GLOSSÁRIO
Os nomes das leituras bíblicas na
tradição masoretica hebraica
Os capítulos desse livro
correspondem ás 54 secções da Torah (em hebraico “parasha”) estabelecidas pelos rabinos. Essas secções correspondem à
necessidade duma leitura semanal nas sinagogas duma parte da Torah. O titulo de
cada “parasha” é, em regra geral, a primeira palavra daquela
secção.
NOME HEBRAICO
DA PARASHA
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SIGNIFICADO DA PALABRA
NO CONTEXTO DO VERSICULO
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LIVRO DO
GENESIS
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BERESHIT
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No inicio…..
(Deus criou o céu e a terra)
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NOACH
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Nome em hebraico do Noé
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LECH LECHÁ
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Sai daqui por o teu bem…. (ordem de Deus a
Abraão)
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VAYERÁ
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E apareceu
(Deus a Abraão)….
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CHAYÉ SARA
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Os anos de vida da Sara…..
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TOLEDOT
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Eis a genealogia…..(do Isaac)
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VAYETZÉ
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E o Jacob saiu……
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VAYISHLÁCH
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E o Jacob enviou…..
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VAYESHEV
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E Jacob ficou….
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MIKETZ
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E foi ao fim…….
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VAYIGASH
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E o Judá avançou…..
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VAYECHI
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E o Jacob viveu…..
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LIVRO DO
EXODO
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SHEMOT
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Os nomes (dos tribos de Israel)
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VAERÁ
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E Deus apareceu (a Moisés)
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BO
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Vai….. (ter com o farão)
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BESHALÁCH
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Na saída…….(dos hebreus do Egipto)
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YITRÓ
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Nome hebraico do Jetro
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MISHPATIM
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Eis as leis…….
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TERUMA
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Oferta (para a construção do Tabernáculo)
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TETZAVÉ
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E tu ordenaras…..
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KI TISSA
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Quando farás a contagem….
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VAYAKEL
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E o Moisés
junto o povo…
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PEKUDÉ
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Eis as contas…
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LIVRO DO
LEVITICO
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VAYIKRÁ
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E Deus chamou…( a Moisés)
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TZAV
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Ordenai..
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CHEMINI
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No oitavo dia…
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TAZRIA
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Mulher que engravida…
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METZORÁ
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Leproso
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ACHAREI MOT
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Depois da morte….(dos filhos do Aaaron)
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KEDOSHIM
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Santos…..
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EMOR
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Diz….
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BEHAR
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No monte Sinai….
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BEHUKOTAÏ
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Os meus mandamentos…..
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LIVRO DOS
NUMEROS
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BAMIDBAR
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No deserto
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NASSÓ
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Faz o levantamento…..
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BEAALOTECHA
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Quando acenderas……..
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SHELAH LECHA
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Envias….(os exploradores)
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KORACH
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Nome dum primo do Moisés
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CHUKAT
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Eis a lei…….
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BALAK
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Nome dum rei moabita
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PINCHASS
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Nome do neto do Aarão
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MATOT
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Eis as tribos…..
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MASSÉ
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Eis as etapas…….
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LIVRO DO
DEUTERONOMIO
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DEVARIM
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Eis as palavras…..
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VAETCHANAN
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E implorei….
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EKEV
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Se guardaram….(os mandamentos)
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RÉÉ
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Ora…..
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SHOFTIM
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Juízes…..
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KI TETZÉ
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Quando sairás….
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KI TAVÓ
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Quando iras….
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NITZAVIM
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Hoje estão parados….
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VAYELECH
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E o Moisés
foi….
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AAZINU
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Escutem….
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ZOT ABERACHA
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Essa bênção…..
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INTRODUÇÃO
O homem
porá nomes a todos os animais ,aos pássaros dos céus, aos animais dos campo;
mas o homem não encontra a ajuda que lhe convém
Génesis ,II,20.
O MEU LIVRO E EU.
A Humanidade é como um navio no meio do
oceano. A bordo, os nossos sentidos apercebem-se da sua marcha :na visão do seu
rasto a sensação de movimento ….Mas é impossível ver de onde vem
nem em que direcção se dirige. Impossível saber se estamos perto do ponto de partida e
a que distância da chegada. Apenas os astros nos dão uma referência de
orientação. Felizmente o homem pôs em
marcha os instrumentos que o ajudariam a situar-se no espaço. O homem superou a
sua fragilidade face à natureza. Mas a humanidade ainda não conseguiu ter um sucesso
definido no domínio espiritual.
