José Barros Moura morreu há três anos, a 25 de Março de 2003. Envolvido num combate, que ele partilhou para renovar a concelhia do PS de Lisboa, que perdi, não escrevi nada nessa altura sobre o que me doeu a morte deste camarada e amigo.
Passados três anos quero dizer que não esqueci o seu exemplo e quero manifestar uma vez mais a minha gratidão.
José Barros Moura foi um verdadeiro socialista, um homem de carácter que lutou até ao fim por um socialismo vivo e permanentemente repensado e pela decência na vida pública.
Valeria a pena procurar reunir e editar os textos que deixou espalhados pela imprensa, que nos ajudariam a orientar no sentido de construirmos uma sociedade mais justa e solidária.
Recordo-me de José Barros Moura, quando eu era um jovem estudante, e ele era uma das vozes mais ouvidas do Movimento Estudantil durante a crise de 1969 em Coimbra.
Utilizei os seus livros, quando comecei a dedicar-me ao Direito do Trabalho, para a defesa dos direitos dos trabalhadores.
Participei em debates com ele sobre o racismo e a discriminação racial, quer em Lisboa, quer no Parlamento Europeu, onde fui por sua iniciativa.
Recordo o excelente contributo que deu quando da elaboração da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, juntamente com uma deputada do PSD, Eduarda Azevedo. Não esqueço como procuraram, sem sucesso defender melhor o direito de acesso dos imigrantes ao trabalho nesse importante documento.
Um jurista brilhante, Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Clássica de Lisboa, um deputado que se distinguiu pela competência, empenhamento e capacidade de intervenção quer no Parlamento Europeu, quer na Assembleia da República.
Tendo sido presidente da Assembleia Municipal de Felgueiras (1998/2001) manifestou a sua discordância relativamente à forma como então era gerido o município. Não voltou a ser eleito deputado à Assembleia da República, o que foi uma enorme injustiça. Continuou extremamente empenhado na sua luta por um socialismo vivo, intervindo com regularidade na comunicação social.
Em 13 de Janeiro de 2003 deu, a que julgo ter sido, a sua última entrevista ao jornal “Público”. Depois disso já hospitalizado, ditou a um amigo e camarada Gameiro dos Santos, uma mensagem de apoio à luta que travávamos, e perdemos, para renovar a concelhia do PS de Lisboa, exprimindo a sua confiança em que celebraríamos juntos a vitória.
Depois disso visitei-o algumas vezes no hospital. Recordarei sempre a última vez que estive com ele, antes da sua morte. Estou convencido que, quando chegar a minha vez a recordarei e nela procurarei ânimo.
Como homenagem a este socialista autêntico recomendo a leitura da sua última entrevista concedida a São José Almeida do “ Público” de 13 de Janeiro de 2003 na qual alertou para o financiamento ilícito da vida política. Nela afirmou, designadamente, que: “Isto aponta para que toda a espécie de criminalidade de colarinho branco, corrupção, fraude fiscal, branqueamento, tráfico de influências, decisões públicas para beneficiar interesses de imobiliárias e do betão, sobrefacturação de contratos com autarquias e com o Estado, promiscuidade entre autarcas, construtores civis e futebol, sacos azuis, tudo isto pode estar ligado ao financiamento ilícito da vida política”.
Foi, como disse, um pensador criativo, um verdadeiro socialista e um cidadão exemplar, cuja intervenção de qualidade não teve o reconhecimento que merecia.Aprendi com outro grande socialista, Francisco Salgado Zenha, que na política não há gratidão, mas que devemos ser gratos.
Quero apenas deixar claro, quanto considero importante o exemplo e o pensamento de José Barros Moura para a luta por um socialismo vivo, que continua a fazer todo o sentido.
Obrigado e até sempre, camarada!