segunda-feira, agosto 01, 2005

EDITORIAL: E se a Oposição ficar em maioria na Câmara Municipal?...

Com a entrada de Fátima Felgueiras na corrida às eleições para a Câmara Municipal, o concelho passa a dispor de três candidaturas com possibilidades de vitória. Muito provavelmente, nenhuma força política de menor expressão eleitoral em Felgueiras – a CDU, o BE ou CDS/PP – irá eleger um único vereador. Portanto, a presidência da Câmara Municipal irá ficar nas mãos de um dos seguintes cabeças-de-lista: Fátima Felgueiras (independente, Terceira Via), José Campos (PS) ou Caldas Afonso (PSD).
Daqui se pode tirar uma análise: a lista vencedora poderá não conseguir a maioria de 4 lugares e a instabilidade continuará na ordem do dia. Para a composição de um Executivo com 7 lugares disponíveis, a lista vencedora pode alcançar apenas 3 e as duas listas perdedoras poderão empatar tecnicamente, cada uma com 2. Ficaríamos, então, com um xadrez de 3+2+2 lugares.
Por outro lado, na Assembleia Municipal, com 65 lugares que a compõem, o conjunto dos 32 por inerência da eleição dos presidentes de junta poderá ser decisivo para o PS ou para o PSD tomarem a dianteira em relação aos deputados eleitos directamente pela Terceira Via, pois, como se sabe, o movimento independente não concorre às assembleias de junta, logo não elegerá lugares por inerência à AM. No entanto, o número de eleitos pela Terceira Via para a AM, caso não eleja o maior número de lugares directos, vai embaralhar as contas ao partido vencedor (PS ou PSD) para o hemiciclo e tirar-lhe a maioria. E pode haver uma formação política a governar a Câmara e outra com mais votos na Assembleia. Ou uma com maioria na Câmara e com minoria na Assembleia.
Uma coisa é certa: nestas eleições, irá provar-se que um partido ou um movimento independente à Câmara Municipal e à Assembleia não pode prescindir de concorrer às assembleias de freguesia. Quem quiser vencer as eleições e governar a Câmara e chefiar a Assembleia com maioria e estabilidade não poderá prescindir dos candidatos às Juntas. Isso vê-se logo na eleição para a Assembleia Municipal. Por outro lado, os candidatos às Juntas também desempenham o papel de angariadores de votos para a Câmara. Daí que não acreditamos que Fátima Felgueiras, em caso de vitória, venha a alcançar a maioria. E a Terceira Via, mesmo em caso de vitória para a Câmara, dificilmente vencerá as eleições para Assembleia, porque lhe falta os “pilares” do poder autárquico, que são os candidatos às Juntas.
Política e Matemática são duas ciências, mas não são denominadores comuns. Com isto, pretendemos dizer que a candidatura de Fátima Felgueiras, numericamente, irá “roubar” votos ao PS, mas, matematicamente, provavelmente, não. Mesmo com o surgimento, nestas eleições, de mais uma força política à esquerda do PS no concelho, que é o BE, não é certo que este e a CDU, também, irão tirar muitos votos à candidatura do PS, em termos percentuais, porque a ideologia não conta para as autárquicas.
A nuance que se pode colocar nestas eleições é a seguinte: caso o PS e o PSD sejam os mais directos rivais na disputa da presidência da Câmara, ou seja, caso a candidatura de Fátima Felgueiras não venha a ter a expressão que o movimento anseia, os votos transferidos do PS para a Terceira Via serão “meios” votos perdidos para os socialistas, porque não irão para o adversário principal, que, neste caso, seria o PSD. Enquanto que os votos transferidos do PSD para o PS já são intenções a valer “dois votos” cada. É que o eleitorado socialista poderá não querer castigar o partido pelo escândalo do saco azul, porque o cabeça-de-lista já não é Fátima Felgueiras, mas José Campos, embora este vá pelo partido que elegeu a ex-autarca em 1997 e em 2001.
O PSD, se quiser vencer as eleições, não pode querer vencer por demérito do partido rosa, mas por mérito próprio. Ainda são incertas as circunstâncias em que Fátima Felgueiras irá fazer a sua campanha, ou seja, se fugida à Justiça (no Brasil), se presa em casa ou no domicilio (em Portugal) ou se em liberdade.
José Campos e Caldas Afonso não podem ignorar que Fátima Felgueiras é um trunfo no baralho, mas, ao mesmo tempo, não deverão condicionar a sua atitude de campanha a esse facto. Pelo lado do PS notam-se alguns receios sobre o “compromisso moral” de alguns militantes do partido ao apoiarem Fátima Felgueiras. Em poucos casos, o apoio é declarado; noutros, é de “duplo comportamento”. No PS, mesmo a nível nacional, houve sempre uma dificuldade de as direcções fazerem cumprir as disposições disciplinares, com argumento de que assim é respeitada a pluralidade de opiniões. Este não é o caso, porque não se trata de uma divergência interna, mas de, certo modo, dissidência partidária.
