O DIÁRIO DE FELGUEIRAS condena o facto de o PCP ter convidado para a festa do Avante, na quinta da Atalaia, uma representação das FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo), que até teve direito a stand e a uma grande placa em que se via a sigla toda escarrapachada daquele grupo terrorista.
As FARC-EP dizem ser um movimento político e auto-intitulam-se revolucionárias, mas não são nada disso. Fazem parte do cerne mafioso da Colômbia, realidade a que o próprio aparelho de Estado, também, se encontra envolvido. Por exemplo, as FARC-EP nada têm a ver com a linha revolucionária de Che Guevara, que tinha como principal ideal fazer o Homem Novo nos países da América Latina, onde regimes de extrema-direita tiranizavam aquela região do mundo.
É certo que a Colômbia não é um país onde a democracia funcione normalmente; é certo que há grupos paramilitares apoiados nas estruturas do Estado que torturam e matam militantes de esquerda e sindicalistas; é certo que, na generalidade, São poucos os que respeitam os direitos humanos naquele país… Mas o que são as FARC-EP? Uma organização mafiosa, corporizada num exército que recruta e "profissionaliza" milhares de pessoas, que chega a ocupar zonas territoriais, não se tratanto, porém, de um clássico movimento de guerrilha; que aproveita a situação caótica do país e os valores da esquerda, representados por outros colombianos (generosos, sofredores e mártires da acção do Estado e das próprias FARC-EP) para justificar as suas redes de narcotráfico e a angariação de dinheiro sujo para os seus dirigentes, que fazem festanças com os responsáveis máximos dos cartéis da droga e com alguns agentes da CIA, apesar de, publicamente, haver feroz inimizade entre a organização terrorista e o governo dos EUA. No fundo, são todos terroristas. Se disserem que as FARC-EP têm como cúmplices, nas suas redes de narcotráfico, os governos de Cuba e dos EUA, acreditamos plenamente. O caso do general cubano Ochoa, executado pela Justiça do país de Fidel, por alegado envolvimento no tráfico internacional de droga, ainda está mal explicado.
AS FARC-EP, não obstante recrutarem soldados junto das universidades, não devem ser consideradas como uma clássica organização de luta armada, nem sequer por exemplo, como a ETA, o IRA ou as FP-25 (estas já de si condenáveis). Trata-se de um autêntico exército em moldes semelhantes aos dos Estados. Como acontece com a redes de droga nas favelas do Rio de Janeiro, as FARC-EP, para um cidadão comum da Colômbia, acaba por ser uma "entidade empregadora" em que o soldado-terrorista arranja uma maneira de "garantir" a sua sobrevivência. É certo que esta realidade é fruto da situação económica da Colômbia e das consequentes desigualdades sociais, mas não é a acção das FARC-EP que vem resolver os problemas. Pelo contrário, vem ensarilhá-los.
As FARC-EP estão nos lugares cimeiros das organizações do mundo não-governamentais que mais violam os direitos humanos, responsáveis por assassinatos indiscriminados, extorsões, raptos e sequestros. Têm o hábito de cometer esses crimes sobre os mais fracos… para atemorizarem os mais fortes. E é dessa maneira que lançam a chantagem física e psicológica por todo o país, para conseguirem os seus nefastos objectivos. O rapto da ecologista Ingrid Betancourt, do Partido "Oxigénio Verde", em 2002, durante a campanha eleitoral para as eleições a que se tinha apresentado como candidata à presidência da República é um dos muitos sequestros perpetrados na Colômbia. Ingrid encontra-se ainda em cativeiro, desde essa altura (há quatro anos!) e, não obstante uma campanha internacional, ainda não foi encontrada uma solução diplomática para a sua libertação.
Álvaro Uribe, embora seja o presidente da República da Colômbia, não é, obrigatoriamente. o principal responsável de toda a repressão exercida pelo Estado, até porque os esquadrões paramilitares, quase sempre, partem mais por iniciativa das forças políticas que apoiam os governantes do que propriamente por estes. O problema é que em países de democracia em situação periclitante, como a da Colômbia, a cultura da violência proporciona a que os capangas dos governantes criem os seus próprios “órgãos” repressivos, paralelos ao do Estado – os chamados esquadrões da morte – para os fins mais variados, até para execuções por motivos pessoais. Uribe, que não é da estirpe de Pinochet nem de Rios Monte, tem-se desdobrado em esforços para que as FARC-EP aceitem dialogar e abdiquem das armas, mas a organização mafiosa rejeita sentar-se à mesa das conversações.
O PCP, no início dos anos 80, não tomou qualquer solidariedade com Isabel do Carmo e Carlos Antunes, quando se encontravam presos e em greve de fome, acusados de militarem nas BR-PRP (Brigadas Revolucionárias-Partido Revolucionário do Proletariado) e de serem autores de atentados bombistas, nunca tendo sido, porém, apontados de terem assassinado alguém. O PCP não só não deu a sua solidariedade como puniu disciplinarmente um seu deputado, por ter dito na Assembleia da República que estava solidário com os dois presos. E mais: deixou de convidar durante muitos anos o cantor Vitorino para a Festa do Avante, por, igualmente, ter dito o mesmo, na edição do evento em que culminou com a referida greve de fome.
Ninguém iria reparar se o PCP tivesse convidado, como já o fez, uma representação da OLP, por exemplo. Todos os movimentos de luta pela independência dos seus povos usam os seus métodos discutíveis, bem como os serviços secretos dos países tidos como civilizados (como, por exemplo, a tenebrosa Mossad, de Israel), mas convidar as FARC-EP para a festa de um partido como o PCP, que já tem mais de social-democrata que de marxista-leninista, é tamanho disparate, que só demonstra que o PCP, depois da queda do bloco de Leste, nunca mais se pôs de pé, por muito que se esforce em mostrar o contrário nas suas habituais “liturgias”. Anda à nora em busca de apoios para a sua referência "comunista internacionalista" em países como a China e a Coreia do Norte, para além de Cuba.
O PCP não percebeu a tempo que a sobrevivência dos valores da esquerda, tais como os das religiões, passam pela Terceira Via, num mundo sem o Liberal Capitalismo e sem o Comunismo de Estaline. Hoje a esquerda tem de decifrar o somatório de todas as experiências ocorridas da sua própria história, desde o século XIX, para colher o trigo e rejeitar o joio, no sentido de retomar o caminho da Utopia, com vista ao futuro, em que o saber empírico corrija em cada o momento aquilo a que o PCP, eufemisticamente, costuma designar de “desvios”, sobre os quais o Comité Central ainda não arranjou coragem para fazer uma séria reflexão.
A presença das FARC-EP na festa do Avante passou despercebida à Comunicação Social. O alerta foi lançado pelo blogue "Tugir" (clique aqui), que despoletou uma campanha de solidariedade em toda a blogsfera nacional, cujo assunto, brevemente, irá chegar à Assembleia da República, em que vai ser proposto um voto de solidariedade para com Ingrid (tratando-se de uma ecologista, o que pensarão "Os Verdes", parceiros do PCP na coligação unitária?). Uma prova evidente de que os blogues são novos instrumentos de democracia.
O DIÁRIO DE FELGUEIRAS entra, desta forma, na campanha de solidariedade para com os sequestrados das FARC-EP.
Parabéns aos responsáveis do blogue "Tugir", Luís Novaes Tito e Carlos Manuel Castro!
É tão condenável a presença das FARC-EP na festa do Avante como a passagem de aviões da CIA por solo português.