Em 1506 já não havia oficialmente judeus em Portugal, tinham sido convertidos à força em "cristãos-novos". Mas o ódio mais antigo do Mundo, alimentado pela intolerância e pela ignorância, persistia surdamente em muitos corações. No dia 19 de Abril, domingo de Pascoela, faz hoje exactamente 500 anos, bandos conduzidos por frades do convento de S. Domingos, em Lisboa, transportando crucifixos e prometendo cem dias de absolvição a quem matasse um judeu, "começaram (a descrição vem em Damião de Góis) a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos, lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio". A matança prosseguiu nos dias seguintes, durante os quais foram chacinadas mais de 4 mil pessoas, velhos e novos, homens, mulheres, arrancados de suas casas e lançados em fogueiras. "Era tamanha a crueza - conta Damião de Góis - que até nos meninos e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços e esborrachando-os de arremesso nas paredes". O holocausto, cuidadosamente apagado dos livros de História, durou três dias. Os herdeiros dos assassinos continuam ainda hoje à solta por aí e por isso é que lembrar é preciso