sábado, outubro 08, 2005

Opinião de Alberto Magalhães

Hoje, estamos a viver o dia que alguém convencionou chamar de “dia da reflexão”, quando este coincide com o dia que medeia entre o fim da campanha eleitoral e o dia de um acto eleitoral. Não deixando de ser um dia como qualquer outro, em termos de calendário, este dia deve servir para fazermos uma análise daquilo que foram as propostas das várias candidaturas durante o dito período de campanha eleitoral – agora cada vez mais longo, porquanto os candidatos nos começam a brindar com alguns cartazes e ‘outdors’ mais cedo do que vinha sendo habitual – e das mensagens que tentaram passar, com mais insistência durante estes últimos dias.
Contudo, devemos ter de analisar com cuidado se as mensagens que nos foram transmitidas, algumas mais ou menos demagógicas, porque todos sabemos que nenhuma das candidaturas conseguirá concretizar em quatro anos aquilo que se propõe fazer. E é aqui, penso eu, que nos cabe discernir as que são puramente demagógicas, para alcançar votos, daquelas que terão alguma possibilidade de realização. Para isso, é importante conhecermos bem os projectos e as pessoas que corporizam as referidas candidaturas.
Amanhã, será um dia de capital importância para o nosso concelho. Na minha opinião, os felgueirenses irão pôr à prova a sua inteligência perante o país. O país irá ficar na expectativa, pelos motivos que são sobejamente conhecidos, de saber se o povo de Felgueiras é, de facto, um povo ordeiro, laborioso, empreendedor ou se, ao invés, irá confirmar aquilo que alguns dizem sobre nós, que eu não aprovo, mas compreendo. Qualquer pessoa, que more no Seixal, no Alentejo ou em qualquer outra zona do país, necessariamente ficaria com a mesma impressão, face à imagem que algumas pessoas insistentemente têm vindo a passar para o exterior, ao protagonizarem papeis dignos de algumas personalidades da América Latina.
Felgueiras, o concelho, será chamado a escolher aqueles que nos próximos quatro anos, e não só, terão a missão de inverter a ideia que têm de nós, demonstrar ao país que “Felgueiras não é a Terra do Astérix”, como um dia advertiu o saudoso Barros Moura. Não é a terra dos “maiores nabos do mundo”, como alguém disse (ver Independente, de 3 de Junho).
Felgueiras não pode continuar neste triste espectáculo que corremos o risco de ver prolongar-se com o julgamento do caso “saco azul”, que irá seguir-se. Não pode continuar a ver os líderes da sua Autarquia envolvidos em julgamentos, continuando a fragilizar a gestão de um concelho que já sofreu pesados prejuízos nestes últimos dois anos, parando no tempo.
Os novos autarcas, que sairão do sufrágio de amanhã, terão essa difícil missão. Felgueiras, apesar de ter um elevado número de iletrados e ocupar os lugares mais sombrios da taxa de abandono escolar, é, ao mesmo tempo, uma terra de gente com vontade de mudar essa tendência. Essas pessoas não são uns inúteis, são matéria humana importante.
Foi também com alguns analfabetos (apenas porque não têm qualquer escolaridade), que têm, afinal, a grande escola da vida, que aprendi muito do que sei hoje. Na minha adolescência, passei algumas noites na minha aldeia a escutar e a conversar com gente do campo, com o “Toninho”, as graças do Cerqueira, que morava no Carvalhal, nas desfolhadas, nas vindimas, etc. Enfim, pessoas humildes, mas com uma cultura geral notável, face às limitações da vida dura e cruel do passado. Aprendi, muitas vezes, que esforço e sacrifício não significam necessariamente tristeza.
Caberá a todos nós decidir o nosso futuro, o futuro do nosso concelho. Reflictamos e decidamos de acordo com a nossa consciência e com a responsabilidade que este momento justifica.

Há dias, numa entrevista passada num canal de televisão, sobre assuntos económicos, um destacado membro de uma associação empresarial, de que não tive a oportunidade de ouvir o nome, dizia algo como isto: não seria bom para o país e para a economia nacional, a propósito das “candidaturas dos arguidos” e em especial do estranho regresso do Brasil da nossa figura mais tristemente conhecida, uma vez que isso desencorajaria os investidores estrangeiros, porque, assim como os portugueses, cada vez menos confiariam nas instituições. Como poderá o concelho atrair investimentos em outras actividades - como o prometeram quase ou mesmo todos os cabeças de lista a estas eleições – se os seus próprios políticos não transmitirem aos agentes económicos um sinal de confiança e de estabilidade?
Amanhã, não de madrugada, mas há noite, poderemos ouvir “Grândola Vila Morena”, como contra-senha do “E depois do adeus”.
Finalmente, uma referência à postura dos líderes dos dois maiores partidos nacionais, neste processo eleitoral em Felgueiras.
O PS, e Sócrates em particular, ficaram muito mal na fotografia, relativamente ao regresso de Fátima Felgueiras. Ao não comparecer ao lado do seu candidato local, demonstrou aquilo que muitos aventam, que pelos vistos existe algo que os compromete. José Campos teve de lutar contra todas as adversidades e mais essa. Talvez por isso tenha visto a sua imagem reforçada. Habituado a conduzir homens, soube vencer sucessivas batalhas, impondo-se aos interesses instalados, dificuldade aumentada por não ser um filiado. Foi maior do que o próprio PS e poderá colher os frutos dessa abnegação e capacidade de liderança que paulatinamente demonstrou ao longo da campanha.
Quanto ao PSD, Marques Mendes teve uma postura bem diversa do seu adversário do PS. Ao não aceitar candidaturas de pessoas que não ofereciam credibilidade ao partido, deu mostras de que afinal a política pode ser diferente.
Caldas Afonso beneficiou muito com o seu apoio, em mais do que uma visita ao nosso concelho. O seu papel foi bem mais fácil que o do seu principal concorrente. Sobre as suas capacidades como médico, todos sabemos que são excelentes. Paira a dúvida sobre se assumirá o mandato ou abdicará, para continuar uma carreira de sucesso. A dúvida também sobre as suas capacidades enquanto político capaz de liderar um município governado há quase trinta anos pelo mesmo partido. Tem o handicap de não serem conhecidas as suas aptidões políticas, uma vez que não são muito conhecidas da opinião pública.

Alberto Magalhães (42 anos), Felgueiras