segunda-feira, abril 09, 2012

As Centelhas de Torah - Glossário e Introdução



 GLOSSÁRIO

Os nomes das leituras bíblicas na tradição masoretica hebraica

Os capítulos desse livro correspondem ás 54 secções da Torah (em hebraico “parasha”) estabelecidas pelos rabinos. Essas secções correspondem à necessidade duma leitura semanal nas sinagogas duma parte da Torah. O titulo de cada “parasha”  é, em regra geral, a primeira palavra daquela secção.

NOME  HEBRAICO  DA PARASHA

SIGNIFICADO  DA PALABRA
 NO CONTEXTO DO VERSICULO

LIVRO DO GENESIS
BERESHIT

No inicio…..  (Deus criou o céu e a terra)
NOACH

Nome em hebraico do Noé
LECH LECHÁ

Sai daqui por o teu bem…. (ordem de Deus a Abraão)
VAYERÁ

E  apareceu (Deus a Abraão)….
CHAYÉ SARA

Os anos de vida da Sara…..
TOLEDOT

Eis a genealogia…..(do Isaac)
VAYETZÉ

E o Jacob saiu……
VAYISHLÁCH

E o Jacob enviou…..
VAYESHEV

E Jacob ficou….
MIKETZ

E foi ao fim…….
VAYIGASH

E o Judá avançou…..
VAYECHI

E o Jacob viveu…..
LIVRO DO EXODO
SHEMOT

Os nomes (dos tribos de Israel)
VAERÁ

E Deus apareceu (a Moisés)
BO

Vai….. (ter com o farão)
BESHALÁCH

Na saída…….(dos hebreus do Egipto)
YITRÓ

Nome hebraico do Jetro
MISHPATIM

Eis as leis…….
TERUMA

Oferta (para a construção do Tabernáculo)
TETZAVÉ

E tu ordenaras…..
KI TISSA

Quando farás a contagem….
VAYAKEL

E  o Moisés junto o povo…
PEKUDÉ

Eis as contas…
LIVRO DO LEVITICO

VAYIKRÁ

E Deus chamou…( a Moisés)
TZAV

Ordenai..
CHEMINI

No oitavo dia…
TAZRIA

Mulher que engravida…
METZORÁ

Leproso
ACHAREI MOT

Depois da morte….(dos filhos do Aaaron)
KEDOSHIM

Santos…..
EMOR

Diz….
BEHAR

No monte Sinai….
BEHUKOTAÏ

Os meus mandamentos…..
LIVRO DOS NUMEROS
BAMIDBAR

No deserto
NASSÓ

Faz o levantamento…..
BEAALOTECHA

Quando acenderas……..
SHELAH LECHA

Envias….(os exploradores)
KORACH

Nome dum primo do Moisés
CHUKAT

Eis a lei…….
BALAK

Nome dum rei moabita
PINCHASS

Nome do neto do Aarão
MATOT

Eis as tribos…..
MASSÉ

Eis as etapas…….
LIVRO DO DEUTERONOMIO
DEVARIM

Eis as palavras…..
VAETCHANAN

E implorei….
EKEV

Se guardaram….(os mandamentos)
RÉÉ

Ora…..
SHOFTIM

Juízes…..
KI TETZÉ

Quando sairás….
KI TAVÓ

Quando iras….
NITZAVIM

Hoje estão parados….
VAYELECH

 E o Moisés foi….
AAZINU

Escutem….
ZOT ABERACHA

Essa bênção…..






INTRODUÇÃO
            
  O homem porá nomes a todos os animais ,aos pássaros dos céus, aos animais dos campo; mas o homem não encontra a ajuda que lhe convém                                                                            
                                                                     
                                                          Génesis ,II,20.



O MEU LIVRO E EU.

