Anabela Melão
Jurista
François
Hollande ”won a clear victory” sobre Nicolas
Sarkozy. Há uma réstia de esperança para o sonho europeu, que passa por enfrentar
Angela Merkel e o pesadelo da debitocracia. De entre as "60 engagements
pour la France", quais poderá efetivamente cumprir e quais cairão por
terra ante a pressão da Alemanha? Questões como a taxação
das grandes fortunas, o incremento da solidariedade europeia, a defesa de uma maior
integração europeia, a concretização das eurobonds impõem-se! Não chega um Vive
la France! Liberté, egalité, fraternité ou simplesmente austerité?
«Les Français se révoltent. Les Grecs aussi. Et il était temps», afirmou
o prémio Nobel da Economia Paul Krugman numa das suas análises do New York
Times sobre o domingo de eleições europeu, concluindo por um sinal claro de uma
estratégia que quer o fim da austeridade e do marasmo económico. A discussão
sobre a saída do euro está em cima da mesa, com os defensores a apontarem-no
como “O” meio de restaurar a competitividade e de relançar as exportações. A
pergunta é se há outra hipótese.
A contestação da austeridade sufocante e assassina imposta pela
Alemanha aos povos da Europa do Sul foi “A” causa dos resultados das eleições
gregas com a Syriza a dar uma lição ao Movimento Socialista Pan-Helênico
(Pasok), até domingo a principal força de esquerda do país. De uma força
minoritária (entre 3% e 5% dos votos) passa a uma votação de 16,76% e torna-se
o segundo maior grupo do Parlamento. Vitória em muito devida às duras críticas
à política económica do governo socialista do ex-primeiro-ministro Giorgos
Papandreou e de Lucas Papademos e à rejeição dos dois planos de resgate da
economia grega que conduziram à aplicação de draconianas medidas de
austeridade. O Parlamento em Atenas fica com 7 partidos. As formações políticas
contra o Memorando têm 44% dos lugares e o Citigroup prevê uma margem para a
saída da zona euro entre 50 e 75%. A Esquerda Democrática (ED, a Nova
Democracia (ND) e o PASOK formam uma maioria parlamentar e estão empurradas
para um governo de salvação nacional. Todos estes três partidos defendem a
revisão do Memorando de Entendimento. Adivinha-se a
"ingovernabilidade" da Grécia e fala-se já na convocação de eleições
antecipadas em junho.
“Nós não somos contra o euro mas opomo-nos
às políticas que estão a ser seguidas em nome do euro”, disse Alexis Tsipras (líder
do Syriza), e lembra que: “Durante dois anos eles tomaram decisões sem nos
perguntar nada. O povo grego não lhes deu o mandato para tomar aquelas
decisões. No país onde nasceu a democracia não há democracia nenhuma. Chegou o
tempo de regressar à democracia.” O segundo vencedor, o partido da
extrema-direita do Aurora Dourada, saíu para a rua aclamando “A hora do medo
soou para os traidores à pátria” (disse o líder, Nikos Mihaloliakos). O que une
os dois homens? A Grécia!
A toque de caixa, na Alemanha, a
coligação CDU-FDP (os pés de barro do governo federal da chanceler Merkel) obteve
apenas 38,9% dos votos. Parece certo que os outros resultados eleitorais europeus
contagiaram a Alemanha (a agência de informação Eurointelligence classificou-os
como uma "insurreição" (pelo voto)).
A caminho da destruição do sonho europeu, Michalis
Spourdalakis (professor de ciência política na Universidade de Atenas e
presidente da associação grega de ciência política) defende a importância das
eleições gregas para a definição de políticas económicas na União Europeia.
Daí que o novo hino nascido no domingo tem como mote “A Grécia é o começo”! O Sonho Americano agonizou.
Está vivo o sonho europeu!