Ao
escrever este livro de considerações gerais, pretendo ser fiel à tradição de Israel. Esta tradição
constitui um vector importante na história humana. Mas, pretendi apesar de
tudo, procurar uma aproximação pessoal. Pretendi, também, transcrever a visão dos problemas deste mundo
na compreensão dos problemas da humanidade visto que se alguma finalidade
existe, o objectivo não pode ser esperado senão
pela acção do homem. Não é fácil a abordagem de temas tão debatidos que
agitam o homem desde sempre e que encontro inscritos na Tora. Estes temas tinham
sido retomados, analisados, comentados e codificados nos mínimos detalhes, entre
outros, pelos sábios de Israel. Quis, portanto, a partir deste livro , inserir
a minha proximidade pessoal com a tradição, ao contexto evolutivo do nosso
mundo, onde gerações sucessivas tendem a
ignorar ou rejeitar as verdades admitidas por gerações passadas. As novas vagas
humanas procurarão um tipo de leitura cada vez mais sofisticado e informativo.
No entanto, o velho saber, poder-se-á sentir não raras vezes como que assaltado. O meu desejo de autor
seria que a visão mais interior segundo a qual esta obra está escrita fique
impregnada do ensinamento dos sábios de Israel, eu, que não procuro que seja
uma obra apenas singular, mas que respeite em absoluto o cânone dos valores do
judaísmo.
É também
por honestidade face a meus filhos, aos quais peço para continuarem fiéis a uma tradição exigente ao
mesmo tempo guardando a grande abertura de espírito que lhes permitirá sentirem-se
integrados no mundo que os rodeia, que também
me comprometi a esta finalidade. Ela
é necessária, se não quisermos ficar reduzidos a impositores da Torah como um conjunto de regras misteriosas que
não saberemos explicar, dissimulando nos discursos o que não conseguimos
transpor pela prática na vida corrente.
Ora, existem na Torah inúmeras passagens
incompreensíveis à primeira leitura, vozes chocantes. E, se tivermos a
convicção, enriquecida pela experiência, que a Torah é uma “árvore de vida” ou
seja, um mecanismo que explica os
fundamentos dela, se, se tiver a
convicção que se deverá encontrar o seu percurso de vida e uma certa compreensão
na mesma Torah, então, não poderá haver nenhum à parte ou lugar escondido para
estes factores, porque, se assim pôr,
haverá lugares escondidos na própria vida. É preciso que tudo seja
apresentável, as cartas abertas sobre a mesa.
A educação que falta a estes princípios, não poderá ser senão uma
educação fracassada. O obscurantismo e os desvios que não cessam de se repetirem
na história não têm sido que uma falha da qualidade do sistema
educativo. O povo judeu “povo do Livro” tem
sempre tirado a força da sua vantagem intelectual, naquilo que foi, e lhe
dá o hábito, do trabalho dos textos. Conservemos pelo menos esta aquisição .
Como
testemunha formal desta intenção e por prova de respeito face à tradição, optei
por conservar o recorte rabínico das leituras semanais da Torah para estruturar
os capítulos desta escrita. Esta aproximação não será absolutamente necessária
à discussão dos temas abordados, mas pareceu-me importante fazê-lo desta
maneira para afirmar o reatamento das minhas ideias à palavra da Torah. Este
método permite-me testemunhar na passagem, que ela permaneça um livro ordenado
na sua mensagem, o que não será muito evidente numa primeira leitura.
A
cultura na qual fui alimentado levou-me a desenvolver uma visão filosófica a partir de bases
tradicionais de ensinamento judaico, e uma visão social a partir das bases da
vida comunitária .De resto, tenho encontrado na Tora as graças de uma compreensão
que tenho integrado à minha própria verdade. O conjunto destas cintilações de
conhecimento que cada um pode adquirir e devolver, constitui a base da nossa
humanidade. O que se apresenta como uma especificidade do homem, é que o saber
se deposita, se transmite, se acumula, se actualiza, e por fim, constitui a
base da aprendizagem daqueles que farão evoluir o conhecimento. A tradição
judaica pede que se esteja muito atento
à citação das suas fontes a fim de assegurar a continuidade da mensagem à modernidade
do discurso.