A Humanidade é como um navio no meio do oceano. A bordo, os nossos sentidos apercebem-se da sua marcha :na visão do seu rasto a sensação de movimento ….Mas é impossível ver de  onde vem  nem em que direcção se dirige. Impossível  saber se estamos perto do ponto de partida e a que distância da chegada. Apenas os astros nos dão uma referência de orientação. Felizmente o homem pôs  em marcha os instrumentos que o ajudariam a situar-se no espaço. O homem superou a sua fragilidade face à natureza. Mas a humanidade ainda não conseguiu ter um sucesso definido no domínio espiritual.
Ao escrever este livro de considerações gerais, pretendo  ser fiel à tradição de Israel. Esta tradição constitui um vector importante na história humana. Mas, pretendi apesar de tudo, procurar uma aproximação pessoal. Pretendi, também,  transcrever a visão dos problemas deste mundo na compreensão dos problemas da humanidade visto que se alguma finalidade existe, o objectivo não pode ser esperado senão  pela acção do homem. Não é fácil a abordagem de temas tão debatidos que agitam o homem desde sempre e que encontro inscritos na Tora. Estes temas tinham sido retomados, analisados, comentados e codificados nos mínimos detalhes, entre outros, pelos sábios de Israel. Quis, portanto, a partir deste livro , inserir a minha proximidade pessoal com a tradição, ao contexto evolutivo do nosso mundo, onde  gerações sucessivas tendem a ignorar ou rejeitar as verdades admitidas por gerações passadas. As novas vagas humanas procurarão um tipo de leitura cada vez mais sofisticado e informativo. No entanto, o velho saber, poder-se-á sentir não raras vezes  como que assaltado. O meu desejo de autor seria que a visão mais interior segundo a qual esta obra está escrita fique impregnada do ensinamento dos sábios de Israel, eu, que não procuro que seja uma obra apenas singular, mas que respeite em absoluto o cânone dos valores do judaísmo.
É também por honestidade face a meus filhos, aos quais peço para  continuarem fiéis a uma tradição exigente ao mesmo tempo guardando a grande abertura de espírito que lhes permitirá sentirem-se integrados no mundo que os rodeia, que também  me comprometi a esta finalidade. Ela  é necessária, se não quisermos ficar reduzidos a impositores da  Torah como um conjunto de regras misteriosas que não saberemos explicar, dissimulando nos discursos o que não conseguimos transpor pela prática  na vida corrente. Ora,  existem na Torah inúmeras passagens incompreensíveis à primeira leitura, vozes chocantes. E, se tivermos a convicção, enriquecida pela experiência, que a Torah é uma “árvore de vida” ou seja, um mecanismo que explica os  fundamentos dela,  se, se tiver a convicção que se deverá encontrar o seu percurso de vida e uma certa compreensão na mesma Torah, então, não poderá haver nenhum à parte ou lugar escondido para estes  factores, porque, se assim pôr, haverá lugares escondidos na própria vida. É preciso que tudo seja apresentável, as cartas abertas sobre a mesa.  A educação que falta a estes princípios, não poderá ser senão uma educação fracassada. O obscurantismo e os desvios que não cessam de se repetirem na história não têm  sido  que uma falha da qualidade do sistema educativo. O povo judeu  “povo do Livro” tem sempre tirado a força da sua vantagem intelectual, naquilo que foi,  e  lhe dá o hábito, do trabalho dos textos. Conservemos pelo menos esta aquisição .
Como testemunha formal desta intenção e por prova de respeito face à tradição, optei por conservar o recorte rabínico das leituras semanais da Torah para estruturar os capítulos desta escrita. Esta aproximação não será absolutamente necessária à discussão dos temas abordados, mas pareceu-me importante fazê-lo desta maneira para afirmar o reatamento das minhas ideias à palavra da Torah. Este método permite-me testemunhar na passagem, que ela permaneça um livro ordenado na sua mensagem, o que não será muito evidente numa primeira leitura.
A cultura na qual fui alimentado levou-me a desenvolver uma  visão filosófica a partir de bases tradicionais de ensinamento judaico, e uma visão social a partir das bases da vida comunitária .De resto, tenho encontrado na Tora as graças de uma compreensão que tenho integrado à minha própria verdade. O conjunto destas cintilações de conhecimento que cada um pode adquirir e devolver, constitui a base da nossa humanidade. O que se apresenta como uma especificidade do homem, é que o saber se deposita, se transmite, se acumula, se actualiza, e por fim, constitui a base da aprendizagem daqueles que farão evoluir o conhecimento. A tradição judaica pede que se esteja  muito atento à citação das suas fontes a fim de assegurar a continuidade da mensagem à modernidade do discurso.


