A homenagem a Aquilino Ribeiro e a transladação dos seus restos mortais para o Panteão Nacional estão a causar alguma indignação em certos meios intelectuais conservadores, devido ao facto de este escritor de primeira água ter estado ligado a acções de violência política com recurso a armas e a explosivos.
Sempre se soube que Aquilino pertenceu à Carbonária – uma organização secreta, ligada à maçonaria, em que chegou a militar 5% da população portuguesa, nem mais nem menos do que 40 mil elementos, que contribuíram decisivamente para a Implementação da República. O certo é que, tal como em todas as revoluções, a maioria dos revolucionários foram desarmados e até perseguidos pelos republicanos no poder, pois estes acabaram por temer uma revolução dentro da própria revolução, ou seja, o mesmo que acontecera à monarquia.
Aquilino é apontado como um dos arquitectos e até operacional do atentado que vitimou D. Carlos, mas, até ao momento, ainda ninguém conseguiu provar essa acusação. No entanto, fosse lá como fosse, Aquilino, para além de ser um grande escritor, foi um democrata corajoso, que lutou por um ideal, não privilegiou interesses pessoais e colocou a sua vida em risco. A situação política vivida no seu tempo - despotismo, mísera, atraso e corrupção - proporcionava uma determinada legitimidade revolucionária para actos que, se hoje são tidos como censuráveis e até terroristas, naquele tempo, eram, certamente, procedimentos de liberdade, para a evolução da História.
A propósito, há poucos anos, Jorge Sampaio, enquanto Presidente da República, condecorou Isabel do Carmo com a Ordem da Liberdade, respeitanto, assim desta forma, a filosofia da antiga militante de extrema-esquerda na luta por uma sociedade melhor.
A grandeza de uma verdadeira democracia consiste em compreender as pessoas independentemente dos caminhos que percorreram para alcançarem um ideal inefável.