segunda-feira, março 09, 2009

Amarante comemora 100 anos da chegada do comboio | 21 de Março


A Câmara Municipal de Amarante comemora, no próximo dia 21 de Março, o centenário da chegada do comboio a Amarante, com um programa que inclui, às 15:30, a abertura de uma exposição de fotografia e o descerramento de uma placa alusiva à efeméride, na estação de Amarante; a abertura, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira, da exposição “No Centenário da Chegada do Comboio a Amarante”, a apresentação de uma colecção de postais de António Teixeira Carneiro, seguida da Conferência “O comboio como factor de desenvolvimento económico e social”. As celebrações encerrarão à noite, decorrendo, na Casa das Artes de Amarante, a partir das 21:30, o concerto “Amar Guitarra".

A chegada do comboio, segundo o jornal “Flor do Tâmega” de 28 de Março de 1909

“Às 11:15 chegou o comboyo à estação, com as bandas de Amarante e Villa Boa tocando o hymno nacional; engenheiros, governador civil, jornalistas e muitas outras pessoas do Porto, Regoa, Marco de Canavezes, Barcellos, Penafiel, etc. Todos os logares vinham tomados, até os wagons de carga replectos de gente.
“(...) Na estação aguardava a chegada a philarmonica de Figueiró, que rompeu também com o hymno da carta, ao som dos vivas e do continuo estrallejar de dynamite. O comboyo era composto de 11 vehiculos: carruagens de 1ª e 3ª classe, salão, fourgon e 2 wagons de carga, rebocados pela locomotiva Compound 410, que vinha adornada com um tropheu de bandeiras, encimando um retrato a crayon do eminente orador Sr. Conselheiro António Cândido. Bordavam o retrato camélias. Em baixo, um ramo das mesmas flores, unidas por 2 largas fitas com as cores nacionais. Em três escudos – Salvé A. Cândido – viva Amarante – 1909, 21-3”.

O relato é do jornal “Flor do Tâmega” de 28 de Março de 1909 e dava conta do que foi a chegada do primeiro comboio a Amarante, sete dias antes, a 21. Estavam concluídos os primeiros 13 quilómetros de via da Linha do Tâmega, entre a Livração – na Linha do Douro – e Amarante, que agora iria progredir para nordeste. Faltavam mais 39 quilómetros de linha até ao Arco de Baúlhe, onde o comboio só chegaria em 1949, portanto 40 anos após Amarante.
Com localizações intermédias na Linha do Tâmega, Celorico de Basto viu chegar o primeiro comboio em 1926 e Mondim de Basto em 1932. A, inicialmente prevista, extensão da linha até Fafe e a sua ligação com o sistema suburbano da cidade do Porto, nunca viriam a concretizar-se. No total seriam construídos 52 quilómetros de via ziguezagueante, para contornar os acidentes do terreno, com apenas três estruturas de engenharia civil de razoável dimensão: dois viadutos com pilares de aço, imediatamente antes da estação de Amarante (no sentido ascendente), construídos, ambos, em 1908 e um grande viaduto de cantaria depois da estação de Chapa.
Até 1949, o material circulante na Linha do Tâmega tinha tracção a vapor, ano a partir do qual foram introduzidas as automotoras a diesel. Uma vez por semana, porém, a tracção a vapor continuou a ser utilizada até Arco de Baúlhe, num comboio misto que pretendia proporcionar maior capacidade de transporte. O mesmo acontecia em dias de festa (de S. Gonçalo, por exemplo), quando aumentava significativamente o número de passageiros.
Pelo menos em mais duas ocasiões foi usada na linha tracção a vapor: em 1984, com uma composição de uma locomotiva e quatro carruagens (este conjunto constituía o comboio histórico do museu do Arco de Baúlhe que o ex-Presidente da República, Mário Soares, viria a utilizar durante uma “Presidência Aberta” em Guimarães); e em 1988 com uma locomotiva e duas carruagens.
O ano de 1988 marcaria, de resto, o princípio do fim da Linha do Tâmega. De facto, alegando “uma extrema exiguidade de procura, tráfego reduzido e sobre-dimensionamento da oferta”, a CP viria, a partir de 28 de Maio daquele ano, a reduzir de cinco para três os comboios de Amarante para Arco de Baúlhe. E, menos de dois anos depois, implacavelmente a 1 de Janeiro de 1990, a cessar completamente a circulação entre aquelas duas estações, por entre muitos protestos.
Desde então, foram muitas as tentativas para reabrir a Linha do Tâmega, para fins turísticos, até ao Arco de Baúlhe, mas todos os projectos ficaram pelo caminho. Actualmente, a via está a ser transformada em ecopista entre as estações de Amarante e da Chapa.