A TORAH

A Torah é o guia dos judeus, sendo em simultâneo a sua constituição e  referência quotidiana. Tal constituição, e porque o povo judeu é muito diversificado e disperso, é a própria Torah que lhe constitui o cimento da sua unidade. No que respeita ao  quotidiano,  os comentadores têm tirado dela as decisões que determinam os actos dos judeus. Mas, é sobretudo no nível filosófico uma chave para a compreensão do mundo na sua integridade sistemática, se para tanto podermos chegar a esta compreensão. A convicção face à verdade   que ela contém, é tanta, e  tem permanecido tão enraizada,  que fez florescer nos seus ouvintes de espírito pouco esclarecido ou malsão, todas as formas de exagero: a cabala que é um método de estudo dos textos tem sido tomada por uma espécie de bruxaria, outros a têm procurado pelas fórmulas mágicas para  transformação dos metais em ouro, e, mais recentemente, tem-se continuado a procurar os mistérios ocultos com a ajuda dos computadores analisando as sequências das letras do texto da Torah. Isto  não é, claro, uma perspectiva muito séria, dado que os tesouros de filosofia que esta contém no nível mais simples de uma leitura atenta, são já por si suficientes. E, é com uma certa mágoa que é preciso constatar que uma vez que nos apercebemos da existência destes tesouros intelectuais, a imagem que deixa a Torah  é muitas vezes imprecisa, quando não,  totalmente errónea .
O facto que tenha sido a Bíblia o livro mais lido do mundo é em si significativo. Não é possível analisar este facto, apenas e só, à conta da lavagem do cérebro dos fiéis pelos teólogos judeus e cristãos. Existe uma interrogação para tal facto, interrogação, que nem as exposições cientificas, nem os estudos filosóficos  satisfazem;  durante muito tempo as aberturas em direcção a outros tipos de publicações não existiam. Hoje, a grande variedade de literatura proposta, seja através dos circuitos clássicos de edição, seja pela Internet, não deixa muito  tempo de horas vagas para uma leitura em profundidade da Torah nem para o texto de base e seus comentários. Ler com atenção quase se torna uma afronta pelo tempo que poderíamos consagrar a outras prioridades e isto concorre também  para o afastamento ou a distorção do conhecimento de muitos veículos do saber. Ao  factor da falta de disponibilidade para a mensagem sobrepõe-se uma ausência  de interesse face à mesma. Hoje, a aproximação de todos os elementos da actualidade põe-se  noutros termos. O público tem expectativas diferentes, as leituras ao primeiro nível não são mais possíveis. Face às questões da actualidade esperamos rápidas respostas mesmo questionando a complexidade. O modo documental, a forma afirmativa, não resistem  à necessidade da  especulação  subjectiva.
E, apesar disso, há questões que são eternas, que ficam sem  resposta definida. A maneira como a Torah responde é muitas vezes  difícil de descodificar. Diante de um texto tão árduo, muitas reacções são possíveis. Podemos não insistir, pôr este livro de parte. É o que se passa na maior parte das vezes. Podemos tentar lê-lo mais em profundidade. Mas, esta procura exige um esforço intelectual particular. Existe um pudor natural que consiste em passar o olhar rapidamente sobre as passagens incompreensíveis à primeira vista, eventualmente contraditórias ou chocantes . Ora, os assuntos difíceis  abundam  na Torah. Uma contradição de ordem geral se nos apresenta nesta primeira abordagem: o que caracteriza o judaísmo de todos os tempos é o seu grande amor pela vida e pelos homens. Por isso, ficamos muitas vezes chocados  a justo título,  diante dos textos que parecem ir contra esta atitude.  Há sem dúvida um grande esforço de compreensão para conciliar tais factores.
Quanto a mim, nunca pretendi abandonar as minhas pesquisas sobre este assunto. Primeiramente porque um livro que tanto marcou a humanidade não pode ser posto de lado, pois creio que deverá haver uma maneira de ler a Torah que desafie o tempo. Creio também, que não será possível apropriarmo-nos  deste texto levando-o à letra .Esta teria sido a atitude dos sábios de Israel, mesmo daqueles mais ferozmente vinculados à mensagem. Contradições aparentes que é preciso saber gerir. Mas, sendo incontornável interpretar, existe um acordo de todos os sábios sobre a necessidade de ir sempre ao texto de base. Não se saberia nunca substitui-lo por outras interpretações por mais interessantes que fossem .Feitas para facilitar a compreensão, as interpretações têm introduzido na mensagem os cânones de pensamento da época, fazendo com que assim se vá perdendo a sua  intemporalidade. É por isso que a tradição exige uma retransmissão original, integral. De seguida o comentário poderá e deverá abrir  voz às interpretações, necessária à compreensão, e adesão, de um maior número .



