sábado, agosto 19, 2006

Manipulação (ainda sobre Marcello Caetano)

Já vários blogues se referiram à efeméridee ontem comemorada: o centenário do nascimento de Marcello Caetano.
No documentário que passou na RTP1, de uma forma tosca e pirosa, traçou-se o panegírico de um homem que, apesar das suas com certeza muitas qualidades intelectuais, fica para a nossa história como o continuador de uma ditadura, como o indivíduo que cujas intenções não passaram disso mesmo, de intenções. De um político que não era ingénuo nem impoluto, que não soube ou não quis fazer a transição para a democracia, que manteve a censura e a lei do partido único, que teimosamente e em público defendia a guerra colonial, atacava os seus opositores apelidando-os de anti patriotas, que manipulava a informação.
De uma maneira despudorada tentou fazer-se passar a imagem de um homem desapegado do poder, idealista, um escravo da causa pública, quase subentendendo, por oposição, o regabofe de oportunistas e arrivistas que apareceram após o 25 de Abril.
Já não falo da entrevista à filha, Ana Maria Caetano, conduzida por Judite de Sousa que, tal como sucedeu com a entrevista à irmã de Álvaro Cunhal, foi acéfala.
As pessoas vivem de acordo com o carácter, consciência, personalidade, inteligência e segundo a época, o tempo, o espaço, a moda, as ideologias. Não se prestam favores, nem às suas memórias, nem às memórias colectivas dos povos, alisando arestas, ocultando de factos ou apresentando uma realidade distorcida e mais ou menos açucarada. Foi vergonhoso.
Pelo contrário e entre o que li, destaco o artigo de Vasco Pulido Valente no Público que, apesar da acidez e da crueza que lhe são características, é muito bom.
Sofia Loureiro dos Santos - Defender o Quadrado