segunda-feira, outubro 31, 2005

Grande entrevista a Marques da Silva


José Carlos Marques da Silva foi o cabeça-de-lista do PS à Assembleia Municipal de Felgueiras nas eleições autárquicas do passado dia 9.
Jovem, eloquente e dinámico, Marques da Silva, que se apresentou ao eleitorado como independente, confessa que está a estudar a possibilidade de se filiar no partido rosa. Se tal vier a acontecer, diz quem o conhece que irá impor a sua presença de forma a alterar o status quo vivido na Concelhia, que, como se sabe, é liderada por Inácio Lemos.

"Não me parece que
(Inácio Lemos)
tenha quaisquer condições
para fazer seja o que for"

Na sua opinião, a que se deve a derrocada eleitoral do PS em Felgueiras nas autárquicas do passado dia 9?

Há uma multiplicidade de factores que podem ajudar a explicar o mau resultado do PS nas últimas eleições autárquicas. No entanto, neste momento, parece-me que o fundamental é analisar ponderadamente os factos e construir soluções alternativas capazes de garantir um futuro melhor a todos os felgueirenses.
No entanto, num esforço de síntese e para simplificar a análise podemos organizá-las em dois grandes grupos. Um que designaria de institucional e outro de natureza mais interna, da própria candidatura do PS.
Relativamente ao primeiro parece-me evidente que factores como: a confusão, propositadamente, gerada à volta da legitimidade da própria candidatura; as querelas internas na formação das próprias listas com a tentativa de imposição por algumas facções, nomes e lugares; a ausência, deliberada, de um maior envolvimento das estruturas nacionais do Partido Socialista, como sempre foi evidente mas que a desastrosa visita do Dr. Almeida Santos tornou inquestionável, foram obstáculos evidentes a um melhor desempenho político da candidatura do PS local.
Quanto aos factores internos não entendo oportuno tratá-los neste enquadramento pois, parece-me deverem ser analisados e discutidos no seio da própria candidatura, como de resto tive ocasião de o fazer na reunião do dia seguinte às eleições.

Há quem considere que a vitória de Fátima Felgueiras, nas circunstâncias em que ocorreu, afigura-se atípica. Mas, por outro lado, diz-se que José Campos não era o candidato natural do PS – aliás, o líder da Concelhia, Inácio Lemos, acabou por retirar a confiança política à lista de Campos, para Câmara e a que foi encabeçada pelo Dr. Marques da Silva, para a Assembleia.

A vitória de Fátima Felgueiras e do seu movimento não teve nada de atípica. Foi uma vitória inequívoca e resultou claro que os eleitores confiaram-lhe maioritariamente o seu voto. Temos todos de respeitar essa realidade. Veremos, com absoluta serenidade e maturidade democrática o que o futuro, a todos, no reserva. Pessoalmente não tenho razões para estar muito optimista.
O que terá sido menos óbvio em todo o processo foram um conjunto de coincidências e circunstâncias pouco habituais, que percorrem diferentes aspectos da vida social e política e acima de tudo uma questão de consciência individual e cívica de cada um. Quanto ao resto, o país e os responsáveis de cargos públicos que se envolveram, ou viram envolvidos, em diferentes querelas e constrangimentos processuais que tirem as necessárias ilações de tudo o que se passou, porque a situação do país é de tal ordem problemática que não dá espaço a que se cometam duas vezes os mesmos erros.
Quanto ao facto de a candidatura do José Campos poder não ser a candidatura natural, não foi o que resultou da votação interna promovida há uns meses atrás no âmbito do PS Felgueiras, nem o que todos assumiram na cerimónia pública de apresentação do candidato. Ou estávamos no reino da mais elementar hipocrisia política ou as convicções de algumas pessoas são mais perenes do que o vento num dia de furacão…
Mas com esse folhetim nenhum felgueirense aproveitará ou verá resolvido qualquer problema, daí que o melhor e começar a preparar o futuro. Não podemos continuar a ver conduzir o autocarro onde viajamos ser conduzido a olhar pelo retrovisor, caso contrário…


Concorda com a crítica de que José Campos menosprezou a matriz socialista do partido bem como os próprios militantes e dirigentes da Concelhia, ao incluir um número elevado de independentes nas listas para os dois órgãos do Município?