A TORAH
A Torah
é o guia dos judeus, sendo em simultâneo a sua constituição e referência quotidiana. Tal constituição, e
porque o povo judeu é muito diversificado e disperso, é a própria Torah que lhe
constitui o cimento da sua unidade. No que respeita ao quotidiano,
os comentadores têm tirado dela as decisões que determinam os actos dos
judeus. Mas, é sobretudo no nível filosófico uma chave para a compreensão do
mundo na sua integridade sistemática, se para tanto podermos chegar a esta
compreensão. A convicção face à verdade
que ela contém, é tanta, e tem permanecido
tão enraizada, que fez florescer nos
seus ouvintes de espírito pouco esclarecido ou malsão, todas as formas de
exagero: a cabala que é um método de estudo dos textos tem sido tomada por uma
espécie de bruxaria, outros a têm procurado pelas fórmulas mágicas para transformação dos metais em ouro, e, mais
recentemente, tem-se continuado a procurar os mistérios ocultos com a ajuda dos
computadores analisando as sequências das letras do texto da Torah. Isto não é, claro, uma perspectiva muito séria,
dado que os tesouros de filosofia que esta contém no nível mais simples de uma
leitura atenta, são já por si suficientes. E, é com uma certa mágoa que é
preciso constatar que uma vez que nos apercebemos da existência destes tesouros
intelectuais, a imagem que deixa a Torah
é muitas vezes imprecisa, quando não,
totalmente errónea .
O facto
que tenha sido a Bíblia o livro mais lido do mundo é em si significativo. Não é
possível analisar este facto, apenas e só, à conta da lavagem do cérebro dos
fiéis pelos teólogos judeus e cristãos. Existe uma interrogação para tal facto,
interrogação, que nem as exposições cientificas, nem os estudos filosóficos satisfazem; durante muito tempo as aberturas em direcção a
outros tipos de publicações não existiam. Hoje, a grande variedade de
literatura proposta, seja através dos circuitos clássicos de edição, seja pela
Internet, não deixa muito tempo de horas
vagas para uma leitura em profundidade da Torah nem para o texto de base e seus
comentários. Ler com atenção quase se torna uma afronta pelo tempo que
poderíamos consagrar a outras prioridades e isto concorre também para o afastamento ou a distorção do
conhecimento de muitos veículos do saber. Ao
factor da falta de disponibilidade para a mensagem sobrepõe-se uma
ausência de interesse face à mesma.
Hoje, a aproximação de todos os elementos da actualidade põe-se noutros termos. O público tem expectativas
diferentes, as leituras ao primeiro nível não são mais possíveis. Face às
questões da actualidade esperamos rápidas respostas mesmo questionando a
complexidade. O modo documental, a forma afirmativa, não resistem à necessidade da especulação subjectiva.
E,
apesar disso, há questões que são eternas, que ficam sem resposta definida. A maneira como a Torah
responde é muitas vezes difícil de
descodificar. Diante de um texto tão árduo, muitas reacções são possíveis.
Podemos não insistir, pôr este livro de parte. É o que se passa na maior parte
das vezes. Podemos tentar lê-lo mais em profundidade. Mas, esta procura exige
um esforço intelectual particular. Existe um pudor natural que consiste em
passar o olhar rapidamente sobre as passagens incompreensíveis à primeira
vista, eventualmente contraditórias ou chocantes . Ora, os assuntos
difíceis abundam na Torah. Uma contradição de ordem geral se
nos apresenta nesta primeira abordagem: o que caracteriza o judaísmo de todos
os tempos é o seu grande amor pela vida e pelos homens. Por isso, ficamos
muitas vezes chocados a justo
título, diante dos textos que parecem ir
contra esta atitude. Há sem dúvida um
grande esforço de compreensão para conciliar tais factores.
Quanto
a mim, nunca pretendi abandonar as minhas pesquisas sobre este assunto.
Primeiramente porque um livro que tanto marcou a humanidade não pode ser posto
de lado, pois creio que deverá haver uma maneira de ler a Torah que desafie o
tempo. Creio também, que não será possível apropriarmo-nos deste texto levando-o à letra .Esta teria
sido a atitude dos sábios de Israel, mesmo daqueles mais ferozmente vinculados
à mensagem. Contradições aparentes que é preciso saber gerir. Mas, sendo
incontornável interpretar, existe um acordo de todos os sábios sobre a
necessidade de ir sempre ao texto de base. Não se saberia nunca substitui-lo
por outras interpretações por mais interessantes que fossem .Feitas para
facilitar a compreensão, as interpretações têm introduzido na mensagem os cânones
de pensamento da época, fazendo com que assim se vá perdendo a sua intemporalidade. É por isso que a tradição
exige uma retransmissão original, integral. De seguida o comentário poderá e
deverá abrir voz às interpretações,
necessária à compreensão, e adesão, de um maior número .
