Ficou na história, no início da década de 70, como "padre Mário da Lixa", graças à sua reiterada atitude, à frente da paróquia de Macieira da Lixa (Felgueiras), de denunciar, nas homilias, a guerra colonial, a ditadura e as injustiças.
Na altura acorriam à localidade multidões de pessoas de todo o país, em autocarros, só para ouvir Mário de Oliveira. A ousadia valeu-lhe duas prisões preventivas, em Caxias, de sete e 11 meses. Na Guiné-Bissau, fora expulso de capelão militar, por pregar a independência das ex-colónias. Por ironia do destino, caberia a D. António Ferreira Gomes, regressado a Portugal após o célebre exílio, exonerar o pároco, por imperativos do Estado Novo. A Igreja nunca mais nomeou para qualquer missão este padre "celibatário por opção, longe dos templos e dos altares".
Mário de Oliveira, hoje com 69 anos, recorda "D. António foi muito pressionado por colegas meus e pelo núncio apostólico, porque em causa estava a Concordata, que reconhecia plena liberdade aos párocos no exercício da sua pastoral e, como tal, o Tribunal Plenário acabava por me absolver. Não me podendo condenar, o Estado Novo terá imposto a D. António: 'Ou põe este indivíduo na ordem ou renunciamos à Concordata'". Em 1975, sem deixar o ministério presbiteral, Mário de Oliveira passou a exercer a profissão de jornalista, da qual está reformado, embora ainda dirija o jornal "Fraternizar", que difunde a Teologia da Libertação. "Aprofundei-a na cadeia, onde, na troca de ideias com os outros presos políticos, tomei conhecimento de autores marxistas, que não tinham sido dados no seminário", afirma.
Há dois anos, voltou a morar na Lixa, numa casinha alugada, com três divisões, muito humilde, "tal como Jesus de Nazaré". Manteve sempre uma Comunidade Cristã de Base e, neste âmbito teológico, acompanha "As Formigas de Macieira da Lixa", associação que tem projectado o Barracão da Cultura. Porque, segundo diz, as "pessoas não precisam de missas, mas de cultura. A componente social, para idosos e deficientes, também faz parte do projecto".
Autor de extensa obra teológica, desde 1970, o padre Mário publicou, em 1999, "Fátima, Nunca Mais", polémico livro que já vai na 11.ª edição. Continua a sustentar que "Fátima é uma montagem do clero da altura e da zona para tentar recuperar os privilégios que tinha perdido com a implantação da I República".
"Comporto-me na sociedade e na Igreja como um menino que está sempre a estragar os joguinhos de interesses", garante Mário de Oliveira. E conclui "Sou um homem que toma partido, mas não tem partido. A verdadeira democracia seria o 'governo do povo', o povo no poder. O que temos é um povo a votar em políticos profissionais, que, depois, se esquecem dele".