segunda-feira, julho 17, 2006

Grande entrevista ao "Semanário de Felgueiras"

Política
Foto: "Semanário de Felgueiras"
Mal estaria o PS se estivesse dependente
dessas pessoas [do movimento "Sempre
Presente]. Como diz o povo, de insubstituíveis
estão os cemitérios cheios.
O PS sofreu uma grande derrota eleitoral nas eleições autárquicas e passou de partido do poder para partido da oposição. A que factores se ficou a dever essa derrota na sua perspectiva?
Em relação a esta matéria já se escreveu demasiado, muitas foram as leituras feitas assim como muitos foram crucificados como possíveis culpados da derrota eleitoral em Outubro passado.

Embora a preocupação desta comissão política seja essencialmente discutir o presente e o futuro, na realidade estes não se constróem sem os alicerces do passado; quer o positivo, quer o negativo desses acontecimentos têm obrigatoriamente de servir como base de aprendizagem, de forma a que não se cometam os mesmos erros e assim possamos contribuir para um futuro mais profícuo no que se refere à vida do Partido Socialista neste concelho.

Nós assumimos, depois de escalpelizar esta matéria desde que chegámos à liderança do PS-Felgueiras, que a principal razão para o insucesso eleitoral no ultimo sufrágio autárquico se deveu essencialmente a uma causa externa ao próprio partido e tem a ver com o regresso da candidata do Movimento Sempre Presente. Este foi o factor primordial que fez dividir a base social Socialista no momento do voto. A sua popularidade junto da população é hoje notória e factual que ainda era muito grande; os meios de marketing da sua campanha foram bastante eficazes e fizeram com que a população voltasse a acreditar que essa seria a melhor solução para o futuro do concelho. Os valores gastos na campanha pela equipa vencedora e toda a cobertura dos média foram também factores decisivos para este resultado.

No entanto, consideramos que se cometeram demasiados erros na candidatura Socialista. A estratégia delineada, cremos não ter sido a mais adequada tendo em conta essa nova realidade. Por outro lado, sejamos sérios, existiram alguns erros de casting nos protagonistas escolhidos para os lugares de relevo da candidatura Socialista e talvez um demasiado afastamento da matriz do aparelho socialista tenha levado a que se criasse um clima insustentável dentro da máquina política do partido. Em consequência, assistimos a um completo alheamento do partido em relação à campanha, bem como, igualmente, da juventude socialista que, desde o inicio, não esteve disponível nem empenhada na mesma e à falta de factores ou protagonistas que em última instância galvanizassem com a sua actuação um significativo número de valores que permitisse criar uma dinâmica de vitória.

De que forma pensa fazer renascer o PS em Felgueiras?

O PS-Felgueiras iniciou agora um novo ciclo da sua vida. Com a eleição desta Comissão Política, os militantes acreditam que, globalmente, a família socialista se revê na intenção dos nossos propósitos e das nossas propostas.

Prometemos renovar e, no plano dos protagonistas, fizemo-lo... Cerca de 80% desta Comissão Política nunca tinha exercido qualquer cargo de natureza política. No entanto, a renovação que pretendemos é mais ampla e, assim, na mudança de atitudes, de postura e de comportamento dos seus intervenientes, estarão algumas soluções capazes de restituir alguma nobreza ao simples acto de contribuir activamente para a discussão dos problemas que afligem o quotidiano das nossas populações. Servir o Concelho e o PS e não servir-se dum ou doutro. Tomámos posse somente há dois meses, mas já conseguimos realizar 30% das razões que nos levaram à nossa candidatura, razões essas apresentadas na nossa moção estratégica para o Biénio 2006-2008.Conseguimos eleger três membros para a Comissão Política Distrital e ainda um por inerência (do Presidente da Comissão Política). Nunca o PS-Felgueiras teve uma voz tão plural neste patamar intermédio de poder. Essa confiança vem na sequência da capacidade e competência dos interlocutores que apresentamos ao Presidente da Federação Distrital. Naturalmente que esta responsabilidade saberá traduzir-se em novo poder reivindicativo e de influência junto dos órgãos distritais e nacionais.Pela primeira vez no PS-Felgueiras foi apresentada à discussão e posterior aprovação um regimento de conduta e actuação para a Comissão Política Concelhia. Criámos já diversas Comissões Coordenadoras, das quais destacava a Coordenadora da Comunicação, cuja responsabilidade será, de imediato, promover a criação de instrumentos de informação para o exterior do Partido, entre os quais o site oficial do PS-Felgueiras e respectivo Blog que se encontram em construção, tendo também como incumbência a criação dum arquivo com toda a matéria relevante em termos dos média sobre o PS-Felgueiras e o Concelho em geral.

