quarta-feira, maio 12, 2010

Carta do nosso leitor e amigo Mário Gaspar sobre o atentado ao rio Tâmega

Caro Editor do blog Diário de Felgueiras.
José Carlos Pereira.


Não vou assentar a minha opinião em conceitos técnicos ou enquadramentos legais, que não domino em absoluto, porque prefiro a simples universalidade do bem comum, a necessidade objectiva de defender a biodiversidade e a continuidade do planeta, com a espécie humana incluída, para todas as gerações futuras. Mas, assumindo a contradição, não posso deixar de partilhar a 1.ª alínea dos considerandos do documento orientador para a água, na Europa: “A água não é um produto comercial como outro qualquer, mas um património que deve ser protegido, defendido e tratado como tal.” DIRECTIVA 2000/60/CE DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO.

Acredito nisto. Não acredito que o plano energético para a construção de barragens em Portugal tenha alguma inspiração nesta directiva.
Conceber a construção de barragens como superior interesse para a produção de energia, em detrimento da sobrevivência de ecossistemas em que assenta a nossa existência, é caminhar a olhar para os pés, sem olhar para a frente – ali está uma ravina! Isto quando a capacidade científica inventiva sinaliza, desesperadamente, alternativas conscientes e consistentes de produção e armazenamento energético. Seria bom levantar a cabeça e ver “o mar, num dia de vento mas radioso de sol, quanta energia em mim inspiras”.
A argumentação para sustentar este tipo de obras tem frases seguras: autonomia energética, desenvolvimento da economia, criação de emprego, impacto minimizado. Chavões dramaticamente colados à agenda dos problemas actuais do ser social, do ser económico e do ser político. No entanto, muito disto deixa de fazer sentido se, em concreto, estiver em contribuição directa para reduzir as possibilidades do ser humano existir – existindo em qualidade – neste planeta que nós próprios baptizamos, em várias línguas e dialectos.
Seja no Tâmega, seja no Amazonas, a percepção actual tem que interiorizar uma «Economia Baseada nos Recursos» e não na exploração dos recursos, até à última gota…
Milhares de anos de civilização – vamos ver se a história natural não vem a ridicularizar esta pretensão – terão que servir para alguma coisa! Mais não seja para assegurar a nossa sobrevivência, como defensores da nossa casa e não como os destruidores.

A petição é de assinar! Mas se quiserem alguma inspiração
Cliquem aqui, neste vídeo.

Mário Gaspar (Felgueiras)
Coordenador do projecto "Cursos de Água - Corredores de vida e tradição"

*** Este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***