domingo, janeiro 29, 2006

Notícia da RTP

(RTP, 28.01.2006)
A Câmara de Felgueiras foi hoje acusada por perseguição a um funcionário e de tentar obrigá-lo a abandonar uma colaboração que mantém há 12 anos com o Jornal de Notícias devido a artigos que escreveu sobre o caso "saco azul".
Em conferência de imprensa no Porto, Duarte Nuno Correia, advogado do funcionário José Carlos Pereira, recordou as notícias por ele elaboradas para o Jornal de Notícias durante o processo "saco azul", o que, considerou, "agora se demonstra que não foi do agrado da senhora presidente" da Câmara.
A presidente da autarquia, Fátima Felgueiras, é arguida no âmbito do processo denominado "saco azul", tendo viajado para o Brasil quando o tribunal lhe decretou prisão preventiva e regressado para concorrer às autárquicas de 2005, que venceu.
"A primeira coisa que a senhora presidente fez [depois de ganhar as eleições] foi destacá-lo para um edifício abarracado e insalubre, onde funciona o departamento de veterinária, sem condições sequer para os animais, quanto mais para pessoas", acusou o advogado, recordando que José Carlos Pereira sofre de uma doença crónica evolutiva, espondilite anquilosante.
Duarte Nuno Correia adiantou que, na sequência desta medida, o executivo municipal enviou na quinta-feira um despacho aprovado de um só parágrafo em que afirmava que a manutenção da colaboração com o JN, que o funcionário mantém há 12 anos, é incompatível com o carácter de exclusividade das funções que exerce na autarquia.
Estranhando que esse problema nunca antes se tenha colocado, o advogado de José Carlos Pereira considerou ainda "curioso que não se tenha levantado a mesma questão em relação ao jornal O Jogo", com o qual o funcionário mantém igualmente uma colaboração.
"Trata-se de uma clara situação de gato escondido com o rabo de fora, de uma decisão política disfarçada de jurídica", disse o advogado, recordando que José Carlos Pereira foi também recentemente "insultado no local de trabalho por pessoas ligadas à presidente da Câmara".
Duarte Nuno Correia salientou que o seu cliente exerce as funções de correspondente do JN e do Jogo.
Recordando que a colaboração que exerce com os jornais foi sempre em regime de pagamento "à peça", o causídico garante ter recebido um parecer da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas onde pode ler-se que "nenhuma incompatibilidade existe entre as funções de correspondente local e de funcionário administrativo autárquico".
Na conferência de imprensa encontravam-se, em solidariedade, representantes de vários partidos e do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública.
Entre estas personalidades encontrava-se João Teixeira Lopes, deputado do BE, que já havia enviado um requerimento ao Governo denunciando a forma como José Carlos Pereira foi transferido para o departamento de veterinária.
Isabel Santos, deputada do PS, os líderes das concelhias de Felgueiras do PS e do CDS/PP, Inácio Lemos e Madalena silva, e Santos Pinho, do BE, também estiveram presentes, tendo Francisco Cunha, do PSD, e José Campos, cabeça-de-lista socialista nas últimas autárquicas, enviado mensagens de solidariedade.
Teixeira Lopes elogiou a "convergência cívica" criada em torno deste processo "contra uma medida que atenta contra a liberdade", sublinhando que ela "não acontece tantas vezes assim na vida política".
A Lusa tentou obter uma reacção da Câmara de Felgueiras a estas acusações, mas até ao momento tal não foi possível.