Aprovámos também a constituição do Grupo Coordenador Autárquico, cujo trabalho será de primordial e vital importância para o futuro do PS-Felgueiras. Da sua competência realçava a criação das células de auscultação por freguesia, de forma a que se realize um trabalho de sapa atempado, sério e interventivo, de forma a elencar todas as carências, necessidades e fragilidades das 32 Freguesias do Concelho, tendo também em linha de conta a preparação de novos protagonistas como forma de – com sustentação – delinear alternativas para o futuro.

O PS-Felgueiras sente que perdeu parte da sua identidade para o Movimento Sempre Presente onde figuram alguns ex-socialistas?

Mal estaria a instituição Partido Socialista se estivesse dependente dessas pessoas... Como diz o povo, de insubstituíveis estão os cemitérios cheios.

O PS detém algumas presidências de Junta. Como tem sido a relação da concelhia com os autarcas?

Até este momento tem sido dialogante, responsável e cordial. Acreditamos que os autarcas eleitos pelo PS estão cientes das suas responsabilidades assim como da confiança que em si depositaram as populações quando os elegeram.
Sabemos que saberão, com uma postura digna, responder positivamente no futuro a todos os desafios que se apresentem.

E com os que foram eleitos directamente para a AM?
A situação é praticamente a mesma, mas com uma responsabilidade acrescida que é o facto de serem representantes políticos do partido por excelência, no que concerne à fiscalização do poder executivo e sua actuação.

Que relação tem a concelhia com o actual líder da bancada, o presidente da Junta de Caramos, António Fernando Sampaio?
Temos uma relação baseada na confiança, na capacidade, competência e assumida dignidade com que tem exercido o cargo até esta data, a que acresce um mútuo respeito político pelo trabalho desenvolvido enquanto autarca socialista. Sabemos que tomará sempre as atitudes que a sua consciência lhe dite, sendo a mesma guiada pelos ideais, princípios e valores defendidos pela matriz socialista.

Consta-se que pondera abandonar o lugar... Que comentário lhe merece a situação?
Como entende, essa é uma matéria do foro estritamente pessoal. Na devida altura ele mereceu a confiança dos seus pares, sendo eleito para o cargo que naturalmente ocupa... Será, pois, dele, sempre, uma decisão quanto à sua manutenção ou não nesse cargo e se tem disponibilidade para tal. Acredito, no entanto, que possa existir, eventualmente, alguma dificuldade na acumulação do cargo de líder da bancada com as suas responsabilidades enquanto Presidente de Junta. Sabem que as juntas são reféns, em termos de verbas, do executivo municipal. Por isso, acreditamos ser uma exigência e um sacrifício extraordinário que o Sr. Fernando Sampaio tem vindo a realizar, sempre com o receio de poder prejudicar a população que em si confiou, pelo simples motivo de ter que, em circunstâncias especiais, tomar atitudes perfeitamente antagónicas aos interesses do executivo camarário. Seja, no entanto, qual for a atitude que tome, seremos sempre solidários com ele, lembrando que qualquer outro elemento da nossa bancada que exerça este cargo, o fará na mais estrita realidade das suas competências, aptidões e defesa intrínseca dos interesses da população de Felgueiras e do PS.

Recentemente a concelhia a que preside retirou a confiança política ao vereador Rui Silva por causa da votação em sede do executivo de uma proposta polémica que visava a aquisição do imóvel atrás da Câmara. Foi uma tomada de posição que pretendeu demonstrar que o PS é oposição e que não permitirá colagens dos seus eleitos ao “poder”?

Como se sabe, e a população reconhece, o PS não necessita de tomar qualquer posição para demonstrar que é oposição. Infelizmente essa é factual: perdemos as eleições, perdemos o poder, somos oposição, não existe pseudo-oposição ou semi-oposição. Quanto ao dossier vereador Rui Silva, o mesmo foi tratado de uma forma transparente, rigorosa e com a firmeza que a gravidade de actuação do vereador em regime de substituição exigia.

Foram realizadas duas reuniões com o respectivo vereador, nas quais lhe foi comunicada a estratégia que o PS-Felgueiras pretende seguir no futuro. Foi-lhe referido, no que concerne ao referido ponto polémico da aquisição de imóvel, que consideramos ser mais um negócio ruinoso para o erário público, dando-lhe, no entanto, o beneficio da dúvida e pedindo que apresentasse argumentos que justificassem a sua aprovação em reunião de câmara. Não teve qualquer argumento válido em relação a esta matéria. De uma forma que consideramos desrespeitosa para com a instituição PS, desvalorizou a sua integração e eleição nas listas socialistas e respectiva solidariedade política que daí adviria. No entanto, o mais grave e consequente razão da tomada de posição do Secretariado e ratificação pela Comissão Política quanto à conduta deste vereador, tem a ver com o patrocínio e participação, conjuntamente com o restante executivo, do que consideramos o mais grave atropelo ao regular funcionamento das instituições concelhias, duma reunião convocada pela Sr.ª Presidente da Câmara com todos os Presidentes das Juntas de Freguesia. com o único intuito de “Preparação da Assembleia Municipal”.Nunca desde o 25 de Abril se cometeu tamanha atrocidade à liberdade de actuação dos eleitos locais, aqueles que em representação do povo devem em órgão próprio deliberar e fiscalizar o executivo e sua actuação, serem convocados de forma a lhes serem dadas indicações de voto.Tal actuação é antidemocrática e fere todos os princípios por que se rege um estado de direito.A esterilidade da política felgueirense é reconhecida, mas que não se desacreditem com atitudes indignas aqueles que são os pilares da confiança nas instituições democraticamente eleitas.