O HOMEM
O homem
tem necessidade de compreender o que o circunda bem como o de contribuir com a
sua experiência para o enriquecimento da identidade colectiva. Mal acaba de
nascer ele demarca e categoriza o seu círculo pessoal. Esta necessidade de ter
uma visão do mundo é uma característica de todo o ser humano. Em volta dele,
qual centro, tudo começa a ter um sentido, a exercer uma função em seu proveito
próprio. Mas, existe algo que não adere
bem a este simples exercício, e esse senão é exactamente ele mesmo. No
entanto, o individuo é essa máquina biológica. E, uma vez integrado no mundo ao
redor, vai ter como primeira tentativa, construir-se. O corpo humano fabrica-se
mecanicamente através da multiplicação celular agendada por programas inscritos
nas cadeias genéticas, mas o conteúdo do cérebro, esse, irá desenvolver-se
progressivamente e armazenar os efeitos das experiências que vão chegando.
Encontramos ainda uma outra característica da visão humana que é a capacidade
de gerar uma dicotomia entre o real e o imaginário. Existem as coisas, tais
quais elas são, e como são apreendidas. O homem será sempre confrontado entre
esta dupla dualidade, realidade e
interiorização, mundo material e mundo das ideias .
A
necessidade de se compreender e de construir o seu universo interior é
especifico da própria natureza humana. Depois da infância, uma questão surge
espontaneamente e a todo o instante: porquê? Esta angústia transcende as
épocas, as idades, os sexos e as
crenças. É uma necessidade primordial diante da qual somos todos iguais e à
qual ninguém escapa. É comum a todo o ser humano a percepção de que existe
nalguma parte uma fonte de verdade. A
procura desta fonte é a base da construção da personalidade que pode ser mais
ou menos longa. Alguns integram-na muito rapidamente. Para outros, a procura é
eterna. Essas cintilações das verdades apercebidas, que tentamos ligar umas nas
outras, que procuramos recuperar para as realidades da vida quotidiana, são os
fundamentos da personalidade única que nos define. E será pela avaliação do seu meio social que cada homem retirará a
forma com que irá definir a sua vida familiar, em sociedade, e nas relações
profissionais. Em suma, se construirá.
Assim,
o homem acaba por construir a sua personalidade como resultado das primeiras
impressões bem como das originais experiências. Feito isto, não só construiu o
seu universo interno, mas, e também,
todo o seu universo exterior, porque ao fim de contas, o mundo onde ele vai
viver é aquele tal qual o entendeu ou como pôde entende-lo. É o que diz a Torah quando afirma no
capítulo da criação que o homem nomeou os animais. No fim de contas é a
percepção sensorial do homem que constrói a realidade, o que de facto conta,
para aquela que ele capta . O vermelho não é uma criação em si, mas o que
resulta da apropriação de uma frequência da luz
pelo olho humano. Da mesma maneira são criadas muitas outras coisas que
não possuem nenhuma realidade física, tais como
deuses e demónios ….Se a Torah deles fala é porque o espírito humano fez
deles realidades.
Do
mesmo modo, o homem cria o mundo, criando o seu lugar nele. E, quando este
espaço está construído, ele cria em simultâneo
uma consciência de pertença face ao grupo de que se sente solidário
(pescador das horas vagas, francês ou judeu ).
As
sociedades tribais, depois feudais, e mais tarde nacionais, não só encorajaram
como dogmatizaram esta aproximação. Os sistemas educativos, quaisquer que eles
sejam, têm por vocação apresentar à criança uma visão pré –definida, e que ela
nada mais tem, do que o processar na sua memória a temática do discípulo fiel,
integrado no grupo. Direito de sangue, ou da terra, no fundo qual a diferença?
Não serão verdadeiramente nacionais de um país todos aqueles que não estejam
convencidos de o ser.
O JUDEU, HOMEM DA TORAH
Aqui
chegados, as visões do mundo podem ser diferentes partindo de um mesmo olhar. É
o que faz a riqueza da cultura judaica. Tudo se discute. Existe entre os sábios
várias tendências de conceitos
diferentes e modos de vida. O mundo, será ele um jardim construído à volta do
homem, ou, o homem, deverá curvar-se a um cenário predeterminado? Pessoalmente,
vou no sentido daqueles humanistas tradicionais(em particular o Rambam) para
quem o comportamento do homem é que determina a marcha do mundo. Mas, quaisquer
que sejam as posições da tradição, elas vêm todas de uma leitura da Torah, que,
finalmente, continua a única referência de base nunca posta em causa.
