sábado, agosto 15, 2009

Princípios ideolológicos do saco azul

Enviado por
Marília Moreira
Maria José Morgado
Procuradora da República

PRINCÍPIOS IDEOLÓGICOS DO SACO AZUL

I. Nunca te esquecerás de que a ética kantiana é uma teoria impraticável e que são o poder e a ambição que ditam todas as acções dos homens.

II. Terás sempre em atenção que deves usar o teu poder para servir os que ainda estão acima de ti e para seres indispensável aos que estão abaixo de ti.
III. Jamais terás dúvidas de que o dinheiro que geras para ti e para os teus é o melhor atalho para consolidar e aumentar o teu poder.
IV. Realizarás todos os teus actos na sombra, em silêncio, sem provas, sem tes­temunhas, longe de documentos e especialmente ao largo de telemóveis.
V. Procurarás nunca desapontar os teus amos e nunca renegar os teus cúmpli­ces, especialmente se estes forem família, ou tiverem tido acesso à tua inti­midade.
VI. Estarás sempre vigilante em relação aos que te invejam e aos que, por for­malismos legais ou por suspeita, querem fiscalizar as tuas acções. Encontra­rás meios para os desacreditar ou, em último caso, os eliminar.
VII. Construirás diariamente uma teia, com fios feitos por líderes que graças a ti treparão mais alto, por funcionários que de ti tirarão benefícios, por empre­sas que através de ti chegarão ao lucro, e por novas entidades que deixarás os teus liderarem.
VIII. Deverás estar atento a todas as oportunidades de mercado, sabendo que elas são infinitas, e estudarás especialmente as novas formas de negócios, ou seja, o modo de as usares a teu favor.
IX. Serás cirúrgico e asséptico no modo de contornar as leis, os regulamentos e os códigos, e atrairás a ti os melhores especialistas para te ajudarem a camu­flar e a fazerem desaparecer todos os traços das tuas actividades.
X. No caso extremamente improvável de seres apanhado, gritarás inocência até ao fim, marcarás conferências de imprensa para proclamar o teu horror e quando te confrontares com a tua consciências, dirás a ti próprio que fizeste tudo para bem do povo e dos seus representantes.

In “O inimigo sem rosto – Fraude e Corrupção em Portugal”,
de Maria José Morgado e José Vegar. Editora: "Dom Quixote"
Foto: Jornal de Notícias