Ao vereador socialista exigia-se contenção, bom senso e postura democrática, assente na humildade do serviço à população. No entanto continuou até à exaustão a tentar dissuadir, pressionar e demover os eleitos socialistas de votar contrariamente ao que, com a sua presença, tinha sido deliberado em reunião do grupo parlamentar ou seja o voto contrário á aquisição do referido imóvel. Perante tal postura não restava outra alternativa a esta Comissão Política que não fosse a de tomar a atitude que é publica.

E se os presidentes da Junta tivessem votado a favor da proposta na AM. Que posição teria tomado?

A concelhia irá tentar, ao contrário do passado, não dar orientações de voto, mas tão somente discutir, analisar e, em colectivo, decidir o sentido das votações, sempre na observância dos interesses dos nossos concidadãos, tal como aconteceu para tratar este assunto.
Se nalguma matéria em que a concelhia dê orientação de voto aos seus eleitos num determinado sentido e eles votarem noutro, que posição tomará a concelhia socialista que lidera?

Por princípio essa questão não se colocará, dado que, como já referi, não dará, por sua exclusiva iniciativa tais orientações. Mas se, hipoteticamente, algum dos nossos eleitos decidir tomar posições contrárias aos interesses do colectivo, será, obviamente, objecto de análise e consequente decisão, caso a caso.

Como vê um possível regresso de José Campos ao executivo para ocupar o seu lugar que, como sabe, está preenchido por Rui Silva em sua substituição?

Julgamos que José Campos saberá, em consciência, tomar a decisão que melhor defende os interesses da população e do PS. Tendo em conta a conjuntura político-social do concelho julgo ser um dever cívico e de cidadania o sacrifício, esforço e dedicação que esta atitude acarreta. No entanto, confiamos que José Campos saberá honrar todos aqueles que em si confiaram e ajude a credibilizar o lugar de honra que deve ser a assunção representativa do povo.

Que apreciação faz do desempenho da maioria no executivo municipal?
É difícil para o cidadão atento e informado fazer uma apreciação acerca do desempenho deste executivo, pela simples razão que nestes 9 meses não existiu desempenho. Este executivo tem passado ao lado de todos os problemas concelhios e tem tido uma “postura de avestruz”, gerindo o concelho com base na despesa corrente. Não existe, por exemplo, uma política para a Juventude. Onde está o Conselho Municipal da Juventude? Onde está a casa da Juventude? Onde foram realizadas as Felgueiríadas? Onde estão os apoios às diversas instituições desportivas do concelho (com excepção das piscinas municipais)?...Temos um concelho com uma média de desemprego superior à média nacional... Onde está o poder reivindicativo deste executivo junto das instâncias de poder? Que atitudes se estão a tomar para a revitalização do tecido empresarial concelhio, sabendo das dificuldades que os sectores tradicionais da indústria atravessam?Que tem feito este executivo em relação à problemática do encerramento do Curso de Hotelaria e Turismo no ISCE?Qual a razão de se terem criado duas empresas municipais e estarem outras na forja? Quais são as necessidades e os interesses subjacentes à feitura destas sociedades e, no caso especifico da sociedade anónima que irá gerir o Parque Industrial de Várzea, não será esta uma segunda OIF que poderá levar o ordenamento industrial do concelho a um beco sem saida, com despesas avultadas para o erário publico?...Estes são temas da actualidade destes nove meses de amorfismo e inacção por incompetência deste executivo.No entanto, no plano da propaganda, do folclore e do foguetório, realizou-se e investiu-se mais do que em qualquer concelho vizinho.Vivemos, para infortúnio da nossa população, um período de populismo sem qualquer retorno para a qualidade de vida dos Felgueirenses.

Que matérias da vida social e económica de Felgueiras o preocupam mais enquanto dirigente partidário?

Muitas das preocupações já as referi anteriormente. No entanto, o encerramento de diversas unidades industriais, a falta de ocupação e de uma política para a juventude, o flagelo da droga, a falta de um plano de segurança, o desemprego, a falta de qualidade de vida, de que saliento os baixos índices de saneamento, são algumas das grandes preocupações que, na minha perspectiva, atormentam constantemente, de uma maneira geral, as gentes da nossa terra.