segunda-feira, dezembro 24, 2007

Boas Festas


Natal dos Simples - Zeca Afonso




VEM AÍ O NATAL!


Vem aí o Natal!


Que frio instável se instalou nos meus ossos!

Os músculos pretendem dormir,

Acomodados que andam pela digestão do sal enfartado.

E, constantemente, estremecem

Com o cintilar das lâmpadas do presépio.



Mais uma vez, a periclitante soberba dos gostos

Esfomeia-se de açúcar e álcool nas veias.

- Quem dorme, hoje, nesta planície de neve?



As mães desgraçam-se na correria louca das superfícies;

O Pai Natal é filho de uma besta.

Os putos não sabem mas são

As lâmpadas fundidas sobre as alcatifas dos anos 70.

Na minha infância havia, também, missa do galo –

E, como todas as pessoas da aldeia, raramente faltava ao preceito.

Isto, de facto, de misturar o vinho do povo com os missais da Leitura

É como o azevinho dos altares zelados pelas avós,

Que honram as formas clássicas da Palavra,

Que quer-se dócil, insubmissa e nossa Mãe.



E olho para ti, Menino Jesus, e digo:

Ficarei, aqui, só, contigo, a noite inteira –

Até à hora alva da Humanidade.


Apenas,

Senhor, Meu Deus, para Te ver nascer.



in "Sem Síntese De Mim"

JOSÉ CARLOS PEREIRA