O episódio remonta a 1998, quando o Felgueiras se debatia com a necessidade de angariar 20 mil contos
"O mundo do futebol é muito difícil", suspirou a principal testemunha da audiência de ontem do julgamento do "saco azul" de Felgueiras, o chefe de departamento administrativo e financeiro do Futebol Clube de Felgueiras, José Maria Barata Feio.
Economista na reforma, o responsável pela contabilidade do clube felgueirense entre 1997 e 2001 foi instado a justificar a entrada de 20 mil contos (100 mil euros), supostamente oriundos da Resin.
O episódio remonta a 30 de Dezembro de 1998, momento em que o FC Felgueiras se debatia com a necessidade de angariar 20 mil contos para fazer face a um cheque da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Felgueiras. Nesse dia, José Barata Feio diz ter recebido um telefonema do presidente do clube e ex-presidente da câmara, o socialista Júlio Faria, que alegadamente lhe pediu para emitir uma factura no valor da dívida, em nome da Resin, justificada como donativo.
Horas depois, o economista dirigiu-se à Câmara de Felgueiras, por indicação de Júlio Faria, para levantar a importância e depositá-la no banco de imediato.
Horas depois, o economista dirigiu-se à Câmara de Felgueiras, por indicação de Júlio Faria, para levantar a importância e depositá-la no banco de imediato.
José Barata Feio confirma que recebeu das mãos do vereador Horácio Costa dois envelopes. Um continha um cheque no valor de 12.500 contos (62.500 euros) e um segundo com 7500 contos (37.500 euros) em notas.
Ainda de acordo com este testemunho, um responsável da Resin terá telefonado no dia seguinte para o clube exigindo que a factura fosse trocada, porque a factura em causa deveria ser de 12.500 contos e não 20.000, e que a justificação seria a de publicidade e não um donativo.
O economista emitiu nova factura no dia 31 de Dezembro, já com o novo valor e acompanhada por um contrato de publicidade.
O economista emitiu nova factura no dia 31 de Dezembro, já com o novo valor e acompanhada por um contrato de publicidade.
Este é o momento que gera a controvérsia. Até à data, a tese da defesa assentava no facto de os 12.500 contos entregues ao economista dizerem respeito a um contrato de publicidade de Agosto de 1998, facto que José Barata Feio nega: "Esse dinheiro foi para pagar o contrato de Dezembro."
A defesa da Resin sustenta que pagou apenas 12.500 contos por um contrato de publicidade. No entanto, as indicações dadas por Júlio Faria ao economista indiciam que os 7500 contos em notas teriam alegadamente a mesma proveniência.
O procurador do Ministério Público (MP), Pinto Bronze, tentou confrontar a testemunha com o seu depoimento na PJ, por alegadas contradições, mas devido a recusa de alguns advogados de defesa o requerimento foi indeferido.
Para ultrapassar o impasse, o MP pediu a extracção de uma certidão com as declarações da testemunha na PJ e solicitou uma advertência, por parte do colectivo de juízes, à testemunha, lembrando que esta deveria retractar-se, caso tivesse prestado falsas declarações. Apesar da oposição da defesa, o colectivo acabou por dar razão ao MP.
Público, 17.10.2007