Manuel Alegre foi sempre assim: muita parra e pouca uva!
Esta histórica figura do PS tem o seu lugar na História, sem dúvida, como resistente ao fascismo; e um lugar na Literatura, como poeta. Porém, as duas facetas, reunidas numa só, deram-lhe uma enganosa auréola de romantismo político nada condizente com os valores da Esquerda, que apregoa.
Manuel Alegre, que peca muito por vaidade, não vale mais do que os outros resistentes à ditadura – uma boa parte deles, ainda hoje, com privações e situações de pobreza – e em relação a muitos escritores deste país, também em situação similar; a circunstância – a oportunidade do seu tempo na História – fê-lo beneficiário das regalias que todos os políticos parlamentares – da Esquerda à Direita – recebem e acumulam pela vida fora.
Manuel Alegre, a seguir ao 25 de Abril, na qualidade de então Secretário de Estado, foi o directo responsável pelo encerramento do jornal “Século”; nas vésperas dos Congressos do PS lança a chantagem política alegando discordância em relação aos líderes, mas as divergências acabam sempre num abraço em público; há anos, devido aos problemas ambientais no distrito de Coimbra, falou, falou e discordou, ameaçou demitir-se do partido… mas acabou por esquecer o assunto; em 2006, na sua candidatura à Presidência da República arregimentou atrás de si simpatizantes socialistas, comunistas, do BE, antigos membros da LUAR e da extrema-esquerda mais radical, monárquicos, marialvas, gente conservadora e de direita… só porque não fora o candidato oficial escolhido pelo PS; descobriu-se entretanto que recebe uma choruda aposentação, por “meia dúzia de dias” de trabalho na RDP; logo a seguir, criou o MIC – Movimento Intervenção e Cidadania, agora em “águas de bacalhau”; o ano passado, ameaçou fundar um novo partido, mas agora junta-se ao líder, José Sócrates.
A missão de Manuel Alegre no PS, ao longo destes 35 anos, é mostrar falaciosamente aos portugueses a diferença dentro do partido – diferença que não existe nem é possível nesta lógica actual de intervenção –, para legitimar as políticas liberais dos dirigentes. Caso contrário, já tinha sido expulso.
A diferença de posições no seio das direcções dos “partidos estruturantes” do regime tem sido combatida em todas as formações políticas; o “centralismo democrático” não ocorre apenas no PCP, que sempre combateu o que designa por “fraccionismo” quando dois ou mais militantes se reúnem mas não em nome do líder. Veja-se, por exemplo, Manuel Serra (PS), em 1975; Carmelinda Pereira (PS), em 1977; Carlos Macedo (PSD), em 1988; e os críticos do PCP, na década de 90.
Manuel Alegre faz lembrar um cônjuge que se dizia traído e entrou em pânico: bateu no seu par, destruiu os móveis da casa, abandonou a residência, chorou, chorou, queixou-se aos filhos, denunciou a alegada traição a toda a família, aos vizinhos, aos amigos, a toda a gente… mas, poucos dias após, voltou para casa, para o aconchego do seu par. Como um cordeiro! Se esse cônjuge estivesse estado calado, hoje só ele saberia do denunciado caso.