domingo, outubro 26, 2008

Fígura ímpar de humanidade

Madeleine Cinquin
(Irmã Emmanuelle)
A semana que passou registou a morte de uma figura importante da actual Humanidade, Madeleine Cinquin, freira missionária e uma das figuras mais admiradas entre os franceses, em virtude de ter dedicado toda a sua vida a favor dos pobres mais pobres da sociedade, chegando até a viver ao lado deles. A radicalidade de Cristo! Faleceu a três semanas de completar 100 anos de idade.
Natural da Bélgica, era licenciada em Filosofia. Entrou para o convento aos 20 anos, tendo escolhido o nome Emmanuelle para a sua vocação, que quer dizer: "Deus connosco". Nos primeiros anos de religiosa, ministrou aulas na Turquia, Tunísia e Egipto. E foi precisamente na capital egípcia, no Cairo, que começou a desenvolver acções directas a favor dos mais desfavorecidos, ao ponto de chegar a viver paredes-meias, durante 20 anos, com mendigos e pobres dos bairros de lata. Regressou a França com 85 anos, mas a idade não lhe quebrou o favor apaixonado na defesa e emancipação social dos desventurados da vida, e, neste país, continuou a sua missão.
Emmanuelle tornou-se também conhecida pelo seu entusiasmo e pela frontalidade. João Paulo II dizia ter grande admiração pela missionária, mas esta não comungava com ele alguns pontos de vista. A religiosa defendia o casamento dos padres e a contracepção, falava sem dificuldade das suas crises de fé e chegou a pedir ao Vaticano que vendesse todos as riquezas para ajudar os pobres.
Quando se fala de Emmanuelle uma outra figura muito simpática entre os franceses nos vem à memória, que é o abade Pierre, falecido em Janeiro do ano passado, com 94 anos, fundador da Comunidade Emaús, "peregrino dos desfavorecidos", que pertenceu à Resistência Francesa na II Guerra Mundial, contra os nazis; foi amigo de Roger Garaudy, o filósofo francês que percorreu vários pensamentos ao longo da sua vida, relatados no seu emocionante livro "Viagem Solitária No Meu Século".
Emmanuelle e Pierre, ao invés de Teresa de Calcutá, não chegaram a receber o Prémio Nobel da Paz. A melhor homenagem que lhes podemos prestar será a de, independentemente do pensamento ideológico político e religioso de cada um, aprendermos a lição de que a resolução dos problemas humanos e sociais jamais se resolvem no topo da pirâmide, mas na base, ou seja, em comunhão com os mais desfavorecidos, mesmo que seja necessário comer com eles à mesa e dormir em seus aposentos, em bairros de lata.