sábado, outubro 11, 2008

"A verdade sou eu", disse Fátima Felgueiras que garante não ter razões para se arrepender

Política, política e mais política. Fátima Felgueiras diz que as acusações de corrupção, peculato e abuso de poder de que foi alvo "não fazem qualquer sentido" e que tudo não passou de "uma tramóia política assente em mentiras e monstruosidades", que terá sido montada para ludibriar a justiça e com o único objectivo de a derrubar. "São matérias que habitualmente não são debatidas nos tribunais e, por isso, sempre estive convencida de que não chegaria aqui", disse ontem a autarca na última sessão do julgamento do caso do "saco azul" do Partido Socialista (PS), referindo-se ao facto de ter sido obrigada a sentar-se no banco dos réus.
A sessão estava exclusivamente destinada a dar a palavra final aos arguidos e Fátima Felgueiras não perdeu a oportunidade para dizer o que lhe vai na alma. Mais que rebater os factos ou contraditar os elementos da acusação, optou por um longo discurso de contornos políticos, ao longo do qual procurou desenvolver a tese da conspiração. No final, disse acreditar que "a decisão final só pode ser de total absolvição", até porque, concluiu: "Sobre os factos não pode haver duas versões, e a verdade sou eu".
Convicta de que a acção política não se pode perspectivar pelas mesmas regras e códigos que orientam a Justiça - daí afirmar a sua perplexidade perante a acusação -, procurou realçar a ideia de que os factos que lhe são imputados foram sempre praticados "no exercício do cargo e no interesse de Felgueiras e dos felgueirenses". Por isso, afirmou: "Não posso sentir ou mostrar qualquer arrependimento", acrescentando ter até "muito orgulho" por aquilo que tinha feito ao longo dos anos.
Segundo a tese desenvolvida pela autarca, a "falsa e mentirosa tramóia em que envolveram a justiça" terá sido "montada por Horácio Costa com a cobertura do cunhado, António Bra-gança, do irmão, Orlando Costa, e de Joaquim Freitas", todos movidos pela "sede de poder" e "sem olhar a
meios". Horácio Costa e Joaquim Freitas, recorde-se, foram os titulares da conta bancária que alimentou as finanças paralelas do PS local, enquanto Bragança desempenhou funções de chefe de gabinete de Fátima Felgueiras e Orlando Costa tinha assento na assembleia municipal.
Explicando que Horácio Costa tinha chegado à câmara através "de uma cunha do Bragança", que lhe pe-
diu para o "colocar como chefe da polícia municipal", Fátima Felgueiras desenvolveu a tese de que tudo fez para chegar depois ao lugar de presidente da câmara, pretendendo derrubá-la através das "calúnias e falsidades" com que foi "alimentando a teoria do escândalo", tanto na comunicação social como junto da Polícia Judiciária. "A PJ foi obrigada a investigar sobre matérias que não conhece, que não estava preparada", disse, acrescentando que "foi permanentemente enganada [a PJ] por uma versão falsa que lhe ia sendo dada a conta-gotas", de forma que, "quando foi investigar, já ia com a versão feita".
Segundo Fátima Felgueiras, a estratégia acabaria por dar resultados, porque ela era uma figura com destaque nacional e a imprensa estava predisposta "ao escândalo e ao estardalhaço". "Fizeram disto um me-
diatismo enorme pelo facto de eu ser mulher, de ser presidente da câmara e ser dirigente nacional", disse. E acrescentou: "Eu era, de facto, uma autarca-modelo, e acho que ainda hoje o sou, o que levava a que fosse também uma promoção para os membros do Governo virem cá a Felgueiras" .
A leitura da sentença ficou marcada para o dia 7 de Novembro.
Público, de hoje