A festa de Natal é uma das mais belas e fraternais celebrações da humanidade. Tem origem na distante Idade Média, por volta do séc. III, por contraposição à festa pagã do solstício de Inverno, a festa do deus Mitra. Esta divindade, de origem persa, era muito popular. Considerava-se que se tinha aliado ao sol para obter o calor e a luz que faziam com que as raízes das plantas rompessem a terra e florissem. E foi um pouco o que aconteceu connosco, quando Deus se tornou homem para iluminar os caminhos da humanidade. Terá sido isso que concluiu o Papa Júlio I, ao fixar o 25 de Dezembro como dia do nascimento de Jesus. É óbvio que o 25 de Dezembro não assinala cronologicamente o nascimento do Menino Deus, mas a data que melhor configura o significado de Jesus ter nascido para tornar o mundo mais fraterno e justo. Conta a Bíblia que um anjo anunciou a Maria que daria à luz Jesus, o filho de Deus, que viria ao mundo para salvar os homens. O sentido da vinda do Messias passou, assim, a modelar e a dar significado à festa do Natal.
E, sendo assim, tal como a terra tem de proporcionar boas condições para permitir que a semente floresça, a Mãe de Jesus teria de garantir as condições necessárias ao crescimento do seu menino, por forma a que Ele fosse, como refere a Bíblia, exemplo, caminho e vida de um mundo mais justo e mais humano. Entretanto, "Ele - como dizia Leonardo Coimbra na sua obra "Jesus" - sabe esperar, fazer-se oculto, pequeno, humilde, companheiro e amigo, para dar ás almas o exemplo da sua vida, o calor das suas certezas, o infinito afago do seu coração transbordante".
O Natal ganhou, assim, um significado de incomensurável riqueza. Associa-se à ideia de luz que dá esperança ao futuro, de mãe que sabe proteger os seus filhos e de humildade que nos torna verdadeiros e justos. E Natal é tudo isto, quando significa romagem à Terra que nos viu nascer, crescer e fazer amigos; quando nos abre aos valores da família, da solidariedade e da justiça; e quando nos faz magnânimos perante adversários e desprotegidos.
Numa época marcada pela hipocrisia, pela arrogância e pelo oportunismo pragmatista, convém relembrar o significado do Natal para encontrar o rumo que dê esperança ao nosso futuro colectivo.
João Baptista Magalhães (Mestre em Filosofia)
Jornal de Notícias, 25 de Dezembro de 2005