quinta-feira, março 19, 2009

Malícia de franciscano


Ser é estar. Optar não é só escolher; é também viver. Viver é testemunhar. Francisco, o de Assis, assim prosseguiu, na sua missão humilde e grandiosa, na busca da revolução espiritual do Homerm. Pelo Homem Novo!
A mudança do mundo, melhorar o planeta e os humanos que lhe dão vida exige não só a modificação das estruturas sociais, mas também, e em primeiro lugar, a transformação do Homem no seu âmago, que é o coração, donde vem todo o testemunho e a poesia dos actos. Isso é Cristianismo, que privilegia o indivíduo, mais do que qualquer colectivo. Porque este é massificador, muitas vezes vezes injusto e poder absoluto, logo não abrangente no seu humanismo, muito relativo e subjectivo na acção. O Cristianismo ouve em primeiro lugar; depois até pode actuar, conforme as sinergias existentes na ocasião e no lugar. É por isso que há bons exemplos, como o de Francisco de Assis. E é por isso que o Cristianismo jamais morrerá.
A notícia, do Correio da Manhã, de hoje, de que o padre franciscano Vítor Melícias recebe uma pensão de 7.450 euros/mês vai inteiramente contra a utopia cristã. À parte os merecimentos, as competências, os cargos honrosos desempenhados, as obrigações sociais prestadas nas folhas de vencimento, é incompatível, totalmente incomportável, com o ideal franciscano chegar-se ao fim da vida com uma aposentação destas. Cristo e Francisco de Assis não se deram tão bem com o mundo e com o pecado organizado para merecem tamanha honraria. Já para não falar do voto de pobreza que o padre teve que fazer para ingressar na ordem franciscana.
Melícias até pode dar todo o dinheiro da verba mensal aos pobres, aos doentes, a toda a beneficiência... Mas isso não chega. O primado ético e moral dos franciscanos não vai por aí. O problema está no pecado organizado e, sejamos francos, na falta de testemunho, na forma como se chegou a tamanha honraria - benesse de nunca o beneficiário se ter dado mal com os poderes e com os poderosos. O seu reino não deveria ser o deste mundo, seguindo as instruções do Mestre.
Esta notícia entristece, sem dúvida. E desgosta. Tira brilho e poesia. Teria sido muito melhor que Melícias não nos tivesse cansado com tantos e bonitos sermões.
Bem prega Frei Tomás!...