"Sou pai e avô. Tenho uma boa folha de serviços à causa pública.É decepcionante acabar a minha carreira política desta forma", lamentou, ontem, Júlio Faria, antecessor de Fátima Felgueiras no cargo de presidente da Câmara Municial, no seu primeiro dia de interrogatório no tribunal que está a julgar o processo de "saco azul".
No interrogatório, o procurador Pinto Bronze esmiuçou pormenores que vieram a revelar contradições entre o depoimento de Faria e o da principal arguida, Fátima Felgueiras.
Horácio Costa e Joaquim de Freitas eram titulares de uma conta bancária, no BES, na campanha para as autárquicas de 1997 - a tal conta paralela do Partido Socialista que, alegadamente, era estaria relacionada com alegadas irregularidades na Câmara.
O MP, na tentativa de relacionar os arguidos Fátima e Júlio com o "saco azul", perguntou ao segundo se Horácio Costa, antes de ser vereador, era assessor municipal. Júlio respondeu que sim e que, por via dessa função, era chamado para tarefas partidárias, contradizendo, assim, Fátima Felgueiras. Porém, negou ter tido conhecimento da dita conta bancária. Mais à frente, o arguido disse que participou activamente na referida campanha eleitoral, ao contrário do depoimento da edil.
Júlio Faria confessou que o montante de mais de 32 mil contos, referente a uma indemnização ao proprietário do terreno da futura lixeira e pessoa ligada à Resin, foi "uma forma jurídica" para serem pagos futuros serviços à mesma empresa, que não tinha alvará.
O ex-autarca também admitiu ter sido baixado o preço da compra do terreno pela Câmara de 25 para 24 mil contos, "para não ter que ser ratificado pela Assembleia Municipal".