Estou certo que José Campos tomou, em consciência, e em cada momento as decisões que entendeu mais adequadas, sempre no interesse de servir Felgueiras e os felgueirenses.

Não teria sido possível uma certa flexibilidade, ou seja, alguma cedência por parte de José Campos e da sua candidatura em relação às exigências de Inácio Lemos, em vez de ter sido lançado o “braço-de-ferro” entre as partes?

Nada mais tenho a acrescentar sobre essa matéria.

O senhor, quando foi convidado por José Campos para encabeçar a lista, se tivesse a certeza que Fátima Felgueiras regressaria a Portugal, teria aceite o convite?

Confesso que tenho muita dificuldade em compreender a sua pergunta. Se me conhecesse bem, saberia que nunca, em circunstância alguma, faria depender a minha decisão de aceitar o convite para me candidatar, da eventual candidatura de quem quer que fosse.
A minha decisão foi uma decisão de consciência pessoal e cívica, tendo dado o meu contributo para o debate e para a necessidade de dar corpo a um projecto ganhador para Felgueiras.

Fátima Felgueiras procurou consenso com o PS para conseguir a maioria política na Assembleia Municipal. No entanto, o Dr. Marques da Silva veio denunciar a público o modo como a autarca conduziu a negociação. Quer falar sobre isso?

A sua afirmação não corresponde à verdade. Ninguém da candidatura que enuncia procurou, em momento algum, qualquer consenso com o PS. Nunca eu, ou José Campos fomos abordados nesse sentido, ou nos foi sequer transmitido qualquer vontade no sentido do que afirma.
O que aconteceu foi o que todos conhecem e tive ocasião de denunciar nos media nacionais, tendo sido, de resto, secundado pelo PSD dias depois porque também foram alvo das mesmas práticas.
Contudo, a solução que encontraram não foi, de todo, a forma mais educada e com a elevação que se exigia, no entanto devo admitir que por razões óbvias, também não me surpreendeu.
Percebo, no entanto, a posição de desconforto em que esse movimento que refere terá ficado, até porque não estão habituados a que os seus concidadãos tenham, igualmente, acesso aos media nacionais. Sinais dos tempos…


Não obstante, teoricamente, não ter possibilidades de vencer a eleição para a presidência da mesa da Assembleia Municipal, o PS insiste em candidatar o Dr. Marques da Silva para esse cargo. Quer clarificar esta atitude? (A data desta entrevista é anterior à da eleição da mesa da Assembleia Municipal)

É muito simples de perceber. Estamos tão somente a dar um sinal de ética politica a todos aqueles que nos confiaram o seu voto. É este o nosso desígnio e será essa a nossa conduta nos trabalhos da Assembleia Municipal.

O senhor acha que o PS, na Câmara e na Assembleia municipais, deve comportar-se como um identificado elemento da Oposição, do modo como o PSD tem sido ao longo dos mandatos, ou deve ser uma “força colaborante” com alguma das outras formações políticas representadas? Por exemplo, há um grande número de eleitos pelo movimento Sempre Presente que têm grande afinidade política com o PS. Muitos deles até são militantes socialistas.

Confesso, uma vez mais, que tenho muita dificuldade em compreender a sua pergunta. O PS saiu derrotado das eleições do passado dia 9 de Outubro. Obviamente nessas circunstâncias políticas que não desejávamos, mas que respeitamos, seremos oposição.
Desenvolveremos, quer na Câmara, quer na Assembleia um trabalho que honre a democracia e todos quantos nos confiaram o seu voto. Estaremos atentos e determinados na garantia do rigor, transparência e boa execução financeira e estratégica do projecto que saiu vencedor.
Saberemos trabalhar com rigor e determinação para mostrarmos aos felgueirenses, logo que a tal formos chamados, o que poderá ocorrer a qualquer momento, que temos um projecto e pessoas capazes para o por em prática uma alternativa melhor para Felgueiras.



Qual o seu comentário sobre o papel político de Inácio Lemos, líder do PS/Felgueiras, em relação à polémica que manteve com José Campos, bem como em relação a esta ligação de militantes do PS local ao movimento Sempre Presente?