O HOMEM

O homem tem necessidade de compreender o que o circunda bem como o de contribuir com a sua experiência para o enriquecimento da identidade colectiva. Mal acaba de nascer ele demarca e categoriza o seu círculo pessoal. Esta necessidade de ter uma visão do mundo é uma característica de todo o ser humano. Em volta dele, qual centro, tudo começa a ter um sentido, a exercer uma função em seu proveito próprio. Mas, existe  algo que não adere bem a este simples exercício, e esse senão é exactamente ele mesmo.   No entanto, o individuo é essa máquina biológica. E, uma vez integrado no mundo ao redor, vai ter como primeira tentativa, construir-se. O corpo humano fabrica-se mecanicamente através da multiplicação celular agendada por programas inscritos nas cadeias genéticas, mas o conteúdo do cérebro, esse, irá desenvolver-se progressivamente e armazenar os efeitos das experiências que vão chegando. Encontramos ainda uma outra característica da visão humana que é a capacidade de gerar uma dicotomia entre o real e o imaginário. Existem as coisas, tais quais elas são, e como são apreendidas. O homem será sempre confrontado entre esta dupla  dualidade, realidade e interiorização,  mundo material e  mundo das ideias .
A necessidade de se compreender e de construir o seu universo interior é especifico da própria natureza humana. Depois da infância, uma questão surge espontaneamente e a todo o instante: porquê? Esta angústia transcende as épocas, as idades,  os sexos e as crenças. É uma necessidade primordial diante da qual somos todos iguais e à qual ninguém escapa. É comum a todo o ser humano a percepção de que existe nalguma parte uma fonte de verdade.  A procura desta fonte é a base da construção da personalidade que pode ser mais ou menos longa. Alguns integram-na muito rapidamente. Para outros, a procura é eterna. Essas cintilações das  verdades  apercebidas, que tentamos ligar umas nas outras, que procuramos recuperar para as realidades da vida quotidiana, são os fundamentos da personalidade única que nos define. E será pela avaliação  do seu meio social que cada homem retirará a forma com que irá definir a sua vida familiar, em sociedade, e nas relações profissionais. Em suma, se construirá.
Assim, o homem acaba por construir a sua personalidade como resultado das primeiras impressões bem como das originais experiências. Feito isto, não só construiu o seu universo interno,  mas, e também, todo o seu universo exterior, porque ao fim de contas, o mundo onde ele vai viver é aquele tal qual o entendeu ou como pôde entende-lo.   É o que diz a Torah quando afirma no capítulo da criação que o homem nomeou os animais. No fim de contas é a percepção sensorial do homem que constrói a realidade, o que de facto conta, para aquela que ele capta . O vermelho não é uma criação em si, mas o que resulta da apropriação de uma frequência da luz  pelo olho humano. Da mesma maneira são criadas muitas outras coisas que não possuem nenhuma realidade física, tais como  deuses e demónios ….Se a Torah deles fala é porque o espírito humano fez deles realidades.
Do mesmo modo, o homem cria o mundo, criando o seu lugar nele. E, quando este espaço está construído, ele cria em simultâneo  uma consciência de pertença face ao grupo de que se sente solidário (pescador das horas vagas, francês ou judeu ).
As sociedades tribais, depois feudais, e mais tarde nacionais, não só encorajaram como dogmatizaram esta aproximação. Os sistemas educativos, quaisquer que eles sejam, têm por vocação apresentar à criança uma visão pré –definida, e que ela nada mais tem, do que o processar na sua memória a temática do discípulo fiel, integrado no grupo. Direito de sangue, ou da terra, no fundo qual a diferença? Não serão verdadeiramente nacionais de um país todos aqueles que não estejam convencidos de o ser.


