sábado, outubro 21, 2006

Crónica da Suror Saudade - Carta a Marta

Olá Marta:



Certamente, não me conheces; sou a Suror Saudade, uma mulher de meia-idade – uma rica quarentona, que anda por aí ao deus-dará na política felgueirense.


Li o teu artigo. Gostei muito, quase de tudo, do que escreveste naquela meia página do "Semanário de Felgueiras". Dou-te os meus sinceros parabéns. Não sabes o quanto fico contente e até realizada quando me deparo com uma pessoa da tua idade com tanta exigência estética - a que foi imprimida no referido artigo - e, sobretudo, pela coragem de dizeres o que, de facto, “poucos escrevem” como tu e como eu.


Dou-te ainda redobrados parabéns, pois, queiras ou não, com a publicação deste teu primeiro escrito político, acabaste por te tornar o rebento mais novo da política local, não obstante os poderes instalados estarem permanentemente alerta vigiando estes fenómenos de generosidade. E quando falo em poderes instalados, refiro também aos dos "lugares cativos" da Oposição, amorfos, que vivem mendigando benesses, tornando-se acólitos dos seus adversários no poder. Mesmo assim, bem-vinda à política da “terra dos fenómenos” (antigamente, era o Entroncamento).


Na realidade, cara Marta, passaste a pertencer ao grupo das 300 pessoas do concelho que, directa ou indirectamente, se interessam e se envolvem no debate sobre a felicidade dos humanos felgueirenses, tão ultrajados que andam com políticas sem sustento quanto ao futuro – ao teu futuro, já que és uma jovem com atitudes políticas promissoras. Como vês, até por isso tenho de te felicitar – por tão fervorosa chegada, apesar de militares na Jota há já uns tempos. Como tal, desejo, sincera e ardentemente, que consigas levar por diante a exposição das tuas ideias, porque, concorde eu com elas ou não, fico feliz, muito radiante, quando alguém nesta terra – a tal dos “fenómenos” –, ao fim de um certo tempo, consegue manter a opinião viva, intacta e inviolável.


Podes estranhar por que é que esta velha, que sou eu, já viciada nos maus costumes da política local, está p’ra aqui a tagarelar… Até parece desdém ou inveja!... Mas não é, Marta, podes crer. Todo este texto é uma exultação profética, uma recepção gloriosa à tua chegada, porque, na história deste concelho, são poucos os que aos 20 e poucos anos se estream nestas andanças.


Não te quero desmotivar – bem pelo contrário! -, mas tens que te prevenir de uma coisa: neste concelho quem entrar na Cultura e na Política sem pedir licença está tramado (olha o que fizeram ao meu editor!...). E olha só, por exemplo: quantos “opinion makers” há na imprensa local? Quantos blogues conseguiram resistir às pressões? Como vês, em Felgueiras, a “massa crítica”, praticamente, não existe, porque é, a priori, adulterada com promessas de benesses, o que não vai ser o teu caso, ou chantageada e perseguida. Temo bem que te tentem chantegear! Se isso acontecer, cá tens a Suror Saudade, amiga do teu pai, que o conhece há muitos anos. Mesmo que o não fosse, estaria sempre contigo, não para defender propriamente as tuas ideias, mas tão-somente para defender o teu espaço de liberdade, para as expores.


Apelo, assim, filha do meu amigo, para que continues, para que prossigas nesta bonita missão de expressar palavras e gestos, na construção de um concelho com mais riqueza mas também com mais Cultura; com mais Liberdade, sentimento de cidadania, participação, enfim, a realização das utopias sonhadas pela geração de teus pais.

