, juntamente com o cantor José Mário Branco, com quem na altura era casada e do qual teve dois filhos, João e Pedro Branco.

Doutorada pela Sorbonne e galoarda pelo
Governo, foi forçada a abandonar
a direcção artística do Teatro Rivoli, em 2006.


A Casa do Povo da Longra estava
a envidar esforços no sentido
de a trazer a Felgueiras

Depois de 25 anos fora dos palcos, um dia, o seu amigo Nuno Carinhas, actual director do Teatro Nacional de S. João (Porto), encarregou-se de a fazer regressar ao mundo do teatro. E, nesta área, notabilizou-se como actriz, professora de Expressão Dramática e programadora cultural. Em 1997, fez o doutoramento em Estudos Teatrais pela Universidade da Sobornne. Devido ao seu reconhecido mérito, veio a ser convidada para responsável da programação de artes performativas na Capital Europeia da Cultura Porto 2001.
Actualmente, assumia as funções de directora do Teatro de Marionetas do Porto, promotor do festival internacional (FIMP), e colaborava com o projecto Comédias do Minho.
Em 2006,é galardoada pelo Governo francês ao nomeá-la Cavaleira das Artes e das Letras pelo seu trabalho em prol da cultura. Por ironia do destino, o laureamento surge pouco após ter sido forçada a abandonar as funções que desempenhava no Rivoli.
Isabel tinha vários livros publicados. Em Janeiro último, publicou um dando o seu testemunho sobre a sua passagem pelo Rivoli. Hoje devia deslocar-se a Melgaço para apresentar a peça "Inês Negra".
A Casa do Povo da Longra, de Felgueiras, estava a envidar esforços no sentido de trazer esta prestigiada figura às suas instalações, na abertura do Encontro de Teatro da Longra do próximo ano.
O corpo encontra-se na Capela de Cedofeita, no Porto, devendo sair amanhã (segunda-feira), pelas 14,30 horas, para o Crematório do Prado Repouso (15,30 horas)