O JUDEU,  HOMEM DA TORAH

Aqui chegados, as visões do mundo podem ser diferentes partindo de um mesmo olhar. É o que faz a riqueza da cultura judaica. Tudo se discute. Existe entre os sábios várias tendências  de conceitos diferentes e modos de vida. O mundo, será ele um jardim construído à volta do homem, ou, o homem, deverá curvar-se a um cenário predeterminado? Pessoalmente, vou no sentido daqueles humanistas tradicionais(em particular o Rambam) para quem o comportamento do homem é que determina a marcha do mundo. Mas, quaisquer que sejam as posições da tradição, elas vêm todas de uma leitura da Torah, que, finalmente, continua a única referência de base nunca posta em causa.
Os sábios do judaísmo ensinam que mais alto que todos estes valores, está o estudo do  Livro. O seu estudo, encontra-se sempre em  vias de ser ensinado, esse estudo, que será a primeira das bases: a aquisição do seu  conteúdo, a programação que irá permitir a aquisição de um certo tipo de comportamento,  a partir do qual, se construirá o estereótipo judaico. Encontramos na história diferentes tipos de anti -semitismo que se ligam a estes dois factos:  infracção pelo aspecto , infracção pelo comportamento . O anti -semitismo «físico» traduziu-se por tentativas de eliminação dos indivíduos da vida social. O anti-semitismo “intelectual” traduziu-se pela proibição   no que respeita ao estudo da Torah,  estando implícito em tal acto o papel educativo da Torah.
É todavia uma ideia forte o afirmar que o estudo é um valor em si . O que é bem admitido em geral é a importância de estudar para o proveito que daí advém (aprende-se direito para se ser um bom advogado, etc.). Este conceito do estudo pelo estudo é bastante pouco reconhecido em todo o estado de coisas, não será certamente a característica mais evidente dos dias de hoje, sobretudo, quando nos é descrito um judeu. Tal provém, do facto que a audiência desses sábios que estudam e ensinam a Torah, se encontrar limitada a um círculo restrito de judeus que se interessam pelos discursos dos rabinos, o mesmo é dizer, por muito pouca gente .
O ensinamento dos sábios sustenta-se não somente sobre matérias teológicas, mas, e sobretudo, sobre o comportamento e a prática das acções concretas. Partindo do princípio de que um conhecimento que não tem sustentação prática visa à desaparição, os sábios sublinham a importância de um ritual muito preciso,  não somente ao nível da atitude “religiosa”mas também face ao mínimo dos actos da vida corrente. Estes sábios foram muitas vezes levados a reflectir incessantemente, da relação entre gesto e pensamento, para modelar o comportamento em função de princípios morais.
Por este facto,  a imagem destes sábios, e destes estudantes, salta aos olhos do seu meio como ridiculamente rígida e conservadora . Esta atitude será mesmo perigosa se, por desacordo na maior parte do tempo, para com as normas do meio ambiente, o judeu for olhado, qual ser maligno (no sentido literal)pelas sociedades, onde a estabilidade é baseada sobre a obediência a uma norma única (a constituição). Por tal factor foi o “judeu” compreendido como uma “nação” à parte (os fenómenos de emancipação são muito recentes diante da história e comportam germens de cisão ). E, rapidamente, a atitude é rejeitar, antes mesmo de discutir-se, os valores nela veiculados.
Do lado judaico esta problemática não passa despercebida. Quando falamos dos alunos de Rabi Aquiba, que eles estão mortos por não terem podido estudar bastante, ninguém quer levar esta afirmação à letra. Pois, talvez haja aqui a indicação que a maneira de compreender a Torah  não foi  efectivamente suficiente. Podemos sempre e apesar disso, perguntar-nos se os estudantes que não participam na evolução de seu conjunto ocuparão bem o seu lugar .É dito no decálogo: ”tu não pronunciarás meu nome em vão”. Aquele a quem se atribui uma certa postura face aos outros deverá assumir a defesa do seu comportamento .
O ensino do judaísmo através do estudo dos sábios só pode reunir uma audiência mínima. Portanto, caracteriza um pensamento e códigos de vida que são um modelo, consciente ou inconscientemente, da aventura humana durante muitos milénios. Uma das dificuldades é   encontrar a expressão de uma análise correcta. O labor dos sábios das gerações passadas tem sido considerável mas está inscrito no seu contexto. A tradução numa linguagem aceitável, hoje, é árdua. A tradução literal do texto da Torah faz referência a uma apresentação muito antropomórfica do mundo. É preciso saber abstrair-se (sem todavia eliminar esta referência de base) de maneira a que se perceba das indicações subjacentes. Mas todos nós temos tendência para lermos as narrações a partir de uma forte percepção pessoal o que limita a tomada de consciência das mensagens duma Torah, que afinal, é de todos os tempos.


Compreender a mensagem é como encontrar a letra roubada de Edgar A. Poe. A ideia está lá  mas nós nem sempre a vemos. O propósito das páginas que se seguem é trazer uma certa visão pessoal a partir de algumas passagens desta mesma Torah.