Inês Pedrosa, escritora e jornalista, fala sobre
o novo Acordo Ortográfico,
esperando continuar a escrever
segundo a antiga grafia
É contra a aplicação do novo Acordo Ortográfico?
Inês Pedrosa – A minha discordância profunda deve-se ao facto de aquilo que o move, que é uma suposta unificação ortográfica, na verdade não se verificar. É uma coisa ignorante. No termo ‘recepção’, por exemplo, à luz do novo acordo perde-se o ‘p’, mas os brasileiros mantêm--no porque o lêem.
Falha, portanto, o seu principal objectivo...
– Sim. Gastou-se muito tempo e dinheiro para um acordo que não funciona. E era preciso contabilizar isso... Há palavras que perdem a referência ao latim, algo que nos permitia perceber a etimologia. O novo acordo é, no fundo, completamente inútil.
Mas vai agora ser aplicado nas escolas.
– Sim. Os alunos vão aprender a nova ortografia, e o que vai acontecer é que se vai deitar livros fora e as pessoas vão deixar de saber escrever. Li o texto do acordo e posso dizer que dificulta a compreensão da língua.
Está habituada a ler à luz das novas regras?
– Não perturba a leitura. Há diferenças. Tenho lido jornais que seguem o novo acordo, mas há um empobrecimento da língua.
Correio da Manhã, de hoje