Com afectividade pessoal ou não dos militantes socialistas em relação a Fátima Felgueiras, esta já não faz parte do partido e tomou uma atitude de afronta, ao entrar na corrida eleitoral. Justificava-se por parte da Concelhia apurar factos e tomar medidas sobre o apoio de militantes, muitos de forma camuflada, a uma candidatura adversária. Actualmente, no PS não há divergências, há dissidências.
No PSD, a divisão também existe, mas parece não fazer mossa da maneira exacta como acontece no PS, porque são divergências internas (quase sempre pessoais) em relação à candidatura de Caldas Afonso. Não há um “segundo partido” entre os social-democratas, ao contrário do que acontece no PS. O PSD, se estivesse melhor organizado – não propriamente mais unido, mas mais activo –, poderia aproveitar melhor as fragilidades existentes no PS.
Se Fátima Felgueiras vai buscar votos ao PS, este, sem dúvida, irá buscar votos ao PSD. José Campos já esteve na Câmara em regime de permanência durante cerca de 10 anos. Conhece os “cantos” ao concelho, é simpático e muito conhecido. E o que tem feito Caldas Afonso para não ser tão pouco conhecido, não obstante ser um reputado professor de Medicina? Enquanto José Campos anda a fazer “estados gerais”, Caldas Afonso apenas vai às iniciativas da Câmara. Não serão estes os melhores momentos para falar com as pessoas pessoalmente.
Se o PSD quer vencer verdadeiramente as eleições para a Câmara Municipal, a comitiva da candidatura de Caldas Afonso terá correr todas as freguesias do concelho, visitando as populações e falar com elas pessoalmente, ouvindo os seus anseios e as suas reclamações – falar-lhes, por exemplo, da falta de um verdadeiro saneamento básico, do número de creches insuficientes, do perigo que a mono-indústria constitui para o concelho.
A candidatura de Caldas Afonso terá que ser uma atitude virada para a alternativa e tem que ter em conta que José Campos, sendo o candidato do partido que ainda tem a maioria na Câmara Municipal, mesmo sem Fátima Felgueiras e com todas as tentativas internas de entrave à sua pessoa, tem, pelo menos, 50% do aparelho partidário e municipal nas mãos.
O PS e o PSD têm, mais ou menos, os seus projectos eleitorais. Fátima Felgueiras dirá que não precisa. Horácio Reis, que poderá vir a ascender a presidente da Câmara – dadas as incertezas em volta da situação judicial da cabeça-de-lista – refere que Fátima Felgueiras não precisa de fazer grande campanha porque a sua pessoa é por demais conhecida. Então, Fátima Felgueiras deverá fazer uma campanha à americana, aproveitando a sua situação judicial para vir falar sucessivas vezes à Comunicação Social e tocar no coração essencialmente na faixa do eleitorado menos esclarecido, um pouco à maneira de Ferreira Torres, que aproveitou a “Quinta das Celebridades” para subir a sua popularidade.
Num quadro de poder minoritário na Câmara Municipal depois de 09 de Outubro, acreditamos que a instabilidade política irá prolongar-se. Se Fátima Felgueiras vencer e se lhe for permitido governar a Câmara, a instabilidade será menor, porque a ex-autarca já demonstrou ao concelho a sua capacidade tentacular de fazer calar quem se lhe opunha. Se ganhar o PS, Fátima Felgueiras procurará o entendimento com o PSD e tudo fará para derrubar o Executivo e provocar eleições antecipadas no concelho, como uma espécie de vingança. Se vencer o PSD, tentará uma aproximação ao PS e, paulatinamente, dominar a Concelhia e vir a ser reconhecida novamente pelo partido, a nível nacional e distrital. Mas, neste último caso, terá que ser provada a sua inocência em tribunal e, pelo menos, ser-lhe possível tomar posse.
Mas, antes de todos estes possíveis cenários, aguarda-se lo desenrolar dos acontecimentos, nomeadamente no que respeita ao destino pessoal de Fátima Felgueiras, que implicará, certamente, o seu destino político e o destino do do próprio concelho.
Os prováveis quartos primeiros lugares das três candidaturas:

Partido Socialista:
1. José Campos
2. Rui Silva
3. Fernando Marinho
4. Erica Durães

Partido Social Democrata:
1. Caldas Afonso
2. Luís Lima
3. Rui Soqueiro
4. Carla Meireles

Terceira Via:
1.Fátima Felgueiras
2.Horácio Reis
3. Vítor Costa
4. Bruno Pereira (filho de António Pereira)