terça-feira, dezembro 05, 2006

Tenho momentos em que só me apetece chorar...


Tenho momentos em que só me apetece chorar. E, no entanto, nada nem ninguém me tiram a alegria que me faz e me veste todos os dias. Muito menos a Paz que me faz ser um homem saudavelmente conspirativo a todo o instante. Apetece-me chorar porque o Mundo que eu amo insiste em viver às avessas. Instalou-se na Mentira generalizada, servida por uma infernal máquina publicitária que deixa esmagado e quase sem fala e sem respiração cada menina, menino que vem a este mundo. A Mentira é hoje tão global, que podemos passar a vida inteira, do nascer ao morrer, a pensar que é luz a Treva que nos guia. Em quem tal acontecer, terá conhecido/sofrido o maior dos desastres e a maior das catástrofes pessoais.



À medida que as Igrejas cristãs, tanto as antigas como as recentemente instituídas por influência do perverso Sopro do Império norte-americano, deixam de viver casadas com a Profecia e passam a gastar o melhor do seu tempo, nos templos ou nos media, a blasfemar liturgicamente o Nome de Deus e a fazer fortuna sem quaisquer escrúpulos à custa das dores dos oprimidos e dos pobres, a luz do mundo e o sal da terra que por missão evangélica lhes compete ser, desaparecem progressivamente da História, e o Mundo fica cada vez mais entregue à Treva global e à Corrupção mais desenfreada e mais descarada. Uma Treva tão artificialmente iluminada, que deixa encandeados os olhos dos povos e os mantém cegos a vida inteira.



Perdemos então completamente de vista as vítimas da História e passamos a organizar as nossas vidas sobre a terra como se elas não existissem. E porque já não enxergamos as vítimas da História, apesar delas serem hoje milhares de milhões em todo o planeta, tão pouco somos capazes de escutar os seus gemidos e os seus clamores, pelo menos, daquele jeito tão salutar que nos dê um soco no estômago, nos atinja o coração e nos abra os olhos para vermos a Treva em que estamos a viver permanentemente à deriva e a fugirmos uns dos outros, como quem é puxado/sugado pelo vazio do Abismo, cada vez mais iminente. Só temos ouvidos para a publicidade que ininterruptamente nos invade por todos os lados e que tomamos por Verdade.



Dói-me o coração pelos seres humanos, meus irmãos. Por este andar, nunca chegarão a sair da alienação para a consciência crítica e autogestionária, nem da opressão para a liberdade e responsabilidade perante a História. Vivem, do nascer ao morrer, sob a perversa influência do sopro do Império, correm a encher/frequentar as suas liturgias nas catedrais do consumo, atordoam-se com as suas músicas sem amanhãs, vão de peregrinação a todos os seus lugares sagrados e sonham com o paraíso que está aí ao alcance de sucessivas ingestões de doses de droga.



Quando, por volta do ano 30 da nossa era, aconteceu Jesus nos caminhos da Galileia e na Judeia, as populações suas contemporâneas viram a Luz que saía da sua prática repleta de Misericórdia para com as vítimas e de vigorosa Denúncia/sereno enfrentamento dos seus carrascos, e perceberam, como num relâmpago, que até então sempre tinham andado a viver na Treva e na Mentira. Perceberam também que a paz do Império e do Templo era subjugação e vergonha. A experiência teve o sabor a Nova Criação e pode ter durado pouco mais do que o tempo de um relâmpago. Mas foi suficiente para que a Humanidade caísse na conta de que a luz do Império não passa de densa Treva e que a sua paz é subjugação e vergonha.



É desse Momento histórico ímpar e que tem a força da eternidade que também a Humanidade do século XXI pode resistir ao Império global que nos calhou em sorte, e inventar/criar caminhos de vida humana alternativos na Luz/Verdade e na Paz conspirativa que é Jesus, o de Nazaré. Sem se deixar enganar pelo brilho cada vez mais potente das luzes do Império, as quais mais não pretendem do que manter-nos permanentemente encandeados e cegos, do nascer ao morrer. E surdos perante as vítimas e uns perante os outros. Felizes aquelas mulheres, aqueles homens que se fazem como meninas, meninos e propositadamente se perdem dos mentirosos caminhos do Império, para se encontrarem na Luz que brilha para sempre na prática alternativa e radicalmente humana de Jesus, o de Nazaré. Ou ele não seja o Caminho, a Verdade e a Vida.