Não tenho qualquer comentário a fazer. Essa matéria faz parte do passado. Deixarei aos especialistas em história das ideias políticas a tarefa de fazerem a análise mais adequada desse passado e daí extraírem as suas conclusões.
Pessoalmente, estou muito mais preocupado com o futuro do nosso concelho, com o futuro das pessoas, com o desemprego e a ausência de alternativas, com a ausência de estratégia política ou de qualquer visão estratégica dos que assumem momentaneamente os destinos do concelho.
Chega de falsos protagonismos, particularmente de alguns que, como diz o ditado do velho sábio, quando se aponta para a lua eles olham para a ponta do dedo! Comigo não contam para esse jogo inócuo.

Até que ponto a Concelhia e o seu líder, Inácio Lemos, vão intervir nas directrizes da bancada parlamentar do PS na Assembleia Municipal?

Decorre neste momento um inquérito interno no PS com vista à expulsão do partido da pessoa em causa. Não me parece que tenha, nessas circunstâncias, e depois dos tristes e verdadeiramente lamentáveis acontecimentos a que todos assistimos, quaisquer condições para fazer seja o que for.
Por outro lado a estrutura nacional do PS avocou o processo autárquico em Felgueiras, devendo ser nomeada, a todo o momento, uma comissão administrativa para gerir, transitoriamente, os destinos do partido em Felgueiras, pelo que a necessária coordenação nacional estará assegurada. Teremos todas as condições para fazer na AM um excelente trabalho ao serviço de todos e que dignifique o PS.


Por que motivo os eleitos do PS, no passado sábado (dia 22 de Outubro), se reuniram na sede da candidatura e não na sede do partido?

Pela razão mais óbvia e elementar, para se entrar num espaço é preciso ter chave… Penso no entanto que essa situação, muito desagradável deverá estar brevemente ultrapassada.

Será que há uma certa falta de sintonia entre os eleitos e os dirigentes da Concelhia?

Penso já ter respondido a essa pergunta.
Não acha que o PS/Felgueiras corre o “risco” de cair nas “mãos” dos militantes socialistas mentores do movimento Sempre Presente?

Não creio que seja possível até porque decorrem processos internos com vista à expulsão do PS de todos os elementos que, sendo do PS, fizeram parte de candidaturas políticas alternativas.
No entanto, não devo esconder que em Felgueiras têm tido lugar acontecimentos políticos de alguma irregularidade e de razoabilidade questionável pelo que… como o povo diz das bruxas! Vamos, apesar de tudo, acreditar que o bom senso não nos abandonará uma vez mais.


Depois dos resultados eleitorais do PS/Felgueiras nas autárquicas do passado dia 09, a estrutura local deverá renovar-se ou, mais drasticamente, refundar-se a partir das cinzas?

O PS tem uma oportunidade soberana de promover o que se designa em linguagem informática um refresh na sua estrutura local. Quem assistiu, como eu assisti, à reunião de análise dos resultados logo na Segunda-feira dia 10 de Outubro de imediato percebeu, pela dinâmica, entusiasmo, força e determinação das manifestações assumidas pelos intervenientes que há, no interior do próprio partido, uma massa critica extremamente válida com ideias e força para revitalizar o projecto socialista em Felgueiras.

O PS/Felgueiras deverá recrutar “nova massa crítica”, a partir de novos dirigentes e até de novos militantes, ou tentar a recuperação do actual “grosso modo”?

Nessa mesma ocasião, um conjunto de independentes assumiu também o compromisso, no caso de algumas condições de base estarem reunidas, de aderir ao PS e protagonizar um verdadeiro projecto político do PS em Felgueiras capaz de o conduzir à vitória no próximo acto eleitoral, logo que ele ocorra.
Quanto ao demais quero acreditar que todas as pessoas, de bem, que tenham um contributo a dar e se revejam na estratégia política a definir devem ter lugar e ser bem vindas ao PS de Felgueiras.
O Dr. Marques da Silva, muito em breve, irá filiar-se no PS?

Se as condições enunciadas estiverem reunidas e garantidas ao mais alto nível dentro das estruturas do PS, poderei analisar essa possibilidade.

Mas o senhor, embora independente, é conhecido como democrata-cristão, com recente ligação ao CDS/PP local.

