domingo, março 28, 2010

País ignorou bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano

Gabriela Canavilhas prestaria um grande serviço ao país se amanhã abrisse mão do cargo que ocupa no Governo – o de ministra da Cultura. Tal como Isabel Pires de Lima aquando do centenário do nascimento de Miguel Torga, a ministra pianista deixou passar em claro o dia de hoje – data em que se completam 200 anos após o nascimento de uma das figuras mais importantes de toda a história de Portugal, não só pela sua múltipla obra literária, de jornalista e de historiador, mas por ter sido também uma figura superior no campo ético da intervenção política, fundador que foi, com Almeida Garrett, do Romantismo e do Liberalismo em Portugal. Estamos a falar, obviamente, de Alexandre Herculano.
Não foi só a ministra da Cultura que ignorou a efeméride; foi quase um país inteiro, com tantos agentes e gestores culturais, companhias de teatro em busca constante de projectos criativos, escolas, associações, etc …
Justificava-se plenamente assinalar o bicentenário de um homem que deu tanto de si à cultura, ao pensamento e à intervenção cívica. Não seria uma maneira de fulanizar a história ou endeusar um homem, mas a tentativa de se estudar e de se compreender aquele que teve uma intervenção inteligente e oportuna no período conturbado da primeira metade do século XIX em Portugal, resultante das invasões francesas, da fuga da Corte para o Brasil (ao contrário da Corte espanhola, que preferiu ser presa mas bater o pé ao invasor), da usurpação pelos ingleses, das lutas pela imposição da Carta, do Setembrismo, do Cabralismo, da guerra civil e de toda a panóplia da altura.
Portugal, tal como no tempo de Herculano, não passa de um subúrbio da Europa. Um país que não quer conhecer a sua história, que não a torna acessível a todos, e quando essa história se reporta ao processo dialéctico da liberdade e da democracia, o melhor que tem a fazer aos seus jovens mais criativos e valiosos de inteligência é pedir-lhes para que emigrem. Sim, emigrem, por favor, porque Portugal é um país que já não dá vontade de viver!
A actual crise de Portugal não é só económica; é, sobretudo, um grande problema cultural e de falta de auto-estima e carácter.
Em baixo, deixamos dois links relativos ao assunto.
JCP
«Alexandre Herculano nasceu há dois séculos. Viveu 67 anos. O tempo suficiente para ser poeta, historiador, político, jornalista, agricultor, romancista, polemista, tradutor. O suficiente para ser um inovador do seu tempo. Para, hoje, data do seu aniversário, ser importante falar dele.
Foi revolucionário e conservador, um católico contra o Clero, político e jornalista, historiador e ficcionista. Contraditório? Não exactamente. Na perspectiva do historiador Luís Amaral, "um dos aspectos mais fascinantes em Herculano é que, sem ser contraditório, ele tomou uma série de posições que, hoje, nos parecem contraditórias". Já Cândido Beirante, autor de Alexandre Herculano: As faces do poliedro, sublinhou as múltiplas direcções da sua personalidade, ligadas por uma "unidade surpreendente", frisa a investigadora Isabel Mateus. Em Herculano não há fronteiras: todas as aparentes incompatibilidades complementavam-se. O jornalismo era um meio para divulgar ideais políticos, sociais e peças literárias. A investigação histórica garantia-lhe ferramentas para actuar melhor no mundo político e religioso do seu tempo».(...)
Clique aqui para ler o texto completo do JN, de hoje, «Alexandre Herculano: Homem sem fronteiras»

Vasco Graça Moura diz ao JN, de hoje: «Portugal mão mudou assim tanto» (em relação ao tempo de Herculano):
«Se lermos as obras do Eça e do Ramalho, as investigações de historiadores como Fátima Bonifácio, Filomena Mónica ou Vasco Pulido Valente, e, quanto ao período que vai dos anos 30 aos anos 50 do séc. XX, os seis romances do ciclo Crónica da vida lisboeta, de Joaquim Paço d'Arcos, veremos que, entre o tempo de Alexandre Herculano e o nosso, houve várias mudanças políticas de relevo, mas não são assim tão significativas as mudanças de mentalidade, de linguagem e de comportamentos da classe política» (...) Clique aqui para ler a entrevista completa (JN)