No entanto, se me permites, e não sendo isto uma crítica destrutiva, aconselho-te para não usares a mesma terminologia literária da geração que te antecedeu – que é a minha. Tens potencialidades para mostrares a tua modernidade, horizontes largos para o pleno século XXI. Concordo que Caldas Afonso e Luís Lima – os vereadores do teu partido – não estarão a cumprir a intenção do eleitorado que os elegeu. Apesar de ser amiga pessoal do primeiro, reconheço isso – aliás, já o tenho dito, sem papas na língua, ao bom jeito que ele me conhece. A propósito, sei que há para aí uns encontros informais e sigilosos entre elementos da Concelhia do PSD, os dois vereadores do partido e figuras superiormente hierárquicas a nível nacional, no intuito de ser reformulada uma estratégia comum quanto ao papel do PSD no Executivo municipal. De facto, da parte do teu partido esperava-se uma Oposição mais ácida, condizente com a formação partidária que lidera, em termos numéricos (10 mil eleitores), esse papel, mas, na prática, tal não acontece.

Contudo, não gostei do quarto paragrafo do teu artigo, pois faz referências quase pessoais em relação a Caldas Afonso, ou seja, onde ele mora, onde trabalha, o que tem e o que não tem em termos de iniciativa privada. Francamente, Marta, acho que não é por aí que deves agarrar as questões, pois são assuntos gelatinosos cuja razão te pode escorregar facilmente da mão. E até pode parecer quezília...

Sobre a referência que fizeste ao património pessoal e empresarial do vereador em questão, fizeste-me lembrar a postura do PS/Felgueiras durante 30 anos, até 2005. Por exemplo, lembro-me de, num comício da campanha para as autárquicas de 97, Júlio Faria ter dito que Manuel Faria, então cabeça-de-lista do PSD, não podia ser um bom presidente de câmara porque é um empresário sem tempo para a política. E até foi grosseiro, ao dizer: "Cada macaco no seu galho". Como se os políticos e os empresários desta terra fossem realmente macacos! Torno-te a dizer, cara Marta: não é uma crítica destrutiva, mas um conselho amigo, apesar deste conselho não me ter sido pedido.


Finalizando, cara Marta, tens muita matéria pela frente, tanta quanta a longevidade que a natureza da tua juventude promete. Por falar nisso, posso dar-te umas dicas importantes:


  1. Quem lidera o PSD/Felgueiras? Francisco Cunha?!... Não creio. Parece que anda perdido; delega os seus discursos e entrevistas em Eduardo Teixeira, que é uma espécie de “Che Guevara” do partido. Muita revolução, muita revolução, mas, ao contrário, do “El Comandante”, não tem seguidores…
  2. Agostinho Branquinho, há duas semanas, reconheceu, num jornal da terra, que há descontentamento no PSD local. Ninguém da Concelhia veio a público comentar o assunto. Eduardo Teixeira critica tanto bastante o poder - o bastante para o incomodar -, mas quando se trata de assuntos internos (do PSD) perde facilmente a sua feição de combatente e passa a um frio pragmatismo, nada condizente com o seu feitio “revolucionário”. Não será isso, também, uma maneira de “assobiar para o lado”? Não será uma forma de estar com a maioria política, no poder, preterindo soluções internas (do PSD), adiando, desta maneira, uma estratégia credível, bem concertada?
  3. Nas duas grandes formações políticas adversárias do PSD, que são o movimento “Sempre Presente” e o PS/Felgueiras, existem figuras, como Marques da Silva e Lemos Martins, com capacidade para debaterem assuntos técnicos da política na Assembleia Municipal – por exemplo, o Orçamento e o PIDACC. Neste momento, o PSD não tem ninguém com essa faculdade (os que existiam já não estão no activo).



Como vês, cara Marta, tens muito trabalho pela frente. Deus te ajude! Mando cumprimentos, a ti e ao paizinho. Diz-lhe que, um dia destes, hei-de visitá-lo, pois a amiodipina já não controla a minha tensão arterial.


Deixo-te um videoclipe, que foi muito apreciado pela geração do teu pai - um tributo a Ernesto Che Guevara, para te inspirar a fazer a Revolução desejada para Felgueiras, a partir do interior do partido pelo qual abraçaste a política.
















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