Os
sábios do judaísmo ensinam que mais alto que todos estes valores, está o estudo
do Livro. O seu estudo, encontra-se
sempre em vias de ser ensinado, esse
estudo, que será a primeira das bases: a aquisição do seu conteúdo, a programação que irá permitir a
aquisição de um certo tipo de comportamento,
a partir do qual, se construirá o estereótipo judaico. Encontramos na
história diferentes tipos de anti -semitismo que se ligam a estes dois factos: infracção pelo aspecto , infracção pelo
comportamento . O anti -semitismo «físico» traduziu-se por tentativas de eliminação
dos indivíduos da vida social. O anti-semitismo “intelectual” traduziu-se pela proibição
no que respeita ao estudo da
Torah, estando implícito em tal acto o
papel educativo da Torah.
É todavia
uma ideia forte o afirmar que o estudo é um valor em si . O que é bem admitido
em geral é a importância de estudar para o proveito que daí advém (aprende-se
direito para se ser um bom advogado, etc.). Este conceito do estudo pelo estudo
é bastante pouco reconhecido em todo o estado de coisas, não será certamente a
característica mais evidente dos dias de hoje, sobretudo, quando nos é descrito
um judeu. Tal provém, do facto que a audiência desses sábios que estudam e
ensinam a Torah, se encontrar limitada a um círculo restrito de judeus que se
interessam pelos discursos dos rabinos, o mesmo é dizer, por muito pouca gente
.
O
ensinamento dos sábios sustenta-se não somente sobre matérias teológicas, mas,
e sobretudo, sobre o comportamento e a prática das acções concretas. Partindo
do princípio de que um conhecimento que não tem sustentação prática visa à
desaparição, os sábios sublinham a importância de um ritual muito preciso, não somente ao nível da atitude “religiosa”mas
também face ao mínimo dos actos da vida corrente. Estes sábios foram muitas
vezes levados a reflectir incessantemente, da relação entre gesto e pensamento,
para modelar o comportamento em função de princípios morais.
Por
este facto, a imagem destes sábios, e
destes estudantes, salta aos olhos do seu meio como ridiculamente rígida e
conservadora . Esta atitude será mesmo perigosa se, por desacordo na maior
parte do tempo, para com as normas do meio ambiente, o judeu for olhado, qual
ser maligno (no sentido literal)pelas sociedades, onde a estabilidade é baseada
sobre a obediência a uma norma única (a constituição). Por tal factor foi o
“judeu” compreendido como uma “nação” à parte (os fenómenos de emancipação são
muito recentes diante da história e comportam germens de cisão ). E, rapidamente,
a atitude é rejeitar, antes mesmo de discutir-se, os valores nela veiculados.
Do lado
judaico esta problemática não passa despercebida. Quando falamos dos alunos de
Rabi Aquiba, que eles estão mortos por não terem podido estudar bastante,
ninguém quer levar esta afirmação à letra. Pois, talvez haja aqui a indicação
que a maneira de compreender a Torah não
foi efectivamente suficiente. Podemos
sempre e apesar disso, perguntar-nos se os estudantes que não participam na
evolução de seu conjunto ocuparão bem o seu lugar .É dito no decálogo: ”tu não
pronunciarás meu nome em vão”. Aquele a quem se atribui uma certa postura face
aos outros deverá assumir a defesa do seu comportamento .
O
ensino do judaísmo através do estudo dos sábios só pode reunir uma audiência
mínima. Portanto, caracteriza um pensamento e códigos de vida que são um
modelo, consciente ou inconscientemente, da aventura humana durante muitos milénios.
Uma das dificuldades é encontrar a expressão de uma análise correcta.
O labor dos sábios das gerações passadas tem sido considerável mas está
inscrito no seu contexto. A tradução numa linguagem aceitável, hoje, é árdua. A
tradução literal do texto da Torah faz referência a uma apresentação muito
antropomórfica do mundo. É preciso saber abstrair-se (sem todavia eliminar esta
referência de base) de maneira a que se perceba das indicações subjacentes. Mas
todos nós temos tendência para lermos as narrações a partir de uma forte
percepção pessoal o que limita a tomada de consciência das mensagens duma
Torah, que afinal, é de todos os tempos.
Compreender a mensagem é como encontrar
a letra roubada de Edgar A. Poe. A ideia está lá mas nós nem sempre a vemos. O propósito das
páginas que se seguem é trazer uma certa visão pessoal a partir de algumas
passagens desta mesma Torah.