quarta-feira, novembro 10, 2010

Igreja aponta o dedo ao PS e ao PSD pela actual situação do país e diz compreender a greve geral

D. Jorge Ortiga:Cada vez mais centros sociais e lares enchem-se
de pessoas que já não têm lugar na mesa das famílias tanto
por razões de ordem laboral e económica como
pela banalização dos laços familiares”.


A intervenção da Igreja Católica portuguesa sobre a crise económica e social em que o país se enterrou não pode ser mais conclusiva aos olhos do cidadão comum, católico ou não: apesar de terem usado da sua habitual diplomacia verbal em temas de cariz política, os bispos portugueses, reunidos em Fátima na passada segunda-feira, não falaram directamente em nomes, mas, percebe-se obviamente, apontaram o dedo ao PS e ao PSD pela actual situação do país, à beira do abismo. Os prelados classificam de “espectáculo degradante” as circunstâncias que levaram ao acordo sobre o Orçamento de Estado (OE). E mais: reconhecem que a greve geral, “não sendo uma solução”, é um recurso e um “aviso aos políticos”. Depreende-se claramente que a Conferência Episcopal Portuguesa é contra a aprovação do OE.
Já advinhávamos esta intervenção da Igreja, tanto mais porque a instituição sempre fundamentou a sua doutrina social e até teológica nos valores da família. O corte do abono de família a milhares e milhares de crianças portuguesas é um corte que fere o pensamento desta religião. Sócrates poderia ter pensado nisso, até porque este “pormenor”, mais tarde o mais cedo, será mais um argumento usado à sua Esquerda e junto dos meios que mais convivem com o imaginário religioso das populações, nomeadamente no interior do norte português, onde a Igreja tem maior implantação. À Esquerda de Sócrates estão as forças sociais e reivindicativas que questionarão o facto de ter cortado o já de si mísero abono de família enquanto juízes e altas patentes militares recebem mais de 5 mil euros de vencimento.
A intervenção da Igreja não é nada de extraordinário. Tal como os médicos das urgências, a Igreja costuma a intervir para amenizar as consequências das doenças e não as suas causas, porque estas requerem exames de diagnóstico mais rigorosos, onde a religião raramente se mete. É esta a sua filosofia, concorde-se ou não. Mas que a nota emanada da Conferência Episcopal é um sinal positivo, ai isso é!