sexta-feira, setembro 16, 2005

Oferta de assessorias

Em Felgueiras, é costume em período de pré-campanha eleitoral para as autárquicas os políticos assediarem jornalistas através da oferta de bons cargos públicos – no caso concreto, assessorias de imprensa –, no sentido de poderem manobrar à sua maneira os que veiculam a informação junto do público, não deixando estes, de certo modo, de serem formadores de opinião pública.
Ora bem, o director do Diário de Felgueiras, também, foi uma das pessoas abordadas nesse sentido, episódio que não deixou de provocar uma sonora e consolada gargalhada.
Desgraçado do jornalista que quer chegar a certos lugares pelos métodos que, infelizmente, há sempre quem os adopte para seu benefício próprio e, obviamente, em claro prejuízo do rigor, da imparcialidade e da total independência em relação às forças partidárias concorrentes. Os jornalistas são humanos e não haverá nenhum que seja santo, com os seus gostos e opções pessoais, mas daí vai uma grande diferença em relação a atitudes ocultas no decurso das funções que alguns desempenham.
Um jornalista, como cidadão, pode assumir o apoio a uma determinada candidatura, mas, quando o faz, deve declarar publicamente a sua opção, como fazem alguns dos jornais nos EUA em relação às presidenciais, e, de preferência, deve retirar-se durante o período de campanha. Agora assumir compromissos de antemão, de forma matreira e não declarada, é muito grave.
Um jornalista é uma pessoa normal, igual aos outros homens, mas desempenha uma missão diferente, apaixonante e que deve ser de grande contributo para os valores da Liberdade e da Democracia, mesmo que o ameacem de morte e lhe apedrejem as portas a altas horas de madrugada. É que a Liberdade e a Democracia não se dão, conquistam-se; isso tem um preço muito caro. Agora, ir como um cachorro a farejar caminhos de acesso a certos cargos é feio, inestético – a vida é tão curta para se perder em coisas tão fúteis! Que alguém, jornalista ou não, desempenhe um cargo público é muito normal e digno, como todos os trabalhos o são, mas essa dignidade depende da forma como lá chegou.
Nas vésperas da revolução russa bolchevique de 1917, um general afecto a Lenine aconselhou: “Primeiro, aproveita-te dos escritores para nos ajudarem a fazer a revolução, mas, quando chegarmos ao poder, mandámo-los prender”.