Tive já publicamente, aos microfones da RF, oportunidade de esclarecer e clarificar esse embuste político. Não entendo porque volta a colocar essa questão, no entanto vou responder-lhe e esclarecer em definitivo e pela última vez essa matéria.
Nunca tive qualquer relação formal com o CDS PP local.
Fui sim director até Abril de 2004 do Jornal A Voz de Felgueiras, onde de facto há accionistas de todos os partidos políticos, mas com particular incidência no CDS PP. Orgulho-me muito de ter pertencido a esse projecto e desafio quem tiver dúvidas sobre a minha integridade politica e ou isenção editorial, enquanto director do jornal, a ler as dezenas de artigos de opinião que assinei nessa época.
Não precisava de assumir publicamente, mas posso ir mais longe e dizer-lhe até que sempre que exerci o meu dever cívico, votei no PS. Para bom entendedor…
Presumo pois definitivamente sanada esta falsa questão.

Segundo uma fonte, o senhor tem mantido reuniões com elementos dirigentes da Distrital do PS/Porto bem como com elementos da estrutura nacional. Quer dizer quem são esses dirigentes e os resultados dos encontros?

Não quero comentar essa afirmação, por entender que, pelo menos nesta fase, não vem acrescentar valor à discussão em curso. A seu tempo, se se justificar poderemos voltar a esse assunto.

O PS, a nível das direcções distrital e nacional, por duas vezes, “deixou cair” militantes e independentes contrários à linha oficial da Concelhia de Felgueiras. Em 2003, Francisco Assis, depois de ter apelidado a Comissão Política de “ilegal”, acabou por reconhecer a sua eleição, empossando-a; este ano, na campanha eleitoral, depois do regresso de Fátima Felgueiras, José Sócrates “deixou cair” José Campos; a vinda de Almeida Santos a Felgueiras foi uma “emenda pior que o soneto”.
O Dr. Marques da Silva não teme que o que acabo de explicar poderá voltar a acontecer em relação aos que se propuserem renovar a estrutura local?


Não comento pelas mesmas razões.

O senhor tem algum projecto para renovar o PS/Felgueiras, ou seja, de oposição a Inácio Lemos?

Não comento pelas mesmas razões.

Admite concorrer à liderança da Concelhia?

Não é uma questão que se me coloque neste momento.
Como sabe nem sequer militante sou e para ser candidato à concelhia, entre outros aspectos, como o inequívoco apoio das bases do partido, a observar é necessário essa condição prévia.
Devo contudo dizer-lhe que senti um grande entusiasmo e que tudo farei para dar corpo e continuidade a este grande projecto de verdade e seriedade que José Campos aportou à política local e cujo capital, entendo, não devemos nem podemos desperdiçar.


Entre Francisco Assis e Narciso Miranda, quem prefere para líder da Distrital do PS/Porto?

Não é uma questão que me preocupe neste momento. A prioridade é o nosso concelho e é nele que devemos concentrar todas as nossas energias. É necessário encontrarmos propostas válidas que nos permitam ultrapassar os graves estrangulamentos de que padece o nosso concelho, isso sim deve ser o nosso focus principal.

Qual a sua perspectiva sobre os próximos quatros anos de gestão Sempre Presente na Câmara Municipal?

O meu primeiro desejo vai para a imperiosa necessidade de que tudo corra bem ao nosso concelho nos próximos quatro anos.
Mas, e como lhe referi anteriormente, infelizmente, não podemos estar optimistas quanto ao futuro. Lamentavelmente as razões para esse pessimismo são variadas, muito eloquentes e ilustrativas.
Há uma clara ausência de estratégia e de coerência política nas parcas propostas apresentadas. Vagas e não fundamentadas. Creio que dezassete propostas no total!
Por outro lado, os motivos e as expectativas de base do grupo de cidadãos que esteve na base do lançamento do movimento em causa são também muito dispares e heterogéneas, o que a prazo poderá fazer eclodir a estratégia por dentro e talvez assistamos, uma vez mais, num remake que nada aproveita ao concelho àquilo a que infelizmente já nos habituaram… a implosão politica seguida da estagnação económica e social que afecta todos mais sobretudo os que têm menor mobilidade.
Mas esperemos que pelo menos uma vez a surpresa nos colha e que nada disto venha a ocorrer
.

O senhor não acha que PS nacional, um dia, pode vir a apoiar politicamente Fátima Felgueiras?

Se eu antecipasse o futuro jogava no euromilhões. Contudo, essa questão não está seguramente no top das minhas preocupações diárias. A pequena política não engrandece nem faz os homens melhores e mais solidários.