"Do que um homem é capaz"
José Mário Branco
O Zé Mário, concorde-se ou não com ele no campo político, é um caso de coerência e persistência na humildade de se estar no mundo. Quando se trata do poder instituído, não vai em "cantigas"; a sua cantiga é outra - para ele, a cantiga é uma arma! E nem se quer acredita nas agora tão chamadas "forças políticas estruturantes", que são as forças do Centro, a quem ele acusa de demoliberais. Mas, sobretudo, denuncia as formas, os vícios queirosianos de se chegar ao poder, que é sempre um caminho macabro…
"Do que um homem é capaz" é uma música do álbum "Resistir é Vencer ", editado em 2004.
Apesar de a sua voz nos aparecer já cansada - sem o fulgor de outros tempos, como, por exemplo, quando estreou o "FMI" -, o Zé Mário é uma das figuras actuais da canção portuguesa mais conscientes do papel que os versos devem emprestar à cidadania e à participação das pessoas nas decisões da comunidade.
Em vésperas de eleições autárquicas, o poema cantado pelo Zé Mário, que abaixo transcrevemos, encaixa-se perfeitamente na vida dos políticos... Principalmente, os da nossa terra.
"Do que um homem é capaz" é uma música do álbum "Resistir é Vencer ", editado em 2004.
Apesar de a sua voz nos aparecer já cansada - sem o fulgor de outros tempos, como, por exemplo, quando estreou o "FMI" -, o Zé Mário é uma das figuras actuais da canção portuguesa mais conscientes do papel que os versos devem emprestar à cidadania e à participação das pessoas nas decisões da comunidade.
Em vésperas de eleições autárquicas, o poema cantado pelo Zé Mário, que abaixo transcrevemos, encaixa-se perfeitamente na vida dos políticos... Principalmente, os da nossa terra.
Do que um homem é capaz
As coisas que ele faz
Para chegar aonde quer
É capaz de dar a vida
Para levar de vencida
Uma razão de viver
A vida é como uma estrada
Que vai sendo traçada
Sem nunca arrepiar caminho
E quem pensa estar parado
Vai no sentido errado
A caminhar sózinho
Vejo a gente cuja a vida
Vai sendo consumida
Por miragens de poder
Agarrados alguns ossos
No meio dos destroços
Do que nunca vão fazer
Vão poluindo o percurso
Com as sobras do discurso
Que lhes serviu pr'abrir caminho
À custa das nossas utopias
Usurpam regalias
Para consumir sózinho
Com políticas concretas
Impõem essas metas
Que nos entram casa dentro
Como a Trilateral
Com a treta liberal
E as virtudes do centro
No lugar da consciência
A lei da concorrência
Pisando tudo pelo caminho
Para castrar a juventude
Mascaram de virtude
O querer vencer sózinho
Ficam cínicos, brutais
Descendo cada vez mais
Para subir cada vez menos
Quanto mais o mal se expande
Mais acham que ser grande
É lixar os mais pequenos
Quem escolhe ser assim
Quando chegar ao fim
Vai ver que errou o seu caminho
Quando a vida é hipotecada
No fim não sobra nada
E acaba-a sózinho
Mesmo sendo poderosos
Tão fracos e gulosos
Que precisam do poder
Mesmo havendo tanta gente
Para quem é indiferente
Passar a vida a morrer
Há principios e valores
Há sonhos e há amores
Que sempre irão abrir caminho
E quem viver abraçado
À vida que há ao lado
Não vai morrer sózinho
E que morrer abraçado
À vida que há ao lado
Não vai viver sózinho