Horácio Costa "chutado" para canto
Havia todas as condições para ser um grande comício, mas não foi: apesar de ter acorrido muita gente à praça, bastante movimentada, o certo é que, em termos de manifestação política, esta teve apenas a expressa adesão de pouco mais de 200 pessoas.
De facto, a boa moldura humana no jardim mostrava-se apática, indiferente e, parte dela, algo céptica em relação à política e aos políticos. A maioria das pessoas circulavam, circulavam pelos passeios exteriores do jardim; paravam de quando em vez e tornavam a circular. Estavam lá por razões diferentes: uns por fascínio a ajuntamentos de pessoas sejam lá de quem for, outros por mera curiosidade ou por passeio em família, outros ainda por “espionagem” ao serviço doutras candidaturas.
A nível logístico, nada faltou e tudo esteve quase perfeito… Palco omnipotente; luz e som interactivos (a condizerem mais com um concerto musical da “pesada”); longos painéis a dificultarem a visibilidade dos candidatos “indesejáveis” (em outdoors de outras colorações políticas); cadeiras brancas plásticas para os “notáveis” do movimento e eventuais candidatos; duas freiras assistiam muito atentas ao anúncio da candidatura; um placard com projecção de um filme, com enormes problemas de som, onde figuras conhecidas do concelho declaravam o seu apoio a Fátima Felgueiras (como, por exemplo, Ernesto Rodrigues, advogado e candidato do PSD à Câmara em 1985); torres/colunas imperiais de entrada “triunfal” ao fundo do jardim principal; um grupo de “miúdos” no palco a cantar, e que, recentemente, brilhou na “Operação Triunfo”, da RTP; cantou-se, curiosa e sintomaticamnte, ou não, “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, canção-senha para o arranque dos militares revoltosos na noite de 24 de Abril de 74; fogo-preso a iluminar o palco; jovens e adolescentes com bandeirinhas "à americana"; cartazes de tamanho A2 pelo meio do recinto com a foto da figura tutelar do movimento; crianças saltavam na relva e pisavam flores; e um speaker farto de berrar “pró boneco”, não por causa dos infantis infractores, mas porque o comício prendia muito pouco a atenção dos presentes, que apreciavam mais o ambiente aprazível da frescura, numa noite pouco dada a romantismos...
O comício estava marcado para as 21,30 horas, mas deu início só depois das 22. Tal como se previa, apenas foi anunciado o nome da candidata a presidente da Câmara. Posteriormente, serão anunciados os nomes dos restantes elementos ao Executivo e o cabeça-de-lista à Assembleia Municipal. Tal como já dissemos, João Garção quis ficar de fora; segundo apurámos, o candidato ao seu lugar (pelouro da Cultura e da Educação) é Jorge Valdemar Sousa, professor da Escola Secundária de Felgueiras e com funções na Escola Profissional. Continua a dúvida quanto a Horácio Reis, sendo certo que Fátima não prescinde de Bruno Carvalho. O problema do SP para o Executivo está na escolha de uma segunda mulher, para o 4. lugar. António Pereira deverá encabeçar a lista à Assembleia Municipal. Orlando Sousa, actual presidente da Mesa, não fará parte do elenco.
Júlio Faria, ex-presidente da Câmara, mandatário eleitoral do movimento Sempre Presente (SP), que, há quatro anos, apoiou a candidatura de José Campos (PS), abriu o evento de ontem. “Quase todos me conheceis” – começou por dizer. Elogiou Fátima Felgueiras como autarca e desvalorizou as candidaturas da oposição: “Fátima Felgueiras é a figura política mais experiente em Felgueiras. Tem demonstrado isso ao longo dos anos”. Mais adiante lamentou a “maledicência política ocorrida durante 10 anos, que deu uma imagem errada do concelho” – referia-se às denúncias anónimas de alegada corrupção que levaram à acusação de várias figuras da terra, inclusive do próprio, e à condenação de Fátima Felgueiras, de 3 anos e 3 meses de prisão, emanada do acórdão de primeira instância do processo do “saco azul”. Mas Júlio Faria quis colocar - e assim convém ao momento político -, a "tónica" judicial apenas no designado “processo do futebol”, em que todos os arguidos foram absolvidos: “Afinal, todas as acusações eram falsas, como se acaba de demonstrar”. Obviamente, Faria não se referiu ao recurso de Fátima Felgueiras que se encontra no Tribunal da Relação, no que concerne à condenação e à decisão judicial de perda do mandato.
O discurso de Fátima Felgueiras foi escusamente longo. “Afinal isto não é uma entrada à Hugo Chávez mas um discurso à Fidel” – disse-nos uma leitora assídua do DIÁRIO DE FELGUEIRAS.
Na verdade, esta não é a Fátima Felgueiras doutros tempos, longe do fulgor e da eloquência das campanhas anteriores. Mesmo assim, tentou dar um forte abanão à massa humana que circulava sonâmbula, ali no jardim, indiferente, e que não captava uma frase inteira sequer, por mais curta que fosse. Começou por dizer: “Nunca houve nada aqui, em Felgueiras, que não fosse de rigor, honestidade e honra. Andaram 10 anos a espalhar mentiras!”
De seguida, a autarca recandidata ao lugar de presidente da Câmara enumerou a obra feita no presente mandato. Esticou, esticou o “pano” ao discurso e acabou, na dita enumeração, por repetir várias vezes o mesmo.
Sobre as polémicas “tarifas de disponibilidade” da água e do saneamento, que estão a penalizar grandemente os orçamentos das famílias mais idosas e desfavorecidas do concelho, Fátima enrolou o discurso de tal maneira que acabou por não deixar claro o seu argumento sobre a matéria. Falou, por exemplo, nas acessibilidades até à freguesia de Pinheiro e “gastou” cerca de 20 minutos do discurso a falar da ligação da variante à Longra. Quanto aos Centros Escolares, foi mais elucidativa: disse que, dos 15 projectos, falta concluir apenas dois.