sábado, novembro 04, 2006

Carta aberta de Suror Mariana a Manuel Maria

Foto "Expresso de Felgueiras"



Meu caro e bom amigo Manuel Maria:

Foi com muita atenção que li a entrevista que deste ao "Expresso de Felgueiras", na sua última edição, mesmo não percebendo bem qual foi o critério editorial para que a mesma fosse realizada, agora, num calendário tão vazio quanto ao combate político mais febril, que é o que começa a verificar-se nas dinâmicas internas dos partidos um ano antes das eleições autárquicas. Nessa altura, todos são "candidatos a candidatos" a cabeça-de-lista pelo seu partido, tal como o foste, em 2003 e 2004, precisamente na ocasião em que a Maria de Fátima se encontrava no Brasil e que acabaste por desistir. Faltou-te, pois, força bastante para defrontares quem potencialmente podia vir a ser presidente da Câmara, mercê - em caso de vitória do PS - de quem fosse o candidato pelo partido (José Campos foi o escolhido, mas, antes disso, falava-se no Horacinho Manuel, no Manuel Inácio, no Venâncio Garção e em ti, Manuel Maria). Como ainda estamos a três anos do próximo acto eleitoral, torno a dizer, não compreendo qual a oportunidade da entrevista, tanto mais que, na minha opinião, jamais serás candidato à Câmara de Felgueiras... Mas o mundo dá muitas voltas, não é verdade, Manuel Maria?

Se permites que use do à-vontade que tenho contigo habitualmente - a nossa amizade já vem dos tempos da claque do Benfica -, achei-te, na tal entrevista, muito artificial, naquele rosário de elogios feitos à Maria de Fátima, os quais poderão ser muito justos mas não serão sinceros de todo. Confessa lá!... Aliás, o facto de terem vindo a público neste "período histórico" de Felgueiras - no pós-regresso de Maria de Fátima - até dá a impressão que todo o teu discurso é como aquelas flores que mesmo artificiais não deixam de ser lindas mas não têm o perfume das pétalas, simplesmente porque não têm vida própria.

Na verdade, a alusão que fizeste à Maria de Fátima, que anda extenuada com uma certa Oposição "bota-abaixo", poderá ter um efeito nesfasto para a visada, porque, mesmo que os elogios sejam justos de verdade, os mais cépticos, os mais críticos, os observadores natos, todos eles podem tomar a mensagem em sentido contrário - como diz o provérbio, "pior a emenda que o soneto"...

Dizes, nessa entrevista: "Eu vou ser directo. Não vou utilizar o chavão dizendo até prova em contrário acredito em A, B ou C. Não tenho a menor das dúvida: a Dr.ª Fátima Felgueiras é uma cidadã séria. Seria incapaz de lesar o erário público. Sobre isso, estamos claros: ou se acredita ou não se acredita. Eu acredito na inocência da Dr.ª Fátima Felgueiras".

Concordo com tudo isso, meu bom amigo, Manuel Maria. Só não concordo, torno a dizer, com a oportunidade desta entrevista. Porque devias ter produzido as afirmações supracitadas durante o tempo em que a Maria de Fátima se encontrava ausente, no Brasil, precisamente na altura em que te apresentavas nos bastidores da política como "candidato a candidato" e ainda ninguém tinha a certeza se a autarca regressaria ou não. Ou, então, podias guardar essas palavrinhas para quando, um dia, ela já não estiver a governar e estiver ilibada de todos os crimes que - injustamente, dizes tu - lhe são imputados, nesta fase do processo.

Por outro lado, na entrevista, devias ter dado maior ênfase à pessoa de Júlio Faria. Devias dizer, igualmente, que ele está inocente em relação a todas as acusações. Lá porque, actualmente, não é o presidente da Câmara e porque não anda nas boas graças de Maria de Fátima, não o queiras subvalorizar enquanto figura história do teu partido. Afinal foi ele quem te deu o ser - ser político, entenda-se! - cá em Felgueiras.

Desejando ardentemente que o nosso glorioso Benfica arrepie caminho, rumo às vitórias, despeço-me com um beijo, ciente, meu bom amigo, que jamais te ofenderás pelo meu frontal reparo. Sempre contaste comigo, com a minha amizade, nos bons e nos maus momentos da vida. E não vai ser agora que te vou deixar